Os eleitores de direita desapareceram?


Mesmo com todas estas ressalvas, é preciso assumirmos frontalmente que as eleições europeias foram um enorme cartão amarelo à direita e importa tentarmos perceber quais os motivos que levaram os eleitores a optarem por votar noutros partidos.


Saiu ontem uma nova sondagem para as legislativas, desta feita da Pitagórica, completamente arrasadora para a direita. Este estudo dá o PS com 40% de intenções de voto e a 2% de ter o dobro das intenções de voto do PSD. O CDS aparece com um resultado ainda mais baixo do que obteve nas europeias e a Aliança com apenas 1,2%. Segundo a empresa de sondagens, a mesma foi feita ainda antes da derrota da direita nas europeias, o que pode levar-nos a pensar que nos dias de hoje, tendo em conta a desilusão de domingo, os resultados podem ser ainda mais desastrosos.

Se somarmos as intenções de voto de todos os partidos de direita, segundo esta sondagem, o valor que atingimos é de apenas 28,9%. Ou seja, menos de um terço do eleitorado. No entanto, há vários aspetos a ter em conta. Antes do mais, o facto de este estudo apontar para 16,8% de indecisos, depois o facto de, por exemplo no distrito de Lisboa, a votação do Basta nas europeias permitir a eleição de pelo menos um deputado, embora não figure na sondagem e exista ainda um histórico que nos diz que por norma, em legislativas, o CDS costuma obter resultados melhores do que as sondagens.

Mesmo com todas estas ressalvas, é preciso assumirmos frontalmente que as eleições europeias foram um enorme cartão amarelo à direita e importa tentarmos perceber quais os motivos que levaram os eleitores a optarem por votar noutros partidos. A tentação óbvia quando se faz esta análise é levarmos a narrativa para o lado ideológico: é óbvio e notório que PSD e CDS estão hoje mais ao centro do que sempre estiveram. Podendo este facto ter alguma interferência no resultado, será este o principal motivo do desaire eleitoral? Creio que não. 

Os principais partidos da direita, PSD e CDS, saíram da última legislatura fortemente desgastados pelas políticas de austeridade; paralelamente, perderam os seus líderes carismáticos e têm tido dificuldade em encontrar um discurso de oposição que agarre o eleitorado. Mas o problema é bem mais grave. Olhando hoje para estes partidos, apenas conseguimos ver rostos, ideias e formas de comunicar do passado. Na verdade, não houve uma séria e consistente renovação geracional. Agendas como a do ambiente, da transformação digital e das novas realidades do trabalho foram ignoradas e, não menos grave, a comunicação continua a ser pensada e feita como há dez anos. 

Faltam quatro meses para as legislativas e um destes meses é agosto. A Rui Rio exige-se dois desafios: listas de deputados que unam o partido, em vez de fragmentarem ainda mais o PSD; e um novo discurso que foque as políticas que o PSD tem para trazer à política nacional e que sejam realmente diferentes das ideias já defendidas pelo PS. Já a Assunção Cristas exige-se que encontre uma nova agenda mediática capaz de encontrar novos eleitorados que acham que um partido deve ser mais do que o porta-estandarte dos direitos do agricultores, pescadores e caçadores; e conseguir comunicar de forma que o CDS não se torne um partido de fação e volte a aglutinar conservadores, liberais e democratas cristãos.

Não há muitas esperanças para outubro. Mas perder com dignidade é diferente de simplesmente levar uma tareia. 

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Os eleitores de direita desapareceram?


Mesmo com todas estas ressalvas, é preciso assumirmos frontalmente que as eleições europeias foram um enorme cartão amarelo à direita e importa tentarmos perceber quais os motivos que levaram os eleitores a optarem por votar noutros partidos.


Saiu ontem uma nova sondagem para as legislativas, desta feita da Pitagórica, completamente arrasadora para a direita. Este estudo dá o PS com 40% de intenções de voto e a 2% de ter o dobro das intenções de voto do PSD. O CDS aparece com um resultado ainda mais baixo do que obteve nas europeias e a Aliança com apenas 1,2%. Segundo a empresa de sondagens, a mesma foi feita ainda antes da derrota da direita nas europeias, o que pode levar-nos a pensar que nos dias de hoje, tendo em conta a desilusão de domingo, os resultados podem ser ainda mais desastrosos.

Se somarmos as intenções de voto de todos os partidos de direita, segundo esta sondagem, o valor que atingimos é de apenas 28,9%. Ou seja, menos de um terço do eleitorado. No entanto, há vários aspetos a ter em conta. Antes do mais, o facto de este estudo apontar para 16,8% de indecisos, depois o facto de, por exemplo no distrito de Lisboa, a votação do Basta nas europeias permitir a eleição de pelo menos um deputado, embora não figure na sondagem e exista ainda um histórico que nos diz que por norma, em legislativas, o CDS costuma obter resultados melhores do que as sondagens.

Mesmo com todas estas ressalvas, é preciso assumirmos frontalmente que as eleições europeias foram um enorme cartão amarelo à direita e importa tentarmos perceber quais os motivos que levaram os eleitores a optarem por votar noutros partidos. A tentação óbvia quando se faz esta análise é levarmos a narrativa para o lado ideológico: é óbvio e notório que PSD e CDS estão hoje mais ao centro do que sempre estiveram. Podendo este facto ter alguma interferência no resultado, será este o principal motivo do desaire eleitoral? Creio que não. 

Os principais partidos da direita, PSD e CDS, saíram da última legislatura fortemente desgastados pelas políticas de austeridade; paralelamente, perderam os seus líderes carismáticos e têm tido dificuldade em encontrar um discurso de oposição que agarre o eleitorado. Mas o problema é bem mais grave. Olhando hoje para estes partidos, apenas conseguimos ver rostos, ideias e formas de comunicar do passado. Na verdade, não houve uma séria e consistente renovação geracional. Agendas como a do ambiente, da transformação digital e das novas realidades do trabalho foram ignoradas e, não menos grave, a comunicação continua a ser pensada e feita como há dez anos. 

Faltam quatro meses para as legislativas e um destes meses é agosto. A Rui Rio exige-se dois desafios: listas de deputados que unam o partido, em vez de fragmentarem ainda mais o PSD; e um novo discurso que foque as políticas que o PSD tem para trazer à política nacional e que sejam realmente diferentes das ideias já defendidas pelo PS. Já a Assunção Cristas exige-se que encontre uma nova agenda mediática capaz de encontrar novos eleitorados que acham que um partido deve ser mais do que o porta-estandarte dos direitos do agricultores, pescadores e caçadores; e conseguir comunicar de forma que o CDS não se torne um partido de fação e volte a aglutinar conservadores, liberais e democratas cristãos.

Não há muitas esperanças para outubro. Mas perder com dignidade é diferente de simplesmente levar uma tareia. 

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