O apoio ao desenvolvimento da aquicultura offshore é uma ação de política pública do mar fundamental para se garantir e salvaguardar o equilíbrio e sustentabilidade das espécies em liberdade, promover o aumento da produção de pescado e manter a sua qualidade.
O mar português é caracterizado por uma costa de muitas zonas estuarinas e lagunares, cavada por taludes, com declives, canhões submarinos, profundidades elevadas e vastas planícies abissais.
Conferindo às nossas águas de interior marítimas, mar territorial, zona contígua, ZEE e plataforma continental características únicas, águas frias e agitadas resultantes do cruzamento de correntes e ventos, ricas em nutrientes provenientes essencialmente dos nossos rios e zonas estuarinas, garantindo condições especiais para uma forte existência de oxigénio e de formação de plâncton. Este conjunto vasto de fatores permite gerar condições ímpares para a existência e ou produção de um peixe de qualidade e diferenciador, o qual até já é reconhecido mundialmente como um dos melhores do planeta.
Estes motivos são fundamento suficiente para um aproveitamento adequado desta riqueza natural, que concentra cerca de 80% das espécies piscícolas capturadas, sendo por isso importante uma ação estratégica de política pública do mar que garanta apoio institucional, financeiro e organizacional estruturado a projetos que venham a desenvolver atividade de aquicultura offshore no amplo mar português.
Tanto mais que a sua emersão potencia não só a produção de um pescado de qualidade como também a oportunidade para aprofundar o desenvolvimento de projetos de I&D de aplicação já existentes nos nossos centros de conhecimento.
Na verdade, para se conseguir o desenvolvimento de projetos de aquicultura offshore com estas características é necessário que surjam novas tecnologias e estruturas de forma a assegurar plataformas e gaiolas mais resistentes e imersíveis, soluções de segurança e de energia e sistemas robóticos para o seu funcionamento e manutenção. Esta amplitude de inovação pode oferecer ao mar português condições especiais para assumir a dianteira mundial nesta área de atividade da economia azul.
Assim, uma planeada, estruturada e concertada estratégia para esta frente económica certamente irá permitir desenvolver soluções integradas, envolver diversos atores do mar, tornar-nos menos dependentes da importação de pescado e, ao mesmo tempo, exportadores de tecnologia e estruturas, bem como garantir a possibilidade de aumentar a exportação de pescado e o crescimento da indústria de transformação do mesmo, gerando desta forma uma cadeia económica virtuosa.
Deste modo, promover, valorizar, estruturar e apoiar a aquicultura offshore no mar aberto parece ser a maneira correta de assegurar sustentabilidade das espécies piscícolas, manter e aumentar a produção e transformação de pescado de qualidade, oferecer nova dinâmica às empresas de mar portuguesas, aumentar o potencial exportador do país, desenvolver a investigação e inovação, ou seja, criar uma alta cadeia de valor do peixe do mar português.
Gestor e analista de políticas públicas
Escreve quinzenalmente à sexta-feira