Banksy.  O mistério visto por quem lhe conhece o interior

Banksy. O mistério visto por quem lhe conhece o interior


É inaugurada este sábado no Porto a exposição “Banksy’s, Dismaland and Others”. Um olhar próximo do fotógrafo Barry Cawston sobre o esquartejar da Disney em “Dismaland” e obras icónicas como “Flower Thrower” e “Walled Off Hotel”. Não oficial, mas o mais perto que estamos de jogar às escondidas


Deus existe? Haverá vida para além da morte? Quem é Banksy? Proverbiais questões ainda sem desfecho mas com uma certeza. “Banksy’s, Dismaland and Others”, do fotógrafo Barry Cawston, é o mais perto que alguma se vez esteve das charadas do mais incógnito dos gigantes da arte.

A exposição não oficial é inaugurada este sábado na Alfândega do Porto. Cawston tem seguido de perto a obra de Banksy, ao ponto de ser “já considerado por muitos como o fotógrafo oficial de Banksy”, apresenta a organização – uma tese sustentada pelo facto de Banksy publicar na sua página na internet as fotografias de Cawston.

Este seguiu as pistas do mistério durante anos por becos e ruelas. “De cada vez que ele faz uma nova peça parece que acerta mesmo no ponto. Há algo de mágico na forma como ele, sem ninguém perceber, cria uma peça de arte, às vezes peças de grande escala. A Dismaland foi um exemplo perfeito disso”, refere em comunicado da exposição.

Em 21 de agosto de 2015, Banksy inaugurou o próprio parque temático em Weston-super-Mare, perto de Bristol. No lugar onde antes se encontrava o parque Tropicana – dez mil metros quadrados abandonados desde 2000 – nasceu uma versão adulterada dos parques da Disney. “Uma exposição de arte e entretenimento para anarquistas principiantes”, descreveu Banksy, que criou dez obras e convidou 58 artistas, entre os quais Damien Hirst e a portuguesa Wasted Rita, a observar o mundo e cortá-lo às postas. Na Dismaland, o castelo da Cinderela era reduzido a um lugar decadente e sem magia rodeado por um tanque com um barco de refugiados e corpos a boiar. Um cinema, minigolfe, uma tenda de circo e a Guerrilla Island, uma elegia à arte de guerrilha.

A exposição mostra 44 fotografias de grande dimensão (240 x 188) de “Dismaland”, o parque por onde também passaram DJ como Fatboy Slim e bandas como Run The Jewels, Savages e Pussy Riot. Haveriam de ser os Massive Attack, de Bristol, como Banksy e Cawston, o coletivo que tem como cabecilha 3D (Robert Del Naja), de quem se diz poder ser Banksy, pela linha temporal paralela entre murais e concertos, a encerrar o parque. Coincidências?

Há vida para além de “Dismaland” na mostra. A reflexão de Cawston prolonga-se a “Flower Thrower”, uma das mais icónicas criações de Banksy. Em 2005, três pessoas foram esfaqueadas e muitas outras ficaram feridas numa manifestação gay em Jerusalém. O artista recriou uma imagem dos protestos pelos direitos civis nos anos 60, cobrindo o rosto ao rapaz que, para se manifestar, atira um ramo de flores. E há ainda o “Walled Off Hotel”, o hotel com a “pior vista do mundo”, junto ao muro da Cisjordânia, em Belém, inaugurado em 2017 e sobre o qual Banksy declarou ao “Channel 4”: “Os muros agora estão em grande, mas eu já gostava deles muito antes de Trump os tornar cool.” O lugar deliberadamente inóspito foi fotografado por Cawston.

A mostra irá incluir ainda “uma instalação audiovisual onde serão projetados documentários sobre Banksy e o seu trabalho – ‘Banksy does New York’ (2014) e ‘Saving Banksy’ (2017)” – realçando as obras, recuperando as polémicas e contextualizado a genialidade.

“Banksy, Dismaland and Others” irá ainda apresentar uma série de trabalhos de jovens artistas portugueses, abrindo a porta a novos nomes do universo da arte urbana. Em abril, a exposição virá para Lisboa.