Pequenas vilas oceânicas


O território do “Mar português” merece projetos arrojados e inovadores, pejados de atividades marítimas diferenciadas, que nos permitam aproveitar e desenvolver o nosso mar, tornar-nos novamente numa referência, líder mundial nos Oceanos…


Desde o tempo remoto em que a história nos identifica, os portugueses caracterizam-se por serem um povo arrojado, corajoso, criativo e inovador, perseverante e desembaraçado. Estas são marcas distintivas que referenciam grande parte do nosso ADN.

E foram estas características que nos permitiram alcançar feitos imemoráveis, antes de outros o fazerem. Abrimos novos caminhos e horizontes, criámos novas expetativas e esperança para a humanidade, ao mesmo tempo que oferecemos conhecimento e soluções inovadoras para as respostas do presente sempre com o futuro no horizonte. Exemplo disso são os “Descobrimentos”, projeto de conhecimento, inovação, de economia e de globalização (cruzamento de culturas).

Ora, olhando o território do “Mar português”, este desígnio oferece-nos uma nova oportunidade para reativarmos as nossas características e capacidades, pelo que pensar e concetualizar projetos que aparentemente são inimagináveis e de difícil implementação têm que ser apanágio da nossa política pública do mar.

Assim, e face à necessidade de ocuparmos um espaço territorial imenso, cerca de 4.000.000 m2, desenvolver projetos que venham a permitir conceber, construir espaços (plataformas marítimas) multidisciplinares capazes de conter atividade económica, investigação, e de serem postos avançados na defesa do território marítimo português deviam merecer uma especial atenção dos poderes públicos e dos nossos institutos e investidores.

De facto, a conceção deste tipo de projetos ainda é rara, os exemplos que se conhecem são propostas de aproveitamento de plataformas petrolíferas desativadas, e que se resumem à sua transformação em hotéis e centros de investigação.

Desenvolver Pequenas Vilas Oceânicas é algo bem mais arrojado e inovador, a ideia de construir novas plataformas marítimas de usos múltiplos, estrategicamente colocadas, com atividades que se possam complementar entre si, como por exemplo – centros de I&D e posto de recolha de dados oceânicos, espaços de aquicultura, atividades turísticas (hotel, pequena marina, etc), produção de energia limpa, posto de segurança e salvamento marítimo, entre outras, e inclusive serem locais com capacidade para abastecimento de navios, etc. – ou seja, que possam servir acima de tudo para garantir o desenvolvimento e aproveitamento do “Mar português”.

Uma estratégia bem delineada e assertiva de interesse público, através de parcerias público-privadas, certamente permitiria ao país ocupar e controlar o seu território marítimo, provavelmente com custos bem inferiores e de forma bem mais eficiente, com a certeza de que estes projetos garantiam o desenvolvimento dos nosso conhecimento e a possibilidade de almejar voltar a tomar a dianteira e ser líder global no plano europeu e internacional, citando Camões “Em mares nunca de antes navegados”.

 

Gestor e analista de políticas públicas, Escreve quinzenalmente à sexta-feira