2 de janeiro de 2019, jornada 15 do campeonato português: um Benfica ressacado perde em Portimão de uma forma no mínimo invulgar, com dois autogolos – um de cada defesa central (Rúben Dias e Jardel) –, e a dor de cabeça dos benfiquistas deixa de ser atribuída apenas aos possíveis excessos cometidos na noite da passagem de ano.
À entrada da segunda volta da Liga, a águia surge no quarto lugar na tabela, a sete (!!!) pontos do líder e atual campeão nacional FC Porto. Escrevia-se por essa altura que nunca os encarnados tinham recuperado de uma desvantagem destas e Rui Vitória, que muito recentemente tinha merecido novo voto de confiança do presidente Luís Filipe Vieira, voltava a ser alvo de contestação. Desta vez, o líder das águias já não deu cobertura ao treinador, aceitando o pedido deste para colocar o lugar à disposição.
A situação parecia complicada de gerir num momento em que todos os benfiquistas queriam ter a resposta a uma só pergunta: quem é que se segue?
Vários nomes foram surgindo na imprensa nos dias seguintes à confirmação deste adeus, com especial destaque para um possível regresso de Jorge Jesus, ou de… José Mourinho.
Enquanto os adeptos encarnados iam discutindo os prós e os contras das hipóteses que eram avançadas, eis que surge um nome. Bruno Lage. À data treinador da equipa B do Benfica, a escolha impôs-se como uma solução óbvia por parte da direção, que assim ganhava tempo para tentar uma manobra mais arrojada.
Ciclo: acabar como começou
É aparentemente neste vai-não-vai que Bruno Lage é então anunciado como o novo técnico interino das águias. Coincidentemente os dois primeiros desafios que assumiu foram contra o Rio Ave e o Santa Clara – a contar para a jornada 16 e 17 da Liga, respetivamente –, os dois últimos adversários dos encarnados antes de encerrarem a época 2018/19.
O resto já se sabe: dois jogos, duas vitórias, uma goleada e… nova atualização para a nação benfiquista.
Não é o Special One, mas também é natural de Setúbal, e perfila-se cada vez mais como a aposta certa para ir ao encontro do que o dirigente encarnado pretende para o clube – a aposta na formação, terreno no qual o técnico do Seixal estava obviamente familiarizado.
Estamos, por esta altura, a 14 de janeiro, e Bruno Lage deixa o estatuto de interino, passando a ser técnico definitivo da equipa principal do clube da Luz.
“Contrariamente ao que divulgaram, o Benfica nunca contactou com nenhum empresário ou treinador. Ninguém poderá dizer que o Benfica contactou ‘A’, ‘B’ ou ‘C’, não sei quem criou essa história. A história hoje é dizer que a primeira opção é o Bruno Lage”, garantia então o líder máximo dos encarnados. “Trata-se de um homem ponderado, que conhece bem a nossa casa, toda a formação do Benfica, sabe os objetivos que temos e é dentro desse espírito que queremos pensar”, esclareceu Luís Filipe Vieira.
O técnico assumia assim o seu segundo desafio enquanto treinador principal, mas a sua primeira experiência na primeira divisão do futebol nacional. Antes, esteve seis meses no comando técnico da B dos encarnados, e foi, também durante cerca de meio ano, treinador adjunto no Swansea City, da Liga inglesa e, ainda antes, do Sheffield Wednesday, do Championship [2.ª divisão inglesa], sempre ao lado de Carlos Carvalhal.
A escalada
Agora a um ponto de o Benfica sagrar-se campeão, de notar o percurso exímio de Bruno Lage na prova: em 18 jornadas, os encarnados só perderam dois pontos (em 54 disputados). Só o empate com o Belenenses, SAD (2-2) rouba a oportunidade de dizer-se que o caminho do técnico setubalense no campeonato foi 100% vitorioso. Neste percurso, destaque para as vitórias diante do Sporting e do FC Porto, em Alvalade e no Dragão, e ainda para a goleada histórica ante o Nacional, na Luz (10-0).
No domingo, Lage fez 43 anos, mas nem quis ouvir falar de festa. Espera, porém, vir a celebrar com o presente desejado. Por enquanto não há euforias. Mas o técnico sabe que está cada vez mais perto de confirmar que, por vezes, a chave do sucesso é a da própria casa.