A primeira-ministra britânica, Theresa May, não tem muito para onde se virar. Parece improvável que consiga aprovar o seu acordo no Parlamento britânico, após duas derrotas sucessivas e sem conseguir novas concessões por parte da União Europeia. Nas ruas, este sábado, viu-se perante cerca de um milhão de pessoas exigindo um novo referendo ao Brexit, e já há planos de um “golpe” por parte dos seus próprios ministros, segundo avançou este domingo o The Sunday Times.
O jornal britânico garante ter contactado 11 ministros do governo conservador de May, que preferiram manter-se anónimos e concordaram que a primeira--ministra deveria demitir-se, com alguns a qualificarem-na de “tóxica” e “errática”.
Já se fala em possíveis sucessores da chefe de governo, em particular David Lidington, o braço-direito de May. O antigo ministro para a Europa de David Cameron posiciona-se como um moderado dentro do seu partido e votou contra o Brexit, o que o torna impopular junto dos conservadores eurocéticos, que tiveram um papel fundamental nas derrotas parlamentares da primeira-ministra.
São também vistos como possíveis candidatos o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, e o ministro do Ambiente, Michael Gove, que fez campanha pela saída da União Europeia e, como tal, é considerado uma escolha de consenso entre os conservadores.
Confrontado com o assunto, Gove reafirmou a sua lealdade à chefe de governo e garantiu que “não é altura de mudar o capitão do navio”. Já Lidington respondeu: “Não tenho qualquer desejo de suceder à primeira--ministra, ela está a fazer um trabalho fantástico”. O braço--direito de May acrescentou ainda: “Uma coisa que trabalhar de perto com a primeira-ministra faz é curar-nos completamente de qualquer resto de ambição em assumir essa tarefa”.
Já não é a primeira vez que é noticiada a iminente queda de May, que acabou sempre por se manter no cargo. Caso desta seja de vez, a vida não será fácil para qualquer sucessor da chefe de governo, que reuniu este domingo na sua casa de campo com os líderes rebeldes do seu próprio partido, incluindo Boris Johnson. A primeira-ministra tenta mais uma vez conseguir o apoio dos conservadores eurocéticos, havendo deputados deste campo que admitem aprovar o acordo de saída negociado por May, caso esta se demita. Mas ainda nem se sabe se o Parlamento irá permitir que o acordo vá a votos uma terceira vez sem sofrer alterações.
Ao mesmo tempo, os deputados britânicos preparam-se para votar uma emenda que dará maior controlo ao Parlamento sobre o Brexit, a partir de segunda-feira, com uma série de votos indicativos do rumo a seguir. Estão em cima da mesa alterações ao acordo negociado por May – como a manutenção da união alfandegária e acesso ao mercado único -, assim como o cancelamento do Brexit ou um novo referendo, como foi exigido esta semana por uma petição que já ultrapassou os quatro milhões de assinaturas.
O ministro para o Brexit, Steve Barclay, acusou o Parlamento de “tentar tomar o governo” e garantiu que, caso seja aprovada uma solução oposta ao do programa dos conservadores “o risco de uma nova eleição aumenta”, dado que o governo terá instruções “para fazer algo contrário ao que foi eleito para fazer”.
Este cenário é ideal para Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, que há meses defende novas eleições legislativas e que se reuniu a semana passada com os negociadores europeus em Bruxelas. O encontro levantou preocupações entre o executivo conservador, que teme que Corbyn procure a bênção de Bruxelas para um Brexit mais soft, aprovado com deputados de vários partidos e mantendo algumas ligações económicas e institucionais com a UE.