Muitos de nós temos tendência para comprar o melhor telemóvel, na perspetiva de podermos usar as melhores funcionalidades que ele possibilita. De facto, hoje em dia, os smartphones permitem uma gama de funcionalidades muito para além daquela que lhe deu o nome (telefone). No entanto, só deve fazer isso se estiver disponível para dedicar algum tempo e dinheiro para instalar aplicações que lhe irão possibilitar tirar partido desse telemóvel, e ainda para subscrever uma tarifa de comunicações com o seu operador que lhe permita trocar uma grande quantidade de dados com a internet.
Existem aplicações que basta descarregar para o telemóvel e que, depois, já não requerem ligação à internet, como, por exemplo, jogos e programas de eventos. Mas não são estas que requerem o melhor telemóvel (com exceção de alguns jogos). Num outro extremo, em que a ligação à internet é essencial para usar a aplicação – mas também não necessitam do melhor telemóvel –, estão as aplicações para ver a meteorologia ou o trânsito. A quantidade de dados transferida por estas aplicações não é muito grande (pelo que a ligação de dados não precisa de ser muito rápida), e a informação mostrada também não requer uma qualidade muito grande.
Então, para quê comprar o melhor telemóvel com uma tarifa de comunicações elevada?
Para tirar partido das aplicações com grande quantidade de informação e ficar descansado com a sua utilização. Relativamente às primeiras, temos como exemplo fazer fotografias e vídeos com muito boa definição e carregá-los numa rede social ou descarregá-los da internet para visualização. Quanto à segunda, trata-se de algo que muitos utilizadores se esquecem, ou nem sequer pensam nisso, que é ter uma cópia automática de toda a informação existente no telemóvel numa conta de utilizador na internet. Claro que o perfil de utilização de cada pessoa é diferente, pelo que as nossas necessidades de capacidades do telemóvel e de comunicação também o são, mas embora as primeiras possam ser consideradas supérfluas, a segunda já não o é.
As fotos e os vídeos captados com o telemóvel são atualmente partilhados com outros dispositivos, desde um tablet e um computador até uma televisão ou um projetor de vídeo, pelo que a definição com que são captados pode ser importante para possuírem uma boa resolução na visualização posterior. Adicionalmente, estas fotos e vídeos irão ocupar uma boa parte da memória do telefone (que facilmente pode chegar às centenas de gigabytes), contribuindo para que o telemóvel deva ter uma memória com grande capacidade. E, claro, este problema complica-se se usarmos o telemóvel como arquivo de música. Finalmente, os telemóveis de topo de gama recentes apresentam funcionalidades adicionais que permitem uma utilização mais confortável e segura, como o reconhecimento de dados biométricos (impressão digital ou face). É aqui que o melhor telemóvel tem lugar.
A questão da memória tem uma solução fácil, que é a de descarregar as fotos e vídeos para um computador ou para uma conta de utilizador na internet, mas nem todos os utilizadores têm a disciplina para o fazer (acho mesmo que a grande maioria não o faz). Em paralelo, devemos ter a opção de cópia automática do conteúdo de telemóvel para uma conta dessas (ou seja, ter um backup automático), de modo a não perdermos toda a informação caso haja algum problema com o telemóvel. A isto adiciona-se a questão das atualizações frequentes do software do telemóvel e das aplicações instaladas. Embora muitas destas trocas de dados possa ser feita através de Wi- -Fi (um sistema de comunicações atualmente existente nos telemóveis), em muitas situações só temos acesso a este sistema no local de trabalho ou em casa. É aqui que uma boa tarifa de comunicações com o seu operador, permitindo trocar grandes quantidades de dados com a internet, tem lugar.
Mas não vá a correr à loja do seu operador comprar o melhor telemóvel e o melhor tarifário de comunicações! Verifique primeiro se o seu perfil de utilizador o justifica.
Professor de Comunicações Móveis, Instituto Superior Técnico