Sou liberal, e ao longo dos últimos anos, nesta coluna, defendi muitas vezes que não precisamos de um Estado tão balofo, corporativista e clientelista. Não mudo uma vírgula do que sempre defendi. No entanto, se os impostos que pagamos servem para alguma coisa, deveria ser, antes do mais, para garantir que os mais doentes, os mais frágeis e os mais desprotegidos gozam da proteção da sociedade.
A saúde de quem menos tem, a justiça e a segurança deviam ser os polos basilares do papel do Estado – tudo o resto atrapalha mais do que acrescenta e só serve para tirar o foco e os recursos àquelas que deviam ser as missões primordiais de quem nos governa. Quem não tem dinheiro não pode ter vícios.
Deixar alguém morrer de cancro, negar análises ou tratamentos, colocar pessoas com a saúde fragilizada em listas de espera não é digno de um país que se deveria querer humanista. Preferia mil vezes retirar todos os cêntimos do Orçamento do Estado ao folclore de pão e circo com que as autarquias nos brindam todos os verões, dos vencimentos dos políticos (querem fazer algo pela sociedade, façam-no de borla) e dos ordenados de funcionários públicos que fecham os serviços às 16h00 do que viver num país que permite que situações como estas aconteçam mesmo nas nossas barbas.
Não é novidade para ninguém que não há dinheiro. Somos o retrato daquela tia que se acha rica, que se comporta como rica, que se orgulha de conhecer os ricos e de os filhos namorarem com os filhos dos outros supostos ricos; mas que depois não tem dinheiro para as coisas mais básicas. Somos um país que compra caixas de espumante, mas não tem dinheiro para soro e compressas, que estoura dinheiro em foie gras, mas não investe em cuidados de saúde básicos.
O problema é que a tia supostamente rica é livre de se comportar assim e, depois, de arcar com as consequências. Por outro lado, nós somos obrigados a ser governados por tios que se acham ricos e que o fazem com o dinheiro dos nossos impostos, retirando do essencial para investir no acessório. Quando isto der para o torto, eles vão novamente assobiar para o lado e nós receberemos outra fatura da sua irresponsabilidade. Haverá novamente grandes comícios, enormes manifestações e, como diz o povo, mudarão as moscas e a merda continuará a ser a mesma. Porque a memória é curta e o nosso individualismo só nos permite continuarmos focados no nosso umbigo.
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