Sabia que as escovas de dentes não são recicláveis? Escusa de as colocar no ecoponto amarelo – o mais provável é que a escova que tem no lavatório da sua casa de banho fique por cá mais uns 500 anos a decompor-se. Felizmente, já começam a surgir alternativas mais amigas do ambiente – uma delas é portuguesa.
Desde que criaram a Babu, há dois anos e meio, João Jerónimo e Joana Gutierrez têm assistido a um crescimento exponencial: “Chegámos a duplicar vendas de trimestre para trimestre. Notamos que, cada vez mais, as pessoas estão preocupadas com este tipo de coisas. Temos cada vez mais parceiros nacionais e internacionais – estamos presentes no Brasil, em Espanha, Itália, Holanda, Suíça e Letónia, mas Portugal continua a ser o nosso principal mercado”, explicaram ao i.
Mas será que o bambu é a opção mais sustentável? No imediato, João e Joana acreditam que esta é a solução mais viável, mas admitem que, quando o plástico desaparecer de vez das casas dos consumidores, talvez seja necessário encontrar uma alternativa: “Acho que este é o ponto de partida para que se criem soluções massificadas. As Colgate e as Aquafresh não querem saber disto ainda, mas à medida que este tipo de produtos vão se tornando mais atrativos, obriga a que se criem alternativas que deem para cada vez mais pessoas. Neste momento, o bambu é a melhor alternativa. No futuro será? Talvez não, talvez sejamos obrigados a criar outra coisa ainda melhor”.
“A minha esponja da loiça já tem mais de um ano” Costuma prestar atenção ao lixo que cria? Tenta apostar num menor desperdício? A Mind The Trash surgiu da vontade de Catarina Matos de fazer do ‘trolley das velhinhas’ uma moda atual e sustentável. “Em 2014, decidi mudar-me para Londres e deparei-me com uma realidade bem pior que a portuguesa mas comecei a encontrar inúmeras alternativas. Comecei a partilhar essas alternativas no Instagram e comecei a ter bastantes seguidores, sendo a maioria estrangeiros. Sempre que vinha de férias a Portugal, sentia uma enorme frustração por parecer que cá ninguém tinha as mesmas preocupações que eu. Assim, decidi abrir a loja online para partilhar com todos aquilo a que já tinha acesso e que não existia em Portugal. Em março de 2016 mudei-me com o Christian [ex-companheiro e co-fundador da Mind The Trash] para Portugal e começámos a aprender, por nossa conta, a criar o site. Aplicámos então todas as nossas poupanças no projeto, que era inicialmente para reabilitar a nossa casa, e não estamos de todo arrependidos. A Mind The Trash foi o melhor que já nos aconteceu”, contou ao i.
Surgiu assim a primeira loja online portuguesa totalmente dedicada a acabar com o plástico. Desde produtos de cozinha, higiene, decoração e cosmética, na Mind The Trash há dezenas de alternativas aos produtos cheios de plástico que usamos no dia-a-dia. E Catarina nota que que há cada vez mais interesse por parte dos jovens em conhecer outras opções e em apostar em produtos de qualidade: “Existe uma vontade de usar cada vez menos plástico. E mais nos adolescentes do que em adultos. Dos relatos que recebemos de muitos dos nossos clientes, existem famílias que se mostram céticas quanto ao uso de determinados produtos. No entanto, quando experimentam, acabam por se render. Muitas vezes recebemos comentários de que os produtos são mais caros que os convencionais de supermercado mas, como costumamos referir, a nossa intenção é de oferecer produtos que duram e que são reutilizáveis. Ou seja, o investimento inicial pode ser superior mas, no longo prazo, compensa. Como exemplo temos as nossas esponjas para a loiça. A minha já tem mais de um ano e ainda irá durar muito mais”.
Menos um milhão de sacos de plástico E se começássemos a comprar tudo de acordo com as quantidades que necessitamos, apostando num consumo sustentável e amigo do ambiente? Parece algo irrealista tendo em conta a forma de trabalhar das grandes superfícies, mas, aos poucos, começam a surgir marcas que apostam neste mercado mais ecológico. A Maria Granel foi a primeira “zero waste store” a surgir em Portugal. Trata-se de uma mercearia biológica a granel e loja de acessórios “plastic free”, fundada em 2015 por uma minhota e um açoriano.
A primeira loja surgiu em Alvalade, em Lisboa. Quando apareceram, tinham 240 produtos expostos em apenas 70 m2: granola, ervas aromáticas, compota de figo, algas, garrafas reutilizáveis, artigos de decoração, tudo produtos amigos do ambiente. Agora, contam com um segundo estabelecimento de 150 m2 em Campo de Ourique, mais de 1000 produtos nas prateleiras, uma loja online, novas secções de detergentes e cosmética bio e um projeto ‘zero waste pantry makeover’, uma transformação de despensa (e estilo de vida) feita com a supervisão de uma nutricionista, uma especialista em organização, uma chef vegan e uma vidógrafa, para registar o antes e o depois.
“As gerações do passado já foram ‘zero waste’, mas agora não se trata de viver sem plástico, porque isso é impossível. E não devemos demonizá-lo; é um material com propriedades importantes e difíceis de substituir. Trata-se, sim, sobretudo, de repensarmos a forma como o usamos e a forma como o descartamos! Claro que, para isso, precisamos de inovação no desenvolvimento de materiais 100% compostáveis alternativos ao plástico e precisamos de legislação que incentive o granel (em vez de decretos-leis que impõem o pré-embalamento). Precisamos da sua generalização, incluindo nos líquidos (molhos, vinagre, azeite, bebidas, …) e de medidas macro para banir e punir o uso do plástico descartável”, diz Eunice Maia ao i.
Mas, até agora, as coisas parecem estar encaminhadas: a co-fundadora da Maria Granel destaca o facto de, graças ao comportamento dos clientes da loja – que levam os seus próprios sacos e frascos – , este negócio ter contribuído para desviar mais de um milhão de sacos de plástico dos aterros. “Este é um número que nos deixa muito orgulhosos. Sentimos que fazemos parte desta revolução e que, em certa medida, tentamos contribuir para o despertar [de consciências] todos os dias com a nossa missão”, acrescenta.