Domingo, 12 de maio de 2019, 22h00. Pode ser esta, sensivelmente, a data e hora a que se encontrará o vencedor da 85.ª edição da I Liga portuguesa de futebol. As contas são mais ou menos simples: o Benfica vence o 37.º título do seu historial caso saia vencedor do embate ante o Rio Ave, em Vila do Conde, e veja o FC Porto tropeçar na visita à Choupana, casa do aflito Nacional da Madeira – um encontro, refira-se, que começa logo às 17h30, razão pela qual os encarnados já saberão com o que contar quando entrarem em campo no Estádio dos Arcos.
Ora, se as contas parecem fáceis de fazer, a tarefa das águias… não o será tanto – em teoria, claro está. Basta olhar para o histórico do Benfica no terreno do Rio Ave para perceber as imensas dificuldades que os encarnados costumam encontrar para os lados dos Arcos. E, não bastasse a história, não se pode desprezar também outro dado mais atual: é que o Rio Ave, depois de um período de agonia, está a viver uma das melhores fases da temporada, com dez pontos nos últimos quatro jogos – um dos quais o empate ante o FC Porto no mesmo recinto – e voltou a acreditar na possibilidade de chegar a um lugar europeu: está a quatro pontos do Vitória de Guimarães, atual sexto classificado, posição que pode valer o acesso à Europa caso se venha a confirmar que o Moreirense não apresentou a requerida pré-inscrição para as competições europeias – isto, se os cónegos terminarem em quinto, claro, pois ainda podem ser ultrapassados pelos vimaranenses.
Jiménez, herói a dobrar
Nem é preciso recuar muito: ainda na época passada, o Benfica de Rui Vitória deixou dois pontos em Vila do Conde, num encontro disputado logo na quarta jornada (1-1) onde até esteve a perder: Lisandro López fez autogolo aos 61’, Jonas empatou aos 67’ de penálti.
Até então, o Estádio dos Arcos havia sido uma espécie de talismã para Vitória. Nas duas temporadas anteriores, foi ali, numa fase já bem avançada da prova (jornada 31 em 2015/16 e jornada 32 em 2016/17), que o Benfica deu passos decisivos para a conquista dos dois campeonatos, com vitórias pelo mesmo resultado (0-1) e com o mesmo jogador a marcar já perto do fim (73’ e 75’) nos dois jogos: o mexicano Raúl Jiménez, hoje a brilhar na Premier League, no Wolverhampton de Nuno Espírito Santo.
Para encontrar o último desaire do Benfica em casa do Rio Ave também não é preciso procurar assim tanto: aconteceu há quatro anos, na última época de Jorge Jesus ao leme das águias (2-1), com Ukra, de penálti (73’) e Del Valle, num contra-ataque rápido em cima do apito final (90’+5’), a anularem o golo madrugador de Salvio (5’). A época ia um pouco menos adiantada (26.ª jornada), mas ainda assim o tropeção podia ter causado bastante mossa na corrida encarnada, então rumo ao bicampeonato – o Benfica havia entrado para essa ronda com quatro pontos de vantagem sobre o FC Porto. Não aconteceu porque os dragões, então comandado por Julen Lopetegui, entravam pouco depois em campo e acabariam igualmente por deslizar (no caso, com um empate a uma bola)… frente ao Nacional, na Choupana. Curioso, não é?
Dez anos antes, cenário muito semelhante e quase na mesma altura da época (28.ª ronda). O Benfica de Giovanni Trapattoni seguia na frente do campeonato com seis pontos de vantagem sobre Sporting, Braga e FC Porto e caiu em Vila do Conde, mercê de um golo apontado no minuto 90. O seu autor? O lateral-esquerdo Miguelito, que duas épocas depois viria a trocar o Nacional… pelos encarnados.
“O Benfica estava a lutar para ser campeão e foi um desalento bem grande para os seus jogadores. Foi um contra-ataque aos 90 minutos, o meu colega Saulo arrancou pelo lado direito e eu apercebi-me que não estava ninguém, nem do Benfica, nem do Rio Ave, a entrar pela esquerda. Ainda tinha uma réstia de força, corri até à baliza e marquei”, lembra ao i o esquerdino natural da Póvoa de Varzim, numa memória imaculada, frisando ainda que, apesar desse desaire, as águias acabariam mesmo por vencer o campeonato.
Em relação à partida deste domingo, Miguelito – hoje com 38 anos e a trabalhar numa empresa de agenciamento de jogadores, depois de uma carreira feita ainda no Braga, Marítimo, Belenenses, Vitória de Setúbal, Moreirense, Chaves e Tirsense, com passagem nos cipriotas do Apollon Limassol – não arrisca um prognóstico, embora acredite que o Benfica terá pela frente uma tarefa “bastante difícil”. “É a penúltima jornada, num campo muito complicado e com o Rio Ave ainda a pensar na Europa. É impossível fazer qualquer previsão, tudo pode acontecer”, assume o ex-jogador.
Questionado sobre o facto de a pressão de ter de ganhar poder afetar o rendimento dos jogadores encarnados, Miguelito admite que sim, mas deixa uma ressalva importante: “Pesa sempre. Os jogadores são humanos e não são imunes à pressão. Mas os jogadores que jogam nas equipas ‘grandes’ estão lá não só pela qualidade, mas também pela personalidade: têm de saber lidar com a pressão e de se habituar a ela”.
Dragão reina na choupana
Resta falar do histórico portista no reduto do Nacional, e esse é amplamente favorável aos dragões: em 18 partidas, o FC Porto venceu 13, contra três empates e apenas duas vitórias do Nacional. Vai, agora, num registo de dois triunfos consecutivos (o último dos quais uma goleada, por 4-0, em 2016/17), embora antes disso tenha somado o tal empate de 2014/15 (1-1) e uma derrota na temporada anterior (2-1). Este domingo se verá se haverá novo campeão ou se fica tudo adiado para a derradeira jornada.