Não! Não somos todos Jamaica e as nossas forças da autoridade não são racistas!


Dá jeito utilizar o argumento do racismo para desviar o foco de problemas reais e que carecem de intervenção


Portugal é um país curioso. Como se costuma dizer, é-se preso por ter e por não ter cão. A uns exige-se tudo e mais alguma coisa, a outros não se lhes exige absolutamente nada. E nesta que é uma verdadeira esquizofrenia social vai-se, ao longo dos tempos, cavalgando certas ondas mediáticas que demonstram claramente os confusos tempos que vivemos.

Agora é a onda do racismo e de que as forças da autoridade exercem as suas funções de forma distinta atendendo à cor da pele desta ou daquela pessoa. Chega desta palhaçada. E por isso digo, ao contrário do que muitos eruditos da nossa praça fazem: não! Não somos todos Jamaica, e não, as forças da autoridade portuguesas não são racistas! Observemos. Qualquer cidadão com o mínimo de humanidade não fica indiferente a imagens como as que deram origem a toda esta polémica.

Ninguém gosta de ver o que se viu. É um facto. Porém, o que não pode ser tolerável é que se parta imediatamente para um juízo de censurabilidade em que se coloque a origem do que se viu nos ombros dos homens e mulheres cuja profissão é, muitas vezes, esquecer-se de si e dos seus para zelar por todos nós. Com prejuízo diário e desproteção constantes. Pior, não podemos fazê-lo quando temos todos, enquanto cidadãos, a obrigação de saber como é difícil ser hoje um representante da autoridade. Falo da inexistência dos meios, falo da inadequação da carreira no comparativo entre aquilo que se exige aos seus profissionais e o retorno que têm e, naturalmente, falo de uma realidade em que o Estado quer que se faça cumprir a lei mas, quando a mesma tem de ser cumprida nos moldes que consagrou, havendo alguma confrontação, é o próprio Estado que prefere colidir de frente com os que devem executá-la. Não é admissível.

Falar de racismo está na moda. Mas está na moda não porque haja racismo como princípio na sociedade portuguesa. É porque dá jeito utilizar esse argumento para desviar o foco de problemas reais e que carecem de intervenção. E com isto, obviamente, quando o houver de facto em circunstâncias devidamente apuradas, o que não parece o caso, há que puni-lo severamente. Sem reservas! Contudo, o pior que pode acontecer a uma qualquer sociedade é deixar- -se envolver numa contenda com estes contornos falaciosos.

O que se passou no Bairro da Jamaica não foi racismo. Ou pelo menos, até ver, não há nada que sustente com efetividade que a atuação dos agentes da lei foi realizada nessa base. No máximo dos máximos, a haver e, para haver, um processo de averiguações sério teria de ser feito, pode ter existido um abuso na forma de exercer a ordem. Daí ao racismo vai um grande passo. São por isso de lamentar os juízos imediatos que se fizeram neste como em casos similares.

Os políticos têm de ser cautelosos nestas matérias. Têm de saber falar quando devidamente esclarecidos sobre o que aconteceu. Na origem, no durante e no resultado do verificado. Há certas declarações que deveriam envergonhar certas pessoas. E mais afirmo, no dia em que admitirmos e, sobretudo, obrigarmos quem nos defende a conviver com acusações de racismo quando tenham de cumprir aquilo para que estão legitimados, então mais vale acabar com as forças da autoridade. Não é esse certamente o país que queremos.

Escreve à sexta-feira