O que é o património? Um série de filmes e de conversas à roda do cinema português

O que é o património? Um série de filmes e de conversas à roda do cinema português


Depois do anúncio da classificação de suportes matriciais do cinema português como bens de interesse nacional, e a fechar as comemorações dos seus 70 anos, a Cinemateca Portuguesa lança um olhar sobre esse mesmo património, num ciclo a percorrer várias décadas de cinema português. Não só através da exibição de algumas das obras que o…


Canção da Terra: Do tempo em que o cinema português se fazia sobretudo de comédias de equívocos, Jorge Brum do Canto fazia emergir, em 1938, uma obra a provar que o cinema português era, já aí, bem mais do que isso. Rodado na ilha de Porto Santo, na Madeira, para um retrato da verdadeira vida portuguesa, a partir de histórias de conflitos sociais e amorosos. Tido hoje como exemplo do que era o cinema independente na época, Canção da Terra será mote para uma conversa sobre os meios de produção do cinema português a juntar dois produtores de duas gerações absolutamente distintas – Luís Urbano, d’ O Som e a Fúria, e António da Cunha Telles.

O Bobo: De um dos realizadores que haveriam de marcar a viragem do século, “O Bobo”, primeira longa-metragem de José Álvaro Morais (Zéfiro, Peixe Lua e Quaresma) partiu inicialmente de uma adaptação da obra homónima de Herculano para, com o tempo, se tornar “numa reflexão sobre a obra literária e a sua representação contemporânea”. Um filme a refletir a passagem do tempo e as transformações atravessadas pela sociedade portuguesa nos primeiros anos da reconquista da democracia, “O Bobo” ficou também para a história pelo seu trabalho sonoro. Daí que conte esta sessão (5 de junho) com o seu diretor de som, Vasco Pimentel, e com o diretor de som e realizador Miguel Moraes Cabral.

Muda de Vida: De outro dos gigantes incontornáveis do cinema português, Paulo Rocha, Mudar de Vida  (de 1966, o seu segundo filme, estreado três anos  depois do inaugural Verdes Anos) traz-nos ecos desses anos da guerra colonial. A história é conhecida: a de um homem que, de regresso a Portugal, se reencontra com a aldeia onde nasceu, onde se depara com os sinais de um desejo de mudança – não apenas de vida, também de cinema, como provaria o tempo. Uma sessão (7 de junho, às 18h), que se seguirá de uma conversa entre atrizes: Beatriz Batarda e Isabel Ruth, que integrou, na altura, ao lado de Geraldo Del Rey e Maria Barroso, o elenco deste filme de Paulo Rocha.

Acto da Primavera: Para tema de conversa entre dois dos nomes maiores de uma nova geração de realizadores, João Pedro Rodrigues e Miguel Gomes, guardou a Cinemateca Portuguesa Manoel de Oliveira (do qual será também exibida a primeira curta-metragem, a fechar o ciclo), com o seu Acto da Primavera, de 1962. Equilibrado entre o registo do quotidiano e a representação do sagrado, e protagonizado pelos habitantes da aldeia da Curalha, em Trás-os-Montes, a partir de uma representação da Paixão de Cristo, um filme que a Cinemateca descreve como “determinante no património da realização do cinema portguês”.

Maria do Mar: Realizada por José Leitão de Barros, Maria do Mar é a mais antiga das obras exibidas pela Cinemateca neste ciclo em que lança um olhar sobre o legado do cinema português enquanto património. Construído à volta da história do ódio entre duas famílias na comunidade piscatória da Nazaré, depois da morte acidental de um homem às mãos de outro, Maria do Mar notabilizou-se pelo seu um trabalho de montagem, influenciado pela então vanguarda soviética (e Sergei Eisenstein). Daí que sirva esta obra de 1930 a conversa que completa a sessão (14 de junho, às 18h), entre os montadores Manuela Viegas e Pedro Marques.

Trás-os-Montes: A projeção daquela que é tida como uma das obras mais fundamentais do cinema português servirá de mote a uma conversa entre dois directores de fotografia – o veterano Acácio de Almeida (diretor de fotografia de Trás-os-Montes) e Vasco Viana, um dos nomes que mais se têm destacado entre a nova geração. Rodado em Trás-os-Montes e estreado em 1976, esta primeira longa-metragem de António Reis e Margarida Cordeiro constitui, segundo descreve a Cinemateca, “um dos mais poderosos exemplos da capacidade artesanal do cinema português, uma qualidade que o diferencia de outros patrimónios cinematográficos”.

Douro, Faina Fluvial: Exibido na sessão de encerramento do ciclo, juntamente com Uma Abelha na Chuva, de Fernando Lopes (19 de junho, às 18h) será também mostrado este Douro, Faina Fluvial. A curta documental de 20 minutos que, em 1931, inaugura o cinema daquele que viria a fazer-se o maior nome do cinema português: Manoel de Oliveira. Exibido na versão com que estreou comercialmente em 1934, com música de Luís de Freitas Branco, Douro, Faina Fluvial, servirá, juntamente com o filme de Fernando Lopes, de mote à última das conversas do ciclo, a juntar os críticos João Lopes e Ricardo Vieira Lisboa.

Uma Abelha na Chuva: Para conversar em torno de Uma Abelha na Chuva, segunda longa-metragem de Fernando Lopes, estreada em 1971 com Laura Soveral, João Guedes e Zita Duarte, dois críticos de cinema – João Lopes, do Diário de Notícias, e Ricardo Vieira Lisboa, do site À Pala de Walsh – que procurarão “discernir as ligações e tensões” entre aquilo que é o património cinematográfico e o da crítica de cinema. Depois de Belarmino (1964), Uma Abelha na Chuva é a primeira adaptação de Fernando Lopes de uma obra literária ao cinema, a partir do clássico da literatura portuguesa de Carlos de Oliveira.