A Europa e a sua negação


Como pode um país ser economicamente viável quando não tem portos operativos, rejeita explorar recursos energéticos no subsolo e mantém uma das cargas fiscais mais elevadas da UE?


Só um eleitorado distraído não aproveitará as eleições de 2019 para mudar de vida

Em 2011, pela mão do Partido Socialista no governo, Portugal apresentava condições de financiamento cada vez mais apertadas, não conseguindo com as sucessivas medidas de austeridade dar confiança aos investidores de que o país seria capaz de pagar as suas dívidas.

Naquele quadro de conjuntura, o que significou, afinal, a assinatura do memorando com a troika e a assistência financeira que durou até maio de 2014 e levou o país a uma perda de soberania financeira? É simples: Portugal tinha estado em risco de soçobrar como membro da eurozona e os cerca de 70 mil milhões de euros emprestados foram a mágica a que recorreram as autoridades internacionais (troika do BCE/FMI/UE) para salvar as finanças públicas do país.

O governo que se seguiu e aplicou o programa assinado pelo governo do Partido Socialista mereceu deste a consideração crítica e amnésica que deixou o país estupefacto, de tal modo que, mesmo com as famílias e empresas em stresse financeiro, não foi capaz de ganhar as eleições que se seguiram, em 2015.

Pode assim dizer-se que, em termos de discurso político sobre a Europa e da participação de Portugal em plenitude enquanto membro da União Europeia, falta autoridade a quem governava o país em 2011 e também a quem foi suporte político daquele governo, como foi António Costa, deixando chegar o país à situação de pré-bancarrota. Como falta hoje essa mesma autoridade para lições de europeísmo eleitoral, perante a situação atual das finanças públicas.

O próprio presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, já chega ao ponto de pedir, numa espécie de ato de ventriloquismo extravagante, ao ministro das Finanças português, Mário Centeno, medidas adicionais para cumprir o Pacto de Estabilidade: “O Eurogrupo convida todos os Estados-membros a ponderar, de forma atempada, as medidas adicionais necessárias para lidar com os riscos identificados pela Comissão e para garantir que os seus orçamentos cumprem com as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento.”

A frase consta do comunicado que o Eurogrupo emitiu em 4/12/2018, na avaliação dos orçamentos dos vários países-membros: Portugal está entre os países a quem é dado o recado.

Por outro lado, Portugal e o Estado português acumulam dívida fora do perímetro orçamental que, só na área da saúde, chegou a 2,7 mil milhões de euros em 2017, segundo o Tribunal de Contas. A dívida histórica e atual de cerca de 250 mil milhões de euros, a maior parte gerada no governo socialista de 2005/2011, cresceu desde 2015 e coloca Portugal na lista cimeira dos três países mais endividados da Europa.

E como se pode evitar uma nova crise e o apelo a uma intervenção a prazo, seja ela qual for, com um crescimento previsto pelo FMI para 2019 de 1,8% do PIB quando a Irlanda em 2019 vai crescer 5,8 %?

Com esta realidade, é surpreendente que, no seu afã de vender pelo país “bacalhau a pataco” em campanha eleitoral, o secretário-geral do PS, António Costa, tenha ido a Castelo Branco afirmar: “Vejam bem se estivéssemos como está hoje o Reino Unido, sem saber o que nos podia acontecer no dia 30 de março se saíssemos da união. Esse é um risco em que, em circunstância alguma, Portugal se pode colocar, e é por isso que vamos continuar a bater-nos por uma Europa que garanta a coesão, a competitividade, a solidariedade, a paz, o desen-volvimento e os direitos humanos.
É essa a Europa que nós queremos e pela qual nos vamos bater.”

Que belas palavras sobre como ser guardião de uma fortaleza que dia após dia o próprio tem tornado mais vulnerável, fazendo questão de estar acompanhado no governo por quem põe a cada dia em causa a própria presença de Portugal na UE e o crescimento da nossa economia: a extrema-esquerda e o Partido Comunista. Como poderia Portugal ter outra realidade quando as empresas não constituem preocupação deste governo?

Veja-se o que está a acontecer com os chamados custos de contexto na área dos portos marítimos, cruciais para facilitar as exportações. De Palmela ao porto de Setúbal distam 8,5 km, ou seja, pela N252, um veículo de carga não demora mais de 20 minutos. De Palmela ao porto de Santander, a distância anda em cerca de 900 km, o que dá mais ou menos 12 horas por caminho-de-ferro.

Foi hoje conhecido que a Autoeuropa decidiu enviar para Santander os carros que produz em Palmela, em vez de os expedir pelo porto de Setúbal.

O significado é claro: incapaz de fazer face à agitação laboral do PCP/CGTP, o governo não oferece custos de contexto favoráveis às empresas, também na área dos transportes. E a administração da Autoeuropa limita-se a assegurar a vida da empresa, antes de, um dia destes, o conselho de administração decidir partir e mudar a fábrica para outro lugar no mundo… Aqui está mais uma razão por que poucos investidores procuram Portugal.

Com governos amigos da demagogia para garantirem o apoio de partidos que garantam o poder e não a criação de riqueza, como ficar de braços cruzados?

O caso é ainda mais escandaloso face às condições do que poderia ser um fator de concorrência acrescida de Portugal pela sua fronteira atlântica: saídas de produtos pelo mar, em portos bem equipados, bem organizados, competitivos, operacionais. Uma vergonha quando se pode adivinhar que esta situação é um sinal enviado para o mundo onde se decidem investimentos de que Portugal não é fiável.

E, não sendo fiável, como pode um país ser economicamente viável quando não tem portos operativos, rejeita explorar recursos energéticos no subsolo e mantém uma das cargas fiscais mais elevadas da União Europeia?

Só um eleitorado distraído não aproveitará as eleições de 2019 para mudar de vida: falar da Europa não pode ser ignorar as palavras e os atos dos que enfraquecem Portugal perante a mesma Europa.

 

Escreve quinzenalmente


A Europa e a sua negação


Como pode um país ser economicamente viável quando não tem portos operativos, rejeita explorar recursos energéticos no subsolo e mantém uma das cargas fiscais mais elevadas da UE?


Só um eleitorado distraído não aproveitará as eleições de 2019 para mudar de vida

Em 2011, pela mão do Partido Socialista no governo, Portugal apresentava condições de financiamento cada vez mais apertadas, não conseguindo com as sucessivas medidas de austeridade dar confiança aos investidores de que o país seria capaz de pagar as suas dívidas.

Naquele quadro de conjuntura, o que significou, afinal, a assinatura do memorando com a troika e a assistência financeira que durou até maio de 2014 e levou o país a uma perda de soberania financeira? É simples: Portugal tinha estado em risco de soçobrar como membro da eurozona e os cerca de 70 mil milhões de euros emprestados foram a mágica a que recorreram as autoridades internacionais (troika do BCE/FMI/UE) para salvar as finanças públicas do país.

O governo que se seguiu e aplicou o programa assinado pelo governo do Partido Socialista mereceu deste a consideração crítica e amnésica que deixou o país estupefacto, de tal modo que, mesmo com as famílias e empresas em stresse financeiro, não foi capaz de ganhar as eleições que se seguiram, em 2015.

Pode assim dizer-se que, em termos de discurso político sobre a Europa e da participação de Portugal em plenitude enquanto membro da União Europeia, falta autoridade a quem governava o país em 2011 e também a quem foi suporte político daquele governo, como foi António Costa, deixando chegar o país à situação de pré-bancarrota. Como falta hoje essa mesma autoridade para lições de europeísmo eleitoral, perante a situação atual das finanças públicas.

O próprio presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, já chega ao ponto de pedir, numa espécie de ato de ventriloquismo extravagante, ao ministro das Finanças português, Mário Centeno, medidas adicionais para cumprir o Pacto de Estabilidade: “O Eurogrupo convida todos os Estados-membros a ponderar, de forma atempada, as medidas adicionais necessárias para lidar com os riscos identificados pela Comissão e para garantir que os seus orçamentos cumprem com as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento.”

A frase consta do comunicado que o Eurogrupo emitiu em 4/12/2018, na avaliação dos orçamentos dos vários países-membros: Portugal está entre os países a quem é dado o recado.

Por outro lado, Portugal e o Estado português acumulam dívida fora do perímetro orçamental que, só na área da saúde, chegou a 2,7 mil milhões de euros em 2017, segundo o Tribunal de Contas. A dívida histórica e atual de cerca de 250 mil milhões de euros, a maior parte gerada no governo socialista de 2005/2011, cresceu desde 2015 e coloca Portugal na lista cimeira dos três países mais endividados da Europa.

E como se pode evitar uma nova crise e o apelo a uma intervenção a prazo, seja ela qual for, com um crescimento previsto pelo FMI para 2019 de 1,8% do PIB quando a Irlanda em 2019 vai crescer 5,8 %?

Com esta realidade, é surpreendente que, no seu afã de vender pelo país “bacalhau a pataco” em campanha eleitoral, o secretário-geral do PS, António Costa, tenha ido a Castelo Branco afirmar: “Vejam bem se estivéssemos como está hoje o Reino Unido, sem saber o que nos podia acontecer no dia 30 de março se saíssemos da união. Esse é um risco em que, em circunstância alguma, Portugal se pode colocar, e é por isso que vamos continuar a bater-nos por uma Europa que garanta a coesão, a competitividade, a solidariedade, a paz, o desen-volvimento e os direitos humanos.
É essa a Europa que nós queremos e pela qual nos vamos bater.”

Que belas palavras sobre como ser guardião de uma fortaleza que dia após dia o próprio tem tornado mais vulnerável, fazendo questão de estar acompanhado no governo por quem põe a cada dia em causa a própria presença de Portugal na UE e o crescimento da nossa economia: a extrema-esquerda e o Partido Comunista. Como poderia Portugal ter outra realidade quando as empresas não constituem preocupação deste governo?

Veja-se o que está a acontecer com os chamados custos de contexto na área dos portos marítimos, cruciais para facilitar as exportações. De Palmela ao porto de Setúbal distam 8,5 km, ou seja, pela N252, um veículo de carga não demora mais de 20 minutos. De Palmela ao porto de Santander, a distância anda em cerca de 900 km, o que dá mais ou menos 12 horas por caminho-de-ferro.

Foi hoje conhecido que a Autoeuropa decidiu enviar para Santander os carros que produz em Palmela, em vez de os expedir pelo porto de Setúbal.

O significado é claro: incapaz de fazer face à agitação laboral do PCP/CGTP, o governo não oferece custos de contexto favoráveis às empresas, também na área dos transportes. E a administração da Autoeuropa limita-se a assegurar a vida da empresa, antes de, um dia destes, o conselho de administração decidir partir e mudar a fábrica para outro lugar no mundo… Aqui está mais uma razão por que poucos investidores procuram Portugal.

Com governos amigos da demagogia para garantirem o apoio de partidos que garantam o poder e não a criação de riqueza, como ficar de braços cruzados?

O caso é ainda mais escandaloso face às condições do que poderia ser um fator de concorrência acrescida de Portugal pela sua fronteira atlântica: saídas de produtos pelo mar, em portos bem equipados, bem organizados, competitivos, operacionais. Uma vergonha quando se pode adivinhar que esta situação é um sinal enviado para o mundo onde se decidem investimentos de que Portugal não é fiável.

E, não sendo fiável, como pode um país ser economicamente viável quando não tem portos operativos, rejeita explorar recursos energéticos no subsolo e mantém uma das cargas fiscais mais elevadas da União Europeia?

Só um eleitorado distraído não aproveitará as eleições de 2019 para mudar de vida: falar da Europa não pode ser ignorar as palavras e os atos dos que enfraquecem Portugal perante a mesma Europa.

 

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