Foi com sala cheia que a segunda apresentação do projeto Portugália Plaza decorreu ontem, ao fim da tarde, no Mercado do Forno do Tijolo. O espaço maior permitiu acolher mais pessoas, mas as críticas não diferiram muito das ouvidas na primeira sessão: os lisboetas estão preocupados com o impacto que uma torre de mais de 60 metros de altura poderá ter na zona.
Coube a Margarida Martins, presidente da Junta de Freguesia de Arroios, abrir o encontro. A responsável defendeu o “direito à participação” como basilar na democracia e prometeu “estar atenta” a todas as intervenções, lembrando que o projeto estará em debate público até 18 de junho. Seguiu-se-lhe o arquiteto Eduardo Campelo – chefe da Divisão do Planeamento de Território da Câmara Municipal de Lisboa (CML) -, que contextualizou o processo ao lembrar que o projeto em causa foi feito já sobre outro, aprovado, e que também este recebeu um parecer positivo dos serviços camarários. Sublinhou, ainda assim, que a decisão final ainda não está tomada: sê-lo-á depois da discussão pública, “em sessão de câmara”.
As apresentações foram muito idênticas às da primeira sessão, de José Gil – o representante da promotora Essentia – e do arquiteto Nuno Mateus, da ARX, que referiu que o objetivo é “desenvolver o projeto em duas fases”: em primeiro lugar, a parcela norte, que está em discussão, e depois a parcela sul, que é “independente”. No entanto, a sessão contou com uma novidade em relação à anterior: o arquiteto paisagista José Veloso debruçou-se sobre o peso que elementos como a água e a natureza – com jardins verticais e no topo dos edifícios – assumem no projeto que, com as suas praças, se distingue do urbanismo da zona. Seguiu-se nova intervenção de Nuno Mateus, que 1h20 depois do início da apresentação foi interrompido por uma das presentes no público, que se dirigiu à mesa indignada pela demora da exposição. Pouco depois, o microfone foi passado à audiência e a discórdia tomou conta da sala.
O primeiro interveniente, que comprou uma casa no quarteirão em frente, lamentou a sombra que o edifício de 16 andares irá fazer nos prédios vizinhos. “Acho que aquela torre de 16 andares não entra na cabeça de ninguém”, defendeu, atribuindo a construção da torre “aos interesses do promotor”. E acrescentou: “Falaram da torre como um marco para nos orientamos; bem, eu proponho que construam aqui uma também no mercado, porque não me lembrava bem onde ficava”, provocou.
Já um morador da Penha de França questionou os preços da habitação do projeto, afirmando que “não vai ajudar” os lisboetas a manterem-se na cidade. “Quanto vai a CML despender em termos de créditos para a construção da torre?”.
Outra interveniente questionou quanto à realização de estudos sísmicos e freáticos. “Numa imagem da apresentação viam-se duas torres, vão abrir precedente para a construção de uma nova torre dentro de dez anos?”, lançou ainda. Em resposta, Nuno Mateus disse que coube à empresa Teixeira Duarte fazer os estudos técnicos e justificou que a imagem em questão era uma imagem de concurso.
O interveniente seguinte identificou--se como Carlos Amaral, um advogado com escritório no edifício Planasa, junto à Portugália, e lamentou não ter sido informado enquanto proprietário, ainda que o despacho da CML assim o determinasse.
Já Fernando Salvador aplaudiu o interesse “ genuíno” dos lisboetas neste projeto, defendendo ser urgente ir trabalhando desta forma uma ideia de cidade. “Este é apenas um edifício mais alto, uma torre não tem aquelas características”, defendeu.
A sessão ficou marcada por uma gestão confusa entre as intervenções do público e da mesa que acabou mesmo por levar a intervenções mais acesas: o vereador João Pedro Costa, do PSD, interrompeu a sessão para pedir à mesa que deixasse os cidadãos falar, enquanto um anónimo qualificou de “fraude” a sessão.
Foi ainda anunciada uma outra sessão, na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, mas sem data marcada.