As barreiras físicas não são o único obstáculo de quem procura uma vida melhor nos Estados Unidos. Para além da malha de muros e vedações que cobre parte da fronteira, existe ainda o departamento de Proteção de Fronteiras e Alfândega (CBP) e dos EUA.
O “LA Times” qualifica o CBP como uma “organização paramilitar que cresceu demais, demasiado rápido e com pouca supervisão”. A agência é a maior força policial dos EUA, maior até que o FBI. O CBP, juntamente com o Serviço de Imigração e Controlo de Fronteiras (ICE), é a parte maior do departamento de Segurança Interna, criado apenas em 2002, mas que já é maior que o corpo de marines no ativo.
O CBP foi criado a partir da estrutura da patrulha de fronteira pela administração de George W. Bush, no pânico após o 11 de setembro. Desde aí nunca deixaram de ganhar poder e financiamento. Apesar de boa parte do trabalho do CBP envolver a verificação de passaportes e inspecionar mercadorias, a agência tem a sua própria força aérea. Blackhawks, aviões de vigilância P-3 e até MQ-9, os mesmos drones de vigilância ativos no Afeganistão. Hoje o CBP têm 20 mil agentes uniformizados e 60 mil funcionários. Gasta cerca de 13 mil milhões de dólares anualmente, 20 vezes mais do que gastava nos anos 1990.
Para além do custo financeiro, a necessidade de recrutamento rápido levou à diminuição do tempo de treino dos agentes, que dura apenas um mês, e a um laxismo nos requisitos necessários. Vários agentes têm sido acusados de atos de violência extrema contra migrantes. Segundo a American Civil Liberties Union, dezenas de pessoas morrem anualmente sob custódia do CBP, havendo relatos de que até crianças são agredidas, insultadas e sexualmente abusadas. Muitos dos casos denunciados ocorreram ainda durante a administração de Barack Obama.
Apesar das críticas à atuação do CBP e ao seu já substancial tamanho, a administração de Donald Trump tem defendido a sua expansão. O presidente assinou, logo no início do seu mandato, uma ordem executiva para contratar novos 15 mil agentes de imigração No entanto, apesar das dezenas de milhões de dólares gastos em recrutamento, continua a não haver voluntários suficientes.
Foi contratada uma empresa de consultoria, a Accenture Federal Services, que recebeu 60,7 milhões de dólares para recrutar 7500 novos agentes que até agora só conseguiu 33 novos recrutas. O CBP tem dificuldade em manter funcionários, com muitos agentes a reformarem-se ou a procurarem trabalhos mais bem pagos. Os agentes são obrigados a trabalhar horas extraordinárias e são muitas vezes colocados em postos fronteiriços remotos, isolados e longe das suas famílias.
Para além da dificuldade de recrutamento, a sua necessidade é questionada pelo inspetor geral da Segurança Interna, John Roth. O número de detenções de imigrantes teve uma redução substancial, com menos de 600 mil pessoas detidas no ano fiscal de 2018, por comparação à média de mais de um milhão de apreensões anuais entre os anos 1980 e finais dos anos 2000.