Cavaco versus Marcelo


A semana passada escrevi sobre a consanguinidade que reina e parece continuar a reinar na esfera do poder, ilustração bem clara daquilo que entendo ser um dos cenários mais evidentes de nepotismo político a que nos últimos anos se assistiu e continua a assistir no nosso país. Quer dizer, o tema já é todo ele…


A semana passada escrevi sobre a consanguinidade que reina e parece continuar a reinar na esfera do poder, ilustração bem clara daquilo que entendo ser um dos cenários mais evidentes de nepotismo político a que nos últimos anos se assistiu e continua a assistir no nosso país.

Quer dizer, o tema já é todo ele tão ridículo, tão surreal e, sobretudo, tão descomplexado na ótica dos seus executantes que só desta forma pode ser entendido. Portanto, hoje não continuarei seguindo por essa linha de observação na medida em que julgo que a própria se está já a afunilar sobre si mesma. Aquilo que esta semana me incomodou foi o pseudoconfronto entre Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa sobre esta matéria, e o incómodo que senti não foi promovido pelas palavras de Cavaco, mas antes pela resposta de Marcelo. Muito sucintamente, ao que entendi, Cavaco Silva ter-se-á manifestado crítico da endogamia política que hoje habita no âmago governamental.

Ora quando confrontado com essas declarações, Marcelo Rebelo de Sousa veio tentar defender-se e proteger-se da sua inércia afirmando que havia sido Cavaco a fazer determinadas nomeações pessoais. Algo do género do que os miúdos fazem na escola primária, “quem diz é quem é!” ou “estás a ver-te ao espelho”. É uma fuga para a frente! Meus senhores, senhor Presidente da República Portuguesa: aos cidadãos pouco interessa quem é que nomeou mais ou nomeou menos familiares para executivos; aos portugueses não interessa se esta realidade está pela primeira vez a acontecer ou se já havia acontecido noutros governos ou Presidências.

O que interessa é que ela termine. Respostas como a que Marcelo Rebelo de Sousa neste domínio deu a Cavaco são patéticas. Aquilo que enquanto português gostaria de ver era que o meu Presidente da República respondesse ao meu primeiro-ministro com a rapidez e força com que Marcelo Rebelo de Sousa respondeu a Cavaco. Ora já vimos que isso não acontecerá nunca. E aqui, por isso, começam a revelar-se as reais fragilidades desta Presidência. Só há capacidade de intervenção em matérias em que impere a serenidade.

Perante temas que possam melindrar a imagem presidencial, a postura da mesma ou se caracteriza pelo distanciamento através do “entendo não dever pronunciar-me” ou pela estratégia do passa-culpas: “A circunstância de que me fala já vem dos meus antecessores”. É escasso. E se permitem, numa nota pessoal, para todos quantos, como eu, votaram em Marcelo Rebelo de Sousa para a Presidência, torna-se até triste. Esperava-se mais. Na forma e no conteúdo. Uma perfeita desilusão.

 

Escreve à sexta-feira


Cavaco versus Marcelo


A semana passada escrevi sobre a consanguinidade que reina e parece continuar a reinar na esfera do poder, ilustração bem clara daquilo que entendo ser um dos cenários mais evidentes de nepotismo político a que nos últimos anos se assistiu e continua a assistir no nosso país. Quer dizer, o tema já é todo ele…


A semana passada escrevi sobre a consanguinidade que reina e parece continuar a reinar na esfera do poder, ilustração bem clara daquilo que entendo ser um dos cenários mais evidentes de nepotismo político a que nos últimos anos se assistiu e continua a assistir no nosso país.

Quer dizer, o tema já é todo ele tão ridículo, tão surreal e, sobretudo, tão descomplexado na ótica dos seus executantes que só desta forma pode ser entendido. Portanto, hoje não continuarei seguindo por essa linha de observação na medida em que julgo que a própria se está já a afunilar sobre si mesma. Aquilo que esta semana me incomodou foi o pseudoconfronto entre Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa sobre esta matéria, e o incómodo que senti não foi promovido pelas palavras de Cavaco, mas antes pela resposta de Marcelo. Muito sucintamente, ao que entendi, Cavaco Silva ter-se-á manifestado crítico da endogamia política que hoje habita no âmago governamental.

Ora quando confrontado com essas declarações, Marcelo Rebelo de Sousa veio tentar defender-se e proteger-se da sua inércia afirmando que havia sido Cavaco a fazer determinadas nomeações pessoais. Algo do género do que os miúdos fazem na escola primária, “quem diz é quem é!” ou “estás a ver-te ao espelho”. É uma fuga para a frente! Meus senhores, senhor Presidente da República Portuguesa: aos cidadãos pouco interessa quem é que nomeou mais ou nomeou menos familiares para executivos; aos portugueses não interessa se esta realidade está pela primeira vez a acontecer ou se já havia acontecido noutros governos ou Presidências.

O que interessa é que ela termine. Respostas como a que Marcelo Rebelo de Sousa neste domínio deu a Cavaco são patéticas. Aquilo que enquanto português gostaria de ver era que o meu Presidente da República respondesse ao meu primeiro-ministro com a rapidez e força com que Marcelo Rebelo de Sousa respondeu a Cavaco. Ora já vimos que isso não acontecerá nunca. E aqui, por isso, começam a revelar-se as reais fragilidades desta Presidência. Só há capacidade de intervenção em matérias em que impere a serenidade.

Perante temas que possam melindrar a imagem presidencial, a postura da mesma ou se caracteriza pelo distanciamento através do “entendo não dever pronunciar-me” ou pela estratégia do passa-culpas: “A circunstância de que me fala já vem dos meus antecessores”. É escasso. E se permitem, numa nota pessoal, para todos quantos, como eu, votaram em Marcelo Rebelo de Sousa para a Presidência, torna-se até triste. Esperava-se mais. Na forma e no conteúdo. Uma perfeita desilusão.

 

Escreve à sexta-feira