Para quem confessamente como eu gosta de política, não deixa de ser curioso ainda assim considerar que o maior problema da política atual está assente no voto. Mas acalmem-se os leitores já assustados. O problema que digo estar inerente ao mesmo é a pouca importância que parece continuar a dar-se à sua descarga. Quando penso nesta temática, surge imediatamente na minha mente uma frase do diplomata e homem do direito brasileiro, Ruy Barbosa, afirmando um dia, que “quem não luta pelos seus direitos não é digno deles”. Ora a possibilidade de votar foi de há décadas a esta parte, uma das consideradas maiores conquistas da soberania de uma qualquer sociedade. Uma vitória do povo em poder ter uma voz verdadeiramente ativa nas escolhas de quem quer que o governe e dos caminhos a seguir em prol do interesse comum.
Se da abstração passarmos para o concreto, Portugal, por ser uma das mais recentes democracias do mundo, não deveria estar já tão esquecido do quão importante é o direito ao voto. Confesso que nunca consegui compreender para que é que as pessoas tanto apregoam e anseiam direitos atrás de direitos e, depois, quando os mesmos são consagrados e colocados ao seu dispor, pura simplesmente acabam por se alhear. O voto é o direito que arrisco dizer, menos é respeitado pela esmagadora maioria das sociedades modernas. Na nossa, pelas elevadíssimas taxas de abstenção que eleição atrás de eleição se fazem sentir, mais legitimidade julgo ter em afirmá-lo. Talvez por isso, pelo menos a mim, a citação antes apresentada, com tristeza pessoal, me faça ainda assim o maior sentido. Com isto não estou naturalmente a criticar quem se encontra descrente com a realidade política nacional e internacional; não critico quem olhe para os políticos e os considere a todos uns vendedores de banha da cobra; não critico quem olhe para os partidos e os considere igualmente, grandes ou pequenos, mais do mesmo e, muito menos quem sinta, porque a dureza do dia-a-dia nos faz a todos senti-lo na pele, que mais vale não votar porque depois os candidatos, uma vez eleitos, parecem perder a noção da vida real e das reais dificuldades dos seus eleitores. Há de facto razões mais que muitas para se poder pensar qualquer uma destas hipóteses ou todas elas cumulativamente. Porém, ao contrário do que ouço tantas vezes dizer, não é ficando em casa, por maior que seja o desânimo ou a descrença, que vamos enquanto sociedade ultrapassar as nossas dificuldades. A única forma de um povo partilhar comummente do seu destino é, uma vez perante eleições, votar. E o votar não pode ser sequer votar em branco.
O voto só faz verdadeiramente sentido quando entregue a um rosto, quando entregue a uma política, quando entregue a uma visão governativa ou representativa concreta. Domingo, realizam-se as eleições europeias e, humildemente, permitam-me hoje, neste espaço de opinião que me é permitido ter todas as semanas, apelar ao voto. Seja no partido ou no candidato que for, mas votem. O que agora escreverei pode ser altamente discutível, mas quem não vota ou por e simplesmente vota em branco, os primeiros por desinteresse e, os segundos por negligência, perdem, quanto a mim, a legitimidade em queixar-se do que quer que seja. Pior, perdem o poder de exigir a quem os governa ou representa seja o que for. Não nos alheemos do nosso futuro. Este fim de semana, há que votar.
Escreve à sexta-feira