A passada sexta-feira foi o dia com mais idas às urgências nos últimos anos. Ao todo, 34 mil pessoas recorreram aos hospitais, procura que nos momentos mais elevados costuma não ir muito além dos 25 mil episódios de urgência. Segundo a informação disponibilizada no portal do Serviço Nacional de Saúde, 13,53% dos atendimentos estiveram relacionados com diagnóstico de infeção respiratória, isto numa altura em que a atividade do vírus da gripe tem estado a aumentar. Houve, assim, 4623 pessoas com problemas respiratórios a deslocar-se aos hospitais portugueses.
Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, admite ao i que o pico de procura possa estar relacionado com gripe, outros vírus respiratórios e o frio, mas sublinha que são fenómenos que, sendo isolados apenas num dia, não são indicadores de especial gravidade. É por isso preciso esperar pelo balanço do fim de semana. Para já, a responsável salienta que a epidemia de gripe se encontra num cenário moderado._“Quando se diz que a epidemia de gripe é mais intensa do que noutros países europeus é porque há países em que a atividade é baixa. Não temos um cenário de gripe intensa como noutros anos”, assegura Graça Freitas, salientando que não há também indícios de que a epidemia de gripe deste inverno possa tornar-se muito severa.
Uma das variáveis que contribuem para um ano com maior ou menor impacto da gripe na saúde da população prende-se com os vírus em circulação. Um dos vírus em circulação em Portugal e que tem estado a tornar–se dominante nas últimas semanas é o A(H3), especialmente perigoso para os idosos. “É um vírus que, pela sua natureza, é mais agressivo, pelo que afetará mais a população mais frágil e que tem uma menor reserva fisiológica para fazer face à infeção”, diz Graça Freitas. Vacinação, evitar espaços com maior concentração de pessoas e cuidados com o frio são as precauções a ter.
De acordo com o último balanço do Instituto Ricardo Jorge, referente à semana de 7 a 13 de janeiro, apesar deste cenário, a mortalidade encontra-se dentro do esperado para esta altura do ano – nos dias de inverno é normal registarem-se mais 100 a 150 óbitos diários face aos dias de verão, mas o frio e a atividade gripal intensa tendem a fazer aumentar o número de mortes. A Direção-Geral da Saúde tem uma plataforma que permite fazer a vigilância diária da mortalidade e os dados ontem disponíveis revelavam que, na passada segunda-feira, 14 de janeiro, foram registadas 482 mortes, o número mais elevado da última década neste dia. Mas, desde então, o número de óbitos esteve dentro do intervalo de valores verificado nos últimos dez anos.
De acordo com a plataforma Flu News Europe, que monitoriza a epidemia de gripe na região europeia, além de Portugal, Reino Unido, Croácia, Bósnia e Herzegovina, Geórgia e Arménia encontram-se com epidemias de gripe com maior intensidade, dentro do patamar moderado. A Turquia era, ontem ao final do dia, o único país com atividade gripal elevada. No passado recente, Portugal registou três epidemias especialmente agressivas. Na época gripal de 2011/2012 registaram-se 4200 mortes acima do esperado. Em 2014/2015, o balanço foi de 5591 mortes em excesso. Já no último inverno, apesar de a atividade gripal ter sido considerada moderada, houve registo de mais 3700 mortes face ao expetável nesta altura do ano.
O aumento de mortes verificou–se em especial entre pessoas com mais de 85 anos de idade.
Desde o início desta época gripal foram reportados 18 casos de gripe em unidades de cuidados intensivos. Em relação aos 16 doentes sobre os quais há informação, nove tinham 65 ou mais anos de idade e 11 tinham uma doença crónica de base. O Instituto Ricardo Jorge diz que só foi possível saber o estado vacinal de quatro destes doentes, tendo dois feito a vacina da gripe.