Mönchengladbach. E os jovens potros voltaram a trotar

Mönchengladbach. E os jovens potros voltaram a trotar


De novo perto do topo do futebol alemão, o Borussia teve, nos anos 70, uma poderosa presença na Europa, com jogadores da categoria de Berti Vogts, Jupp Heynckes, Günter Netzer e Allan Simonsen


A meio do caminho entre Düsseldorf e a fronteira com a Holanda, em redor de uma abadia junto à qual corria um riacho, nasceu a povoação de Gladbach. Para que não se confundisse com a outra Gladbach (Bergish Gladbach), tomou o nome de München-Gladbach. Mas os alemães, às vezes, são tão picuinhas como nós, portugueses: lá se convenceram que o hífen daria a sensação que Gladbach era um subúrbio de München (Munique). Vai daí, tiraram o tracinho, trocaram o u por um o, e ficou Mönchengladbach, que faz do Borussia o clube com o nome mais comprido da Bundesliga. Ainda por cima se falarmos da sua nomenclatura completa, nada menos do que Borussia Verein für Leibesübungen 1900 Mönchengladbach.

O Borussia, que não é particularmente imaginativo em clubes alemães, vem do antigo reino da Prússia. E este Borussia, nascido em 1900, agora de volta ao topo do futebol alemão, atual terceiro classificado, recentemente presente na Liga dos Campeões, já foi mesmo um dos grandes da Europa, na década de 70, quando atingiu a final da Taça dos Campeões e venceu duas Taças UEFA.

Data dessa altura uma rija eliminatória com o Benfica, na época de 1978-79, caída para o lado germânico, com um 0-0 em Lisboa e um 2-0 em Mönchengladbach, após prolongamento. Precisamente no decorrer de uma Taça UEFA conquistada pelo Borussia.

Fundar clubes desportivos em restaurantes e cervejarias também é comum na Alemanha. Um grupo de rapazes da cidade, descontentes com o que se passava no Germania, onde jogavam, decidiram criar uma nova agremiação. Durante uma sessão bem regada a cerveja, às mesas do Anton Schmitz, surgiu o FC Borussia. As coisas correram bem a princípio mas, entretanto, a i Grande Guerra não só devastou a Europa como arrasou muitos dos românticos sonhos de glória de jovens de todos os países envolvidos, sobretudo no campo dos derrotados. Em 1919, o Borussia fundiu-se com o clube do qual tinham saído os seus fundadores: Turnverein Germania. Surgiu um confuso 1899 VfTuR Mönchengladbach, que não durou mais de dois anos.

Novos tempos As duas guerras mundiais marcaram profundamente a sociedade alemã e, consequentemente, as suas organizações desportivas. O regime nazi não via o futebol com muito bons olhos e tratou de fomentar sobretudo campeonatos regionais – as Gauligen – em detrimento de uma prova amplamente nacional. E essa é uma das razões pelas quais os grandes clubes alemães só começaram a ser internacionalmente competitivos a partir do início dos anos 60.

E foi precisamente no ano de 1960 que o Borussia Mönchengladbach conquistou o seu primeiro grande troféu, a Taça da Alemanha. Hans Weisweiler, um treinador brilhante, sabia que o Borussia não era rico. Construiu uma base de miúdos, a “Fohlenelf”, os jovens potros, que interiorizariam um sistema de jogo ao longo da sua formação e até atingirem a equipa principal. O sucesso não foi imediato, mas também não tardou muito a surgir. E, com ele, jogadores como Berti Vogts, Heinz Wittmann e Jupp Heynckes. E, um pouco mais tarde, os dinamarqueses Henning Jensen e Allan Simonsen, Uli Stielike e, sobretudo, Günter Netzer, que não tardaria a partir para o Real Madrid.

“Nobody in the world would have won against this team today. That was football in the highest perfection!” As palavras elogiosas não vieram da boca de um qualquer. Foram proferidas por Matt Busby, o lendário treinador do Manchester United. Era o dia 20 de outubro de 1971 e o Borussia Mönchengladbach provocara um tremor de terra no sempre tão conservador futebol europeu. De uma forma absolutamente espantosa, reduzira a pó a defesa tão gabada do Inter de Milão e obtivera uma goleada histórica: 7-1! De pouco lhe serviu. A UEFA anulou o jogo com base numa queixa dos italianos: Roberto Boninsegna, avançado milanês, fora atingido na cabeça por uma garrafa vazia. Depois, derrota 2-4 em Milão e 0-0 em Berlim por interdição do Bökelbergstadion.

Entre 1969 e 1979, o Borussia ganhou cinco dos seus seis títulos de campeão alemão, somando mais dois segundos lugares e uma Taça da Alemanha, em 1972-73. Esteve presente em cinco finais europeias: Taça UEFA, 1974-75 e 1978-79 (vencedor); 1972-73 e 1979-80 (derrotado); e Taça dos Campeões, 1976-77 (derrotado). Em 1975, Weisweiler deu lugar a outro dos grandes treinadores alemães, Udo Lattek. Na garganta dos jovens potros ficou espetada a espinha encarnada do Liverpool. Duas taças disputadas entre ambos os clubes acabaram em Anfield: a UEFA de 1972-73 (0-3 e 2-0 na final a duas mãos; e a dos campeões de 1976-77 (1-3 no Estádio Olímpico de Roma).

Depois de muitos anos caído na mediocridade, o Borussia de Mönchengladbach tenta reerguer-se. Dieter Hecking é agora o comandante de quem se esperam os títulos desaparecidos. Outra vez apostando no futebol de base, como nos velhos tempos.