Despedidas. A falta que uma lenda faz. Ou cinco, ou seis…

Despedidas. A falta que uma lenda faz. Ou cinco, ou seis…


De Ribéry e Robben já se esperava: o Bayern tinha vindo a alimentar essa ideia nos últimos meses. Mas Xavi, Cech, Van Persie, De Rossi e muito provavelmente Casillas… já se torna complicado de digerir para um verdadeiro amante do desporto-rei.


Não é um cenário novo: a cada época, há sempre alguma lenda a dizer adeus, há sempre um pedaço de história do futebol mundial que parte e deixa os amantes da modalidade a sentir-se um bocadinho mais sós. Este fim de temporada, porém, parece estar a ser especialmente preenchido nesse sentido – e as emoções vão começando a vir à flor da pele mais e mais a cada dia que passa.

O principal culpado é o Bayern Munique. O gigante alemão foi deixando a entender, com o decorrer da temporada, que se preparava para proceder a uma revolução no plantel tendo em vista o rejuvenescimento da equipa, e desde logo se percebeu que Ribéry e Robben seriam dois dos sacrificados. Não estamos a falar de homens de um clube só, é certo – o francês representou US Boulogne, Olympique Alès, Brest, Metz, Galatasaray e Marselha até chegar, em 2007/08, ao Bayern, enquanto o holandês passou por Groningen, PSV Eindhoven, Chelsea e Real Madrid antes de assinar pelos bávaros, em 2009/10 –, mas quase: Ribéry soma 12 temporadas em Munique; Robben, dez.

“Vir para Munique foi a melhor decisão da minha carreira. Dez anos é muito tempo, mas é bom sinal quando passam tão rápido. Foi muito especial. Diverti-me e fui feliz aqui”, assumiu o holandês, de 35 anos, depois de 307 jogos, 143 golos e 101 assistências – além de sete campeonatos (que se podem transformar em oito este fim de semana), quatro Taças (que também podem subir para cinco, pois o Bayern irá disputar a final desta edição com o RB Leipzig), cinco Supertaças, uma Liga dos Campeões e uma Supertaça Europeia.

No horizonte de Robben – esta época fustigado por lesões, que lhe permitiram fazer apenas 17 jogos (com cinco golos) – está mesmo o adeus total aos relvados, tal como acontece com Ribéry – que, apesar dos 36 anos, fez uma temporada de bom nível, com 36 jogos e seis golos até ao momento. “Foi um sonho tornado realidade vir para o Bayern. Não é fácil ir embora e não sei o que farei na próxima época”, confessou o internacional francês, um verdadeiro colecionador de troféus desde que chegou a Munique: oito campeonatos, cinco Taças, uma Taça da Liga, quatro Supertaças, uma Liga dos Campeões, uma Supertaça Europeia e um Mundial de Clubes.

Bem menos mediático, mas igualmente titulado, é o brasileiro Rafinha. Aos 33 anos, e depois de oito temporadas no Bayern, o lateral-direito também se despediu esta semana, numa conferência de imprensa bastante emotiva: o próprio Ribéry não conseguiu conter as lágrimas. Rafinha soma seis campeonatos, três Taças, quatro Supertaças, uma Liga dos Campeões, uma Supertaça Europeia e um Mundial de Clubes ao serviço do gigante bávaro. Neste caso, porém, não se põe a questão da retirada dos relvados: o internacional canarinho tem mesmo sido apontado por alguns meios de comunicação desportivos como estando na órbita… do Benfica.

Capitães de saída Mas as lágrimas não se esgotam na Baviera. Em Roma, dois anos depois do adeus a Totti, foi a vez de De Rossi anunciar a despedida. Não dos relvados, como fez questão de frisar bem o médio de 35 anos: “Ainda me sinto futebolista e quero continuar a jogar. Propuseram-me o cargo de diretor-desportivo: se eu fosse o diretor-desportivo da Roma neste momento, renovaria o contrato comigo, porque entendo que ainda estou a um nível bom”.

Chegado ao clube da capital italiana com 18 anos, De Rossi nunca conheceu outra equipa a nível sénior. São 18 temporadas, 615 jogos, 63 golos e 54 assistências, com duas Taças e uma Supertaça de Itália no palmarés – além do Mundial 2006 com a seleção italiana.

Também o Chelsea e o Manchester United veem partir – ou deixam ir, neste caso – jogadores que marcaram uma era nos dois clubes. Gary Cahill, central internacional inglês de 33 anos e herdeiro da braçadeira de John Terry, deixa os blues após oito temporadas (290 jogos) e sete troféus, entre os quais dois campeonatos, uma Liga dos Campeões e uma Liga Europa – que podem ser duas, caso o Chelsea vença a final desta edição frente ao Arsenal. Nos red devils, é o equatoriano Antonio Valencia, também ele capitão (e também com 33 anos), a ir embora, depois de dez temporadas (339 jogos) e nove troféus, onde se destacam dois campeonatos e uma Liga Europa.

Mas haverá mesmo craques a pendurar as botas. Como Xavi, que aos 39 anos, e depois de uma carreira recheada de glória no Barcelona e na seleção espanhola passou as últimas quatro temporadas a capitanear o Al-Sadd, do Catar, e treinado por Jesualdo Ferreira, a quem irá suceder no banco na próxima temporada. Ou Petr Cech e o seu capacete: o guardião checo de 36 anos, titular indiscutível durante uma década no Chelsea, irá fazer o último jogo… frente ao Chelsea, na final da Liga Europa e ao serviço do Arsenal, que representou nas últimas quatro temporadas.

Outro ícone da Premier League, no caso pelas passagens por Arsenal e Manchester United, deu os últimos pontapés como profissional no passado fim de semana ao serviço do clube onde tinha iniciado a carreira, o Feyenoord: Robin Van Persie, de 35 anos. Há ainda Andrea Barzagli, o central italiano de 38 anos que se retira após oito épocas e meia na Juventus… e muito provavelmente Iker Casillas: o guardião do FC Porto, de 37 anos, contava jogar até aos 40, mas o coração ter-lhe-á mostrado, no passado dia 1, que talvez seja altura de parar. O futebol chora, mas agradece, porque afinal há muito a viver para lá dos relvados.