Há quem diga que caiu a máscara ao Bloco de Esquerda. Mas é mentira. A máscara dos meninos do coro bolchevique, sempre disponíveis para o combate a todas as discriminações e mais algumas, defensores dos fracos e oprimidos, caiu na verdade em 2005, quando Francisco Louçã, num frente-a-frente com Paulo Portas, disse a seguinte frase: “Não me fale de vida, não tem direito a falar de vida”. Ao que reforçou: “O senhor não sabe o que é gerar uma vida. Eu tenho uma filha. Sei o que é o sorriso de uma criança”.
Afinal de contas, o preconceito não estava à direita, mas antes na persecutória esquerda radical. Uma esquerda que se diz radical nos desfiles da Avenida da Liberdade, ou entre copos e ganzas na festa da palmeira, mas que não passa de uma elite betinha, urbanizada, criada em berços de ouro, privilegiada no acesso à educação, alimentada a brunchs do Ritz e que quer liderar a revolução a partir das suas confortáveis casas nas Avenidas Novas, Alvalade ou São Bento.
Acontece que o Bloco de Esquerda tem boa imprensa, aliás, muitíssimo boa imprensa. Paralelamente, tem também uma grande falange de apoio junto de uma elite intelectual com forte presença na opinião pública. Sejam eles humoristas do prime time, cronistas, artistas, escritores, músicos e por aí adiante. Essa base de apoio, que ficou ainda mais musculada depois do advento das redes sociais, permitiu que estes tiros no pé – tal como o de Robles, ou do empreendimento turístico da Catarina Martins – fossem abafados.
Com o caso Mortágua e o seu desejo de morte ao Presidente do Brasil passou-se exatamente o mesmo. Os jornalistas e comentadores que salivam de raiva sempre que Nuno Melo defende o Vox, ou André Ventura profere uma qualquer declaração, foram os mesmos que se apressaram a fazer passar o spin bloquista.
O processo de suavização em curso não se fez esperar e, de um momento para o outro, a verborreia da esganiçada Mortágua, afinal, não passava de uma metáfora e os aplausos da empreendedora turística Catarina Martins mais não foram do que forças da circunstância. Para a História fica apenas uma conclusão: se alguém tem dúvidas sobre o que realmente excita as manas Mortágua, a resposta ficou dada e é Jair Bolsonaro.
Mas sobre todo este caso convém referir algo realmente importante: o Bloco de Esquerda nunca como hoje teve tanto poder. Seja no Governo, na Câmara Municipal de Lisboa e, como já referido, nos órgãos de comunicação social. Este poder foi conferido pelos eleitores e, principalmente, pelos influenciadores que os apoiam – e isso é absolutamente legítimo. No entanto, seria não menos importante que esta maior dose de poder fosse também acompanhada por umas colherzinhas de bom senso e humanidade. Desejar a morte a alguém é grave. Quando esse alguém foi democraticamente eleito é ainda mais grave, como é grave também o inacreditável silêncio de António Costa perante esta situação.
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