O contrato de exploração de lítio em Montalegre entre a Lusorecursos e o Estado português deverá ser assinado nos próximos dias. A garantia é dada ao i por Ricardo Pinheiro, CEO da empresa, ao afirmar que o processo “está praticamente fechado: o projeto esteve em análise mais de 16 meses e as linhas gerais dos estudos ambientais estão concluídas”. Ao todo, a empresa prevê investir cerca de 500 milhões de euros e criar 500 postos de trabalho, tendo já uma linha de financiamento aprovada até 750 milhões por parte da banca de investimento estrangeira. Em cima da mesa está a construção de duas fábricas, uma de processamento de composto de lítio e outra de cerâmica em Sepeda, freguesia de Morgade, concelho de Montalegre.
Neste momento, ainda por decidir está o encargo de exploração, que terá de ser definido pelo Estado português. Uma das hipóteses será cobrar uma percentagem à boca da mina, outra será cobrar uma percentagem após o resultado anual do grupo. “Esta é uma decisão entre a administração local e a administração central mas, para já, está tudo em aberto”, refere o responsável.
Ricardo Pinheiro está otimista e acredita que a exploração deverá arrancar em 2020 mas, em 2022, já terá tudo preparado para entregar o hidróxido de lítio. Ao i, o responsável diz que a estratégia empresarial para aquele território passa pela exploração, transformação, aproveitamento e valorização dos produtos secundários resultantes da exploração mineira. E apesar de as prospeções apontarem para um depósito de “30 milhões de toneladas” de lítio, o responsável admite que a área de concessão é muito superior à zona que foi analisada.
O processo de mineração de superfície a céu aberto não explosivo vai envolver um investimento de 20 milhões de euros e criar 100 postos de trabalho. A unidade industrial vai estar separada em duas fases. A primeira, designada por concentrador, é onde será feita a separação dos vários minerais que vão sair da exploração. Vai envolver um investimento de 80 milhões de euros e criar 100 postos de trabalho.
Na segunda fase será abordada a parte da refinação, onde será processado o hidróxido de lítio. Vai exigir um investimento de 350 milhões de euros e criar 150 postos de trabalho.
Já a restante matéria-prima irá ser canalizada para uma fábrica de cerâmica robotizada onde serão produzidas “placas de grande dimensão” que poderão ser usadas em revestimentos ou pavimentos. Neste projeto, a empresa prepara-se para investir 25 milhões de euros e criar mais 100 postos de trabalho. “Haverá uma aposta de impressão digital em que será possível imitar madeiras, mármores, entre outros, e que vai contar com uma equipa de arquitetura e de design”, refere ao i Ricardo Pinheiro, lembrando que este material é atualmente produzido em Espanha ou na China.
De acordo com as contas do responsável, 80% da produção desta fábrica terá como destino os mercados externos, com especial foco para países árabes e do Extremo Oriente.
O CEO da Lusorecursos disse ainda que a unidade industrial do empreendimento irá ser alimentada energeticamente por uma central de biomassa que terá uma potência instalada de 10 megawatts, e ainda painéis fotovoltaicos e gás natural. O projeto envolve um investimento de 20 milhões de euros e vai criar cerca de 80 postos de trabalho.
Reconstruir aldeias e apostar em passadiços A par do projeto de exploração mineira, a Lusorecursos pretende ainda construir dez quilómetros de passadiços que irão atravessar a área concessionada e mostrar aos turistas como se extrai e transforma o lítio. A ideia passa, de acordo com o responsável, por “proporcionar visitas guiadas às zonas de extração e industrial” do empreendimento.
O responsável referiu que se pretende tornar o projeto também uma atração turística para este território e lembrou que tem sido crescente o interesse dos turistas por este tipo de atividade. O percurso de visita vai sair de um centro de investigação e desenvolvimento para a valorização dos recursos minerais do Barroso que se pretende fique instalado num antigo centro de formação agrícola, na localidade de Morgade.
Outra aposta passa por revitalizar as aldeias que estão atualmente destruídas. “Não se pretende criar aldeamentos mineiros, queremos é incentivar e ajudar na reconstrução e revitalização das aldeias que estão na área de concessão”, diz ao i.
Ao mesmo tempo, outra das prioridades é ajudar ao regresso “de filhos da terra”, ou seja, de emigrantes ou migrantes naturais de Montalegre, acrescentando Ricardo Pinheiro que “o combate à desertificação passa, em primeiro lugar, pelas gerações que tiveram de emigrar”. Para já, garante que o “feedback tem sido positivo”.
O projeto é também acompanhado de um “plano de recuperação ambiental” que prevê uma reflorestação contínua nos aterros que vão sendo feitos com a extração do minério e quer ainda ajudar a financiar projetos de conservação do território classificado como Património Agrícola Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
Recorde-se que este projeto chegou a a ir à barra dos tribunais, com a empresa australiana Novo Lítio a entrar em litígio com a portuguesa Lusorecursos. No entanto, a providência cautelar da empresa australiana acabou por ser chumbada.
Em dezembro de 2017, o Governo criou um grupo de trabalho para avaliar o potencial do lítio em Portugal e o relatório que foi entregue à tutela identificava as áreas de maior potencial de exploração. O documento chamava a atenção para a necessidade de Portugal desenvolver conhecimento e testar tecnologias para toda a cadeia de valorização dos recursos, sublinhando a importância do processamento dos minérios para a obtenção de concentrados de minerais de lítio e dos posteriores processos metalúrgicos para obtenção de compostos de lítio.
{relacionados}