Se, há precisamente dois meses, alguém dissesse que o Benfica sairia líder da visita ao Dragão, ser-lhe-ia de imediato dirigida uma chuva de sorrisos trocistas – na melhor das hipóteses. A águia entrou no novo ano praticamente depenada, depois do desaire em Portimão (2-0, com autogolos dos dois centrais) que precipitou a saída de Rui Vitória, e para o comando técnico saltou o treinador da equipa B – claramente, uma aposta a prazo, como o próprio Luís Filipe Vieira confirmou posteriormente.
E “de repente”, o primeiro lugar. Com Bruno Lage, o que choveu foram as vitórias: vão nove seguidas desde então, com destaque para as conseguidas nos Açores, Guimarães, Alvalade e, agora, no Porto – além, claro, do retumbante 10-0 ao Nacional, na Luz. Em igual período, os dragões deixaram seis pontos por aí (Alvalade, Guimarães e Moreira de Cónegos) e puseram-se a jeito para a estocada que viriam a receber no passado sábado.
O que aí vem
Há uma semana, o campeonato estava relançado; agora, quando faltam dez jornadas para o fim, está absolutamente ao rubro. São dez finais… mas umas mais finais que outras. Teoricamente, o Benfica parte em vantagem para esta reta onde tudo se decidirá: não só pelo que dita a classificação, claro, mas também pelos ditames do calendário.
Desde logo, o facto de os encarnados terem pela frente seis jogos em casa e apenas quatro fora. É nessa condição, de resto, que os comandados de Bruno Lage entrarão em campo frente ao Belenenses, SAD na próxima ronda, quatro dias depois da viagem a Zagreb para os oitavos-de-final da Liga Europa. Na jornada 26, o primeiro grande teste deste período: a deslocação a Moreira de Cónegos para enfrentar a equipa-sensação desta liga – um terreno onde, recorde-se, o FC Porto deixou dois pontos (1-1).
Seguem-se quatro jornadas à partida mais tranquilas: receções a Tondela, Vitória de Setúbal e Marítimo, com uma visita ao reduto do moribundo Feirense pelo meio. Na época passada, é certo, o Benfica perdeu na Luz perante os beirões (2-3), num jogo que significou o adeus definitivo ao sonho do penta, mas ainda assim será indesmentível que as águias têm amplo favoritismo nestas quatro partidas, todas elas perante adversários que agonizam no fundo da tabela.
A ronda 31 pode, ela sim, desempenhar um papel fulcral nas contas do título: o Benfica visitará a casa do Braga, que por essa altura poderá ainda estar também na corrida – pelo menos para o segundo posto, que dá acesso à Liga dos Campeões. Depois haverá uma receção ao Portimonense, o tal carrasco de Rui Vitória, antes da deslocação a Vila do Conde, onde esta época se apresenta um Rio Ave que faz da inconstância exibicional a sua principal característica. Por último, a águia receberá o Santa Clara, que vai fazendo um campeonato tranquilo.
O FC Porto, por seu lado, terá agora em teoria duas jornadas mais acessíveis, em Santa Maria da Feira e no Dragão frente ao Marítimo, tendo o primeiro teste de fogo marcado para a jornada 27, com a deslocação a Braga – a primeira no espaço de três dias, a anteceder a da segunda mão das meias-finais da Taça de Portugal. As receções a Boavista, Santa Clara e Aves não se afiguram tão complicadas, mas o mesmo já não se poderá dizer das deslocações a Portimão, Vila do Conde e Choupana, com a derradeira prova agendada para a última jornada: a receção ao Sporting. Os homens de Sérgio Conceição sabem que têm de vencer todos os jogos e esperar por, pelo menos, um deslize do Benfica, que ficou em vantagem no confronto direto com o triunfo no Dragão; só o mais duro sairá a sorrir.