Bruno Lage: “Os jogadores estão a fazer de mim treinador”

Bruno Lage: “Os jogadores estão a fazer de mim treinador”


Se foi ou não o jogo que decidiu o título, as próximas dez jornadas o dirão. Certo é que a vitória dos encarnados sublinhou uma recuperação notável e fazem do Benfica o grande favorito ao título tal o futebol empolgante que pratica


A vitória de sábado do Benfica no Dragão (1-2) consolidou uma recuperação notável e parece tirar dúvidas sobre qual é neste momento o grande favorito à conquista do título, tal a categoria como Bruno Laje revolucionou não apenas o estilo de jogo mas, sobretudo, a mentalidade da equipa. No final do encontro, modesto, declarou: “Os jogadores estão a fazer de mim treinador”. A frase é forte porque assinala a consciência de um trabalho coletivo que fez de uma época que parecia condenada ao total insucesso num final de temporada em que os encarnados podem ainda sonhar com a vitória nas três provas em que estão envolvidos, embora com a consciência de que ainda habitam na Liga Europa nomes importantes do futebol internacional. De qualquer forma, já daqui a três dias, a deslocação a Zagreb pode ser encarada, também ela, à luz de um otimismo que se reforçou na noite frenética do Porto.

Marega, regressado à titularidade, provando que neste momento Sérgio Conceição o considera absolutamente indispensável, sentiu necessidade de vir a público pedir desculpa aos irritados adeptos portistas que terão contado com o ovo no tal lugar da galinha mais cedo do que seria aconselhável. No entanto, compreensível perante a fase medíocre que  o Benfica já atravessou antes de Bruno Laje e para a teimosa inexistência do Sporting como candidato a lutar pelo lugar de campeão. Pobre Marega, acrescente-se, entregue à fúria dos mesmos energúmenos que continuam a viver impunemente no paleolítico, dedicando-se ao arremesso de pedras sobre aqueles que veem, certamente, através dos seus pensamentos confusos, mazombos e obtusos, como invasores impiedosos vindos dos confins de um sul que odeiam bacocamente. Como sempre, as diligências das autoridades, que nos azucrinam a paciência com conferências de imprensa de pacotilha durante dias explicando tim-tim por tim-tim tudo o que vão fazer para assegurar a tranquilidade dos mais incautos cidadãos, deram com os burrinhos da água, e os calhaus voaram livremente pelos céus do bairro das Antas sem que os criminosos tenham sido identificados, quanto mais detidos.

 

A selva

O futebol português continua a ser uma selva por causa de meia dúzia de animais tão irracionais como raivosos. Mas também por parte da tão singular justiça desportiva de que somos obrigados a suportar um silêncio tão comprometedor quanto cobarde. Por uma qualquer cretinice burocrática, avançam para a interdição de estádios. Apedrejamentos são vistos como algo natural que não lhes merece sequer a abertura de um inquérito.

Por outro lado, é deprimente continuarmos a ter como árbitros para tudo o que seja dérbis ou clássicos os dois cromos do costume, desta vez o escriturário Sousa, tão autoritário com uns como pusilânime com outros, e está aí o comportamento de Pepe para o comprovar. Não fora ele, seria Soares Dias, dos recursos humanos, o que só decide por pé de orelha, a mando do vídeo árbitro. Já se percebeu que a nova geração é de uma incompetência gritante mas, convenhamos, estas arbitragens já cheiram a mofo.

Valeu o jogo. Valeu que ambas as equipas resolveram defrontar-se de peito aberto. Vale que depois daquele estranho golo portista, a merecer diversas interpretações, Bruno Laje lançou os seus rapazes na busca incessante do empate que surgiu pelo menino João Félix de forma absolutamente merecida. Valeu que, mesmo com o empate, ambos quiseram ganhar e não permitiram que o forte ritmo imposto desde início viesse a desleixar-se.

Falta muito. Na forma como portistas e benfiquistas souberem agora lidar com o que se passou no sábado à noite está o segredo para o título. Atitudes firmes precisam-se: contra o abatimento, de um lado, contra o deslumbramento, do outro. O Benfica está mais forte, aplica um futebol mais variado, as soluções ofensivas são maiores e melhores. O FC Porto precisa de sair deste espartilho da desilusão. Provavelmente, Sérgio Conceição convenceu-se de que conhecia melhor o seu opositor do que conhece na realidade. Acertar no onze inicial não o fez capaz de contrariar a sua mecânica. Agora, já depois de amanhã, enfrenta novo berbicacho, desta vez para a Liga dos Campeões. Sofrer uma eliminação seria um golpe duplo no coração do dragão. Ainda por cima por volta a jogar em casa. Espera-se que sem pedras no caminho.