A primeira edição do Campeonato da Europa, que levava o bem mais pomposo nome de Taça Europeia das Nações, teve a sua fase final em 1960. Nessa altura, a qualificação era aberta, em eliminatórias diretas até ficarem os quatro semifinalistas, que se encontravam então no país escolhido para receber os jogos decisivos. Apenas 17 seleções estrearam a competição, com as ausências badaladas de Itália, Inglaterra e Alemanha Ocidental. A Portugal tocou, nos oitavos-de-final, a outra Alemanha, a Oriental.
Ora, do futebol da democrática república, que se sabia por cá? Que o Wismut, da antiga cidade de Chemnitz, conseguira alguns resultados razoáveis na Taça dos Campeões Europeus; que o guarda--redes Spickenagel, do ASK Vorwärts, era conhecido pela rapidez dos seus reflexos; que o defesa Bringfried Müller, do Dínamo, fazia alarde da sua dureza; que o avançado Willy Troeder, do Wismut, tinha fama de rematador exímio; e que recentemente, em Dresden, fora capaz de criar embaraços à ainda forte Hungria, perdendo por 0-1. Nada mais.
No dia 21 de junho de 1959, surpreendentemente, Portugal excedeu-se. Sem Hernâni, com problemas físicos, e com Matateu em grande – o contingente de soldados russos que assistiu ao encontro chegou ao ponto de gritar o seu nome em coro –, os portugueses dominaram as operações de forma soberana, marcando um golo logo aos 12 minutos, num lance rendilhado: Carlos Duarte, na direita, centrou atrasado para Coluna, que passou por dois adversários e ficou frente a Spickenagel, mas preferiu oferecer a oportunidade a Matateu, que ainda teve o requinte de driblar um defesa que vinha ao seu encontro antes de atirar para a baliza. A reação germânica não teve expressão avassaladora, mas Acúrsio ainda foi obrigado a algumas defesas de aparato antes que voltássemos a tomar conta do jogo e resolvêssemos a questão com um golo de Coluna a meio do segundo tempo.
Desperdícios O final da partida, já em baile, faria com que Portugal desperdiçasse mais duas ou três boas ocasiões para marcar. A equipa alinhara em WM: Acúrsio – Virgílio e Ângelo – Fernando Mendes, Figueiredo e Vicente – Teixeira e Coluna – Carlos Duarte, Matateu e Cavém, e já ninguém duvidava que iríamos jogar os quartos-de-final contra a Jugoslávia, que eliminara a Bulgária (2-0 e 1-1).
Mas, claro, faltava ainda o proforma da segunda mão, marcada para oPorto, oito dias mais tarde.
Nas Antas, no jogo em que Virgílio cumpriu a sua 34.a internacionalização, batendo o recorde que era então de Travassos, a vitória repetiu-se, desta vez por 3-2. Como é natural num jogo em que uma equipa se sente à vontade e a outra quer apagar erros recentes, as posições inverteram-se. Portugal foi individualista e o conjunto perdeu–se perante o terreno molhado e a força física alemã. José Maria Antunes, o selecionador, e Béla Guttmann, que tinha sido convidado para treinar a equipa por ter conhecimentos sobre o futebol de Leste, limitaram-se a uma alteração: a substituição de Vicente por Alfredo.
Os golos foram disfarçando uma superioridade discutida palmo a palmo. O primeiro seria de Coluna, de cabeça, em voo, sobre o intervalo. O segundo, do mesmo Coluna, aos 16 minutos da segunda parte, isto é, 13 minutos após o empate de Vogt: desta vez, um remate forte, de baixo para cima, à boca da baliza, na sequência de um canto. Cavém faria o 3-1 com um pontapé colocado aos 69 minutos, para Kohler reduzir três minutos depois. Nem o selecionador nem o treinador escondiam a sua alegria. E prometiam êxitos. Sonhos que ficavam guardados para o ano seguinte. Os quartos-de-final só teriam lugar em maio de 1960!