No Dia Mundial da Biodiversidade, associação confirma que Portugal “está a viver de água que não tem”

No Dia Mundial da Biodiversidade, associação confirma que Portugal “está a viver de água que não tem”


“Cidadãos, empresas, agentes do setor agrícola e Estado devem comprometer-se com o uso sustentável da água, num país que é parcialmente afetado por escassez hídrica e onde se prevê um agravamento desta condição no futuro próximo”, apela um dos técnicos da associação em comunicado. 


A associação Natureza Portugal (ANP), representante do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) lançou um comunicado esta quarta-feira, citado pela agência Lusa, em que afirma que Portugal “está a viver de água que não tem” e onde apresenta soluções para combater o problema.

A conservação dos ecossistemas aquáticos, a reabilitação de outros que se encontram esquecidos e degradados e o fim do financiamento de novos regadios em zonas de escassez são algumas das iniciativas que a associação sugere.

"Cidadãos, empresas, agentes do setor agrícola e Estado devem comprometer-se com o uso sustentável da água, num país que é parcialmente afetado por escassez hídrica e onde se prevê um agravamento desta condição no futuro próximo. A mitigação dos impactos das secas e da escassez hídrica em Portugal combate-se através de medidas responsáveis em toda a cadeia de utilização da água", apela Afonso do Ó, especialista em Água e Alimentação na ANP/WWF, no comunicado da associação.

Para poder alcançar um período melhor, a ANP dá algumas sugestões às empresas e cidadãos para combater a situação atual. A associação defende que as empresas devem participar em projetos e iniciativas de pagamento de serviços dos ecossistemas e na integração da gestão da água na sua cadeia de valor. É também importante que as empresas assumam um compromisso com o risco hídrico da atividade e a responsabilidade pela sua utilização tanto nos planos social como ambiental.

Os cidadãos devem reduzir os consumos domésticos através da compra de um eletrodoméstico mais eficiente ou através de uma utilização mais curta deste, reduzir a pegada hídrica e ter uma atitude mais cívica para com o ambiente, que se alcança não apenas com a denúncia da atitude daqueles que o rodeiam mas também através de uma maior pressão sobre as autoridades locais para uma alteração de comportamento.

Portugal encontra-se “parcialmente em situação de seca, devido a anos poucos chuvosos”, algo que é “agravado pelas alterações climáticas”. Segundo Afonso do Ó, no país, confunde-se 'seca' com 'escassez', algo comprovado pelas medidas governamentais tomadas nos últimos anos. Para o técnico, as medidas de reação aos impactos da seca constante não são as ideais para a situação atual. Afonso defende que medidas de prevenção teriam muito mais impacto na luta contra a falta de água.

No comunicado, um dos problemas abordados é o abuso da água na agricultura. Devido ao período pouco chuvoso que Portugal enfrenta, os agricultores temem pelas consequências na atividade. A situação de seca verifica-se mais no sul do país, segundo a associação, e traz impactos significativos ao nível da perda de rendimentos nas colheitas de outono/inverno, pastagens, dificuldades na alimentação de gado, e uma quebra prevista de 10% na área de cultivo de arroz, explica a ANP. 

A biodiversidade tem sofrido perdas significativas com a situação atual da água. Dados do Relatório Planeta Vivo 2018, da WWF, mostram que "as populações de espécies de água doce sofreram o declínio mais acentuado de todos os vertebrados nos últimos 50 anos, caindo em média 83% desde 1970" segundo Ângela Morgado, diretora executiva da ANP, em declarações à agência Lusa.