Moradores do Bairro da Jamaica e PNR vão manifestar-se amanhã

Moradores do Bairro da Jamaica e PNR vão manifestar-se amanhã


O desagrado com a atuação policial no Bairro da Jamaica e na Avenida da Liberdade, em Lisboa, levou os moradores da zona do Seixal a convocarem uma manifestação de protesto  junto à Câmara local. Por seu lado, o PNR também anunciou uma manifestação para o Terreiro do Paço e para a porta da sede do BE


Três dias depois dos ataques do último domingo no Bairro da Jamaica, no Seixal, Setúbal, o país ainda continua espantado. Os moradores não se deixaram ficar – tendo na segunda-feira ido para o centro da capital manifestarem-se contra o racismo e a violência policial – e, amanhã voltam às ruas para demonstrar o seu descontentamento. De acordo com a página do Facebook chamada ‘A voz da mãe preta’, amanhã várias pessoas vão reunir-se em frente da Câmara Municipal do Seixal, em jeito de protesto.

“A dor de uma mulher, mãe, negra ver a sua família brutalmente agredida por uma entidade que devia zelar pela segurança de todos. Este foi o triste episódio que se passou no bairro da Jamaica-Seixal. A luta é tua, é minha, é nossa vamos fazer ouvir as nossas vozes!!” Juntos somos mais fortes!!” pode ler-se na página da rede social. A manifestação está agendada para as 15h30 de amanhã e, segundo a mesma página, 238 pessoas já confirmaram que vão participar e 945 mostraram interesse em fazê-lo.

No entanto, este caso vai muito além das fronteiras do bairro, com vários partidos políticos a reagirem à situação, durante os últimos dias.

As primeiras reações chegaram por Joana Mortágua – que nas redes sociais defendeu que o Bloco de Esquerda iria exigir responsabilidades sobre o sucedido –, o que gerou uma sucessão de reações e até o Presidente da República comentou os acontecimentos. Ontem foi a vez do PCP se manifestar, apelando ao bom senso. Em comunicado, o partido revelou que “não alimentará a corrente dos que, a propósito de factos concretos e pontuais, agem para os generalizar. Fazê-lo seria animar um ambiente de insegurança e intranquilidade”.

Relembrando que a PSP já abriu inquérito ao sucedido no domingo, o partido comunista diz ainda que “eventuais situações de recurso à violência não justificada, naturalmente condenável e que deve ser prevenida, não podem contribuir para desvalorizar a ação das forças de segurança e dos seus profissionais”.

Já o presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, se pronunciou sobre o sucedido no bairro português – onde moram várias pessoas de origem cabo-verdiana.

 Através da sua página pessoal do Facebook o governante revelou estar a acompanhar a situação: “Acompanho e procuro informações concretas relativas ao sucedido no bairro da Jamaica”.

Câmaras de vídeo nas fardas dos polícias Depois de Eduardo Cabrita, ministro da Administração Interna, ter afirmado que confia plenamente na polícia, e de ter revelado de que estava a ser estudada a hipótese de os agentes poderem vir a incorporar câmaras de vídeo nas suas fardas, o presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP), Paulo Rodrigues, afirmou concordar com a proposta do ministro.

O dirigente sindical, em declarações à rádio “TSF”, assegurou que os agentes “não têm nada a esconder” e que as ocorrências geralmente acontecem “à vista de toda a gente”.

“Toda a gente pode filmar e nós entendemos até que as câmaras vêm por bem. Vêm ajudar a perceber, muitas das vezes, o porquê da intervenção da polícia e o porquê da forma ou modelo” da atuação policial, adiantou.

De acordo com Paulo Rodrigues, o governo já terá transmitido aos agentes de que existem “condições para adquirir as câmaras”, mas que ainda é necessário “fazer um conjunto de regulamentos” – que servirão para regular as situações em que os polícias estão permitidos a filmar com aquelas câmaras e quem poderá ou não usar as imagens.

Armando Ferreira, presidente do Sindicato Nacional da Polícia (Sinapol), também partilha da visão de Paulo Rodrigues. Em declarações ao “Público”, disse que acha “muito bem” a incorporação das câmaras de vídeo. “É muito fácil pegar em imagens descontextualizadas, sem se saber o que aconteceu antes das intervenções, para acusar os polícias”, explicou, acrescentando que este modelo “teria a vantagem de mostrar o que aconteceu do princípio ao fim. Venham elas. Estas câmaras servirão para demonstrar o que aconteceu seja para o bem, seja para o mal dos polícias”.

Paulo Rodrigues também comentou a manifestação de segunda-feira. O sindicalista considerou que esta “não foi tão espontânea quanto isso, nem nasceu de uma simples conversa”. “Houve algumas entidades que, ao tomarem uma posição mesmo sem saber o resultado dos inquéritos e o que aconteceu exatamente, tomarem uma posição a desfavor da PSP”, completou.

Aos olhos de Paulo Rodrigues “quando se põe a polícia como alvo, de alguma forma legitima todos aqueles que, mesmo sem saber o que se passou, por norma estão contra a polícia”. O responsável lembrou ainda que a maior parte dos comentários nas redes sociais sobre este caso “estão a promover justamente o ódio e a polícia como um alvo”, apelando ao governo que apure responsabilidades.

Por outro lado, os acontecimentos do Bairro da Jamaica já serviram para o Partido Nacional Renovador (PNR), partido de extrema-direita, convocar na sua página de Facebook uma manifestação para sexta-feira, às 18 horas, no Terreiro do Paço, em Lisboa, com o objetivo de lutar “pela ilegalização do braço armado do BE”, a que associam o SOS Racismo. A concentração de militantes do PNR deverá seguir depois para a Rua da Palma, sede do BE, onde pretendem manifestar o seu desagrado pela posição do BE de condenação à atuação policial no Bairro da Jamaica e na Avenida da Liberdade. Segundo o i apurou, haverá 53 confirmações e 370 militantes demonstraram vontade de estarem presentes. O i também sabe também que alguns militantes do BE já foram avisados para não se deslocarem à sede na sexta-feira sem ser acompanhados. A_PSP tem conhecimento das duas manifestações.