Apesar de ter enfrentado várias greves no último ano, o primeiro-ministro recusa a ideia de braço-de-ferro entre o governo e os enfermeiros, mas avisa desde já que “há reivindicações que são absolutamente impossíveis”.
Este foi um recado enviado ontem por António Costa aos enfermeiros, a pouco mais de uma semana do regresso das negociações, frisando que “não há acordo em tudo” e que há medidas “impossíveis no esforço que temos vindo a fazer”. O primeiro-ministro diz que caso as exigências dos sindicatos fossem aprovadas, não seria possível “contratar mais profissionais”, “não aumentar as taxas moderadoras” ou “investir em equipamento ou novas instalações”.
No entanto, os enfermeiros já avisaram o governo que querem “negociações sérias” e que não vão abrir mão do descongelamento das progressões, da subida do salário base dos 1200 para os 1600 euros brutos ou da criação de um regime específico de aposentação que prevê a passagem à reforma sem penalização aos 57 anos de idade e 35 anos de serviço.
E como sinal de não cedência dos enfermeiros no horizonte está já marcada uma greve geral “prolongada e muito dura” – protesto que vai ser agendado para abril, a um mês das eleições europeias, marcadas para dia 26 de maio.
Recorde-se que no início deste ano, a greve dos enfermeiros nos blocos operatórios levou a que tivessem sido canceladas e adiadas cerca de oito mil cirurgias. O governo acabou por decretar a requisição civil e ceder aos sindicatos, acabando por criar duas categorias específicas na carreira: a de enfermeiro especialista e a de enfermeiro gestor.
Para tentar travar uma nova vaga de caos nas cirurgias, a ministra da Saúde, Marta Temido, já fez saber aos sindicatos que o governo “tem uma vontade séria de negociar” e que espera que a greve de abril não aconteça.
Para já, o governo vai regressar à mesa das negociações no próximo dia 21, com as próximas reuniões agendadas a cada 15 dias.
Périplo na saúde António Costa falou ontem aos jornalistas depois de ter inaugurado um novo centro de saúde em Odivelas – iniciativa que faz parte do périplo do governo que, nos próximos dias, vai andar pelo país a visitar os hospitais e os centros de saúde para avaliar a situação dos serviços.
À mesma hora, a presidente do CDS, Assunção Cristas, estava a visitar o Hospital de São José, em Lisboa, onde acusou o chefe do executivo de “fingir que a realidade é cor de rosa”.
Também o CDS decidiu visitar vários hospitais do país durante a próxima semana.
Ontem, a líder dos centristas disse ter ficado “preocupada” com a situação do São José, que pertence a um “centro hospitalar que no ano passado diminuiu o número de cirurgias, o número de consultas e aumentou os tempos de espera”, alertou.
Hoje, Assunção Cristas vai estar no Hospital de Leiria, onde, na semana passada, se demitiu o presidente do centro hospitalar devido à falta de recursos.
Já as visitas do governo, realizadas pela ministra da Saúde e pelo primeiro-ministro, não são anunciadas, com Marta Temido a dizer apenas que “há várias iniciativas programadas”.
A bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, enalteceu a decisão do governo e escreveu uma carta ao primeiro-ministro a mostrar a sua disponibilidade para o acompanhar nas visitas.