Diziam-me então que todos os dias há muitos carros que passam pela via verde sem pagar, já que não têm o dístico necessário, e que muitas dessas pessoas usam laca na matrícula para que, quando a foto do radar for tirada, só se veja um clarão.
A notícia tem a sua graça, mas os números nunca foram fornecidos para não incentivar outros a fazer o mesmo. Já a outra história é muito mais complexa e merece a nossa, de jornalistas, contenção: o número de suicídios cometidos a partir do tabuleiro da ponte.
Se todos os dias houvesse notícias a dar conta disso, isso seria, segundo alguns especialistas, o mote para muitos mais o fazerem. Curiosamente, uns tempos depois de ter tido essa informação estava a jantar num dos restaurantes que ficam perto da ponte e o empregado que nos servia começou a ficar comovido depois de olhar para o enorme aparato que havia no tabuleiro: “Sabe, foi mais um que se atirou. Há um mês foi o meu filho”. Ficámos gelados.
Vem esta conversa toda a propósito das notícias sobre violência doméstica e o elevado número de mulheres mortas ou agredidas pelos maridos ou namorados. Será que não estamos todos a exagerar na divulgação dos casos? Será que os potenciais assassinos não se sentem mais encorajados ao lerem e verem tanta matéria sobre o mesmo assunto?
Ao saberem que alguns dos agressores são condenados a penas leves, os tais hipotéticos assassinos não ficarão com mais vontade de levar a sua avante?
O problema da violência doméstica, como é sabido, não se resolve só com penas mais graves – que são necessárias –, mas sim com um sistema que permita à polícia e ao Ministério Público investigarem rapidamente as ameaças que surgem todos os dias, a cada 20 minutos. Até para que se apure se essas queixas são todas verdadeiras ou se algum inocente está a ser vítima de alguma vingança…