Quem vem lá…


Faltam três dias para sexta-feira. Não se trata da emoção da proximidade de mais um fim de semana.


Trata-se de mais, de muito mais: esta é a tal sexta-feira que esperamos ansiosamente desde o dia em que foi anunciado que MO havia finalmente chegado ao patamar divino onde os escolhidos discutem a coroa de deus-rei.

Mais concretamente, faltarão por volta de 72 horas para todos nos sentarmos a contar cada fração de tempo, seguindo aquela mancha laranja e azul, meneando cabeça à esquerda, à direita, respirando baixinho para não atrapalharmos, deixando a atividade cardio seguir acelerada. Chegados ali perto de um minuto mais cinquenta e qualquer coisa segundos, quereremos ver o degrau onde se coloca o tempo do Miguel na FP1.

FP1, assim mesmo, de Free Practice 1, e hoje em dia já uns bons milhares saberão do que trata semelhante coisa.

Será assim para muitos, para outros será uma manhã vivida com idas constantes ao telefone inteligente que lhes levará mensagens de amigos com informação preciosa. Chegará o Falcão na autoestrada do WhatsApp, do Messenger ou do velhinho SMS.

E será, pois, o justo prémio para um menino que sempre sonhou alto mas bem acordado, para um pai que sempre lhe deu mar para ir nadando, para todos nós que tanto o desejámos, qual Sebastião surgido de outra margem, da outra margem, um Sebastião vindo de Almada.

E o que for, o que nos guarde aquela manhã de espadachins em busca do melhor cronómetro, seja o que for que nos chegue será tudo e apenas tudo por que o Falcão lutou.

Dedique-se-lhe de novo poesia.

Tenebroso seria o castigo do esquecimento

Assim rezou o poeta com deus concordando

E se vacilar a crença na volta de aquecimento

Temos largada de punho a fundo acelerando

Vai Miguel, sendo Oliveira tens ainda o Falcão

Vai Miguel conquista o poeta, deus e a nação

É isto, menino 88, é mais, muito mais do que relembrar de onde vens e imaginar para onde vais, é o tempo de toda a gente ao teu lado, malta que nunca ligou muito às motas e agora até estremece ao ouvir o ronco que tu lhe trazes, rodando o punho, rodando as esperanças de poder voltar a acreditar que tudo é possível quando a alma é do tamanho da tua, nada mas nada pequena.

E então, passados os dois primeiros dias, de acertos na grelha de partida, chegado o domingo, décimo dia do mês de março do ano de 2019 depois de Cristo, total será a comunhão por entre gentes portuguesas do Minho ao Algarve, de Trás-os-Montes ao Alentejo, da Suíça, Luxemburgo, França, Alemanha e mais Europa que haja ao Brasil e outras Américas, do mais recôndito café de aldeia onde viva eternamente pendurado um aparelho de TV, passando por casas na praia, no campo e na cidade, enchendo esplanadas ao sol e ainda salas escuras de andares escondidos em ruas sem saída.

Em quase todos os lugares, em quase todas as gentes, que se perdoe algum exagero porque, assim não sendo, assim talvez devesse ser, rugirá a tua vontade de vencer e gritará o deus do homem e da mulher comum, bem-vindo sejas Oliveira, bem-vindo sejas porque há muito te sonhávamos.

Losail será terra nossa, será algarvia, alentejana, beirã, será do norte e do sul, do litoral e do interior, andará na geografia de mil ecrãs de televisão e nas teclas de mensagens em magotes nunca vistos..

Nunca um Miguel terá sido tão Manuel, tão António, tão Maria também.

Respeitosamente, todos os pássaros serão Falcão, todas as árvores serão Oliveira e todos os algarismos serão oitos aos pares.

Sexta-feira, chega lá depressa, então.