Vasco Lourenço. “Apesar de tudo, o país está melhor”

Vasco Lourenço. “Apesar de tudo, o país está melhor”


Depois da ausência durante a troika, com a geringonça os militares de Abril aceitaram voltar a participar na sessão solene do Parlamento que assinala a revolução. No balanço destes 45 anos, Lourenço destaca “os avanços no campo da justiça social”.


45 anos depois, Vasco Lourenço não hesita em responder de forma afirmativa à pergunta que já lhe colocaram centenas de vezes: valeu a pena fazer o 25 de Abril? “A democracia mantém-se e tem funcionado. Apesar de tudo, o país está melhor do que era há 45 anos”, diz ao i o presidente da Associação 25 de Abril.

Vasco Lourenço vai estar hoje nas comemorações do 25 de Abril no Parlamento, mas nem sempre foi assim. Durante os anos da troika, os militares de Abril estiveram ausentes da sessão solene do 25 de Abril no Parlamento por considerarem que as políticas do governo de Passos Coelho contrariavam “os ideais” da revolução. 

Regressaram com a criação da geringonça e o presidente da Associação 25 de Abril não esconde a satisfação por Portugal ter “encontrado uma solução de que ninguém estava à espera e que tem funcionado. Não se resolveram todos os problemas, mas recuperou-se bastante dos malefícios que tinham sido feitos e principalmente interrompeu-se os que estavam para vir”.

Vasco Lourenço continua a acusar o governo de coligação PSD/CDS de “proclamar que tudo o que cheirasse a Abril era para destruir” e espera que a geringonça esteja para durar. “A minha esperança é que a solução encontrada a seguir às eleições legislativas de outubro seja no mesmo sentido dos últimos três anos. Não quer dizer que seja exatamente igual, mas no mesmo sentido”. Ou seja, o capitão de Abril espera que “o PS seja o partido mais votado”, mas sem maioria absoluta, porque “se ficar com o rei na barriga não se augura nada de bom para o futuro”.
No balanço destes 45 anos, Vasco Lourenço destaca “os avanços no campo da justiça social”, mas lamenta que se tenha “voltado para trás” em alguns períodos da história da democracia e que hoje ainda exista “uma diferença maior do que aquela que seria justificável entre os mais ricos e os mais pobres”. Mas, acrescenta, “estamos em paz e vamos funcionando num contexto mundial em que o populismo está a crescer. Continuamos a ser uma espécie de um pequeno oásis no meio disto tudo”.

A festa foi bonita

A direção da Associação 25 de Abril, numa mensagem publicada no seu site, considera que Portugal pode não ser o que os militares ambicionaram e sonharam quando fizeram a revolução e que “muitos avanços sociais acabaram por ruir”, mas “muito ficou” se compararmos com o estado em que o país estava quando a ditadura caiu. “A festa foi bonita, durou menos do que o desejado, mas muito se conseguiu, na construção de um País mais livre, justo e solidário”, lê-se na mensagem da associação liderada por Vasco Lourenço.

Festa no parlamento

A Assembleia da República assinala hoje mais um aniversário com a habitual sessão solene no hemiciclo. André Silva, deputado do PAN, é o primeiro a falar. Seguem-se as intervenções da deputada do PEV Heloísa Apolónia e da deputada comunista Diana Ferreira. Filipe Anacoreta Correia, do CDS, Jorge Falcato, do Bloco de Esquerda, Carlos César, do PS, e Pedro Roque, do PSD, completam o painel dos oradores. A sessão encerra com os discursos do presidente do Parlamento, Ferro Rodrigues, e do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa. Da parte da tarde, a partir das 15 horas, a Assembleia da República abre as suas portas, podendo os visitantes conhecer os corredores e o interior do palácio. Para a tarde está ainda agendado um concerto de Jorge Palma. A residência oficial do primeiro-ministro também vai estar aberta ao público no feriado de 25 de Abril, com um programa que inclui um concerto de António Zambujo e a leitura de poemas de Sophia de Mello Breyner.

O 25 de abril nas escolas

Os militares de Abril são bastantes solicitados nesta altura para darem palestras em escolas e relatarem aos jovens um capítulo decisivo da história do país. Vasco Lourenço considera, porém, que “os programas são muito fracos” no que toca ao ensino do 25 de Abril. “Há um esforço dos professores, às vezes coletivamente, mas a maior parte das vezes de forma individual, que vai suprindo muitas lacunas, mas em termos globais os programas são muito fracos e como está no fim do programa nunca há tempo para dar essa matéria”.