O programa de debate político da SIC Notícias Quadratura do Círculo vai acabar. Depois de 14 anos a ser transmitido regularmente na televisão, o programa vai para o ar pela última vez no dia 24 de janeiro. A estação televisiva justificou a decisão com “alterações na grelha”.
O diretor de informação da SIC, Ricardo Costa, destacou ao “Diário de Notícias” que “o programa Quadratura do Círculo foi sempre importante para a SIC Notícias e faz parte da sua história”. Mas o objetivo agora é “apostar em novos formatos”.
Foi o próprio Ricardo Costa que, no final do programa na semana passada, já perto da meia-noite, comunicou aos participantes a decisão de acabar com o formato. Mas a decisão não foi bem aceite por todos. José Magalhães, que foi um dos comentadores do formato durante vários anos, afirmou ao i que a Quadratura do Círculo não acaba por uma “quebra de qualidade” ou por “velhice”. “É vítima de uma política que troca facilmente debate livre por zurrapa”, lamenta.
Também Lobo Xavier – que faz parte da equipa atual do programa – reconhece estar triste com a decisão. Em declarações ao “Público”, o antigo líder parlamentar do CDS referiu que o programa lhe vai fazer falta. “Sempre gostei de estar ligado à política, e não tendo possibilidade profissional de estar ligado de modo mais ativo, aquilo era a minha forma de estar. Gostava muito de fazer aquilo”, explicou.
Esta é apenas mais uma das mudanças que têm acontecido nos canais de televisão nos últimos tempos. A guerra de audiências tem falado mais alto e, para o politólogo António Costa Pinto, “a política acabou por perder espaço na televisão”. O especialista explica ao i que atualmente os canais generalistas “dão muito pouco destaque à dimensão política”. Assim, a política é agora abordada maioritariamente nos canais de notícias. Contudo, mesmo nesses canais, “sobretudo no setor privado, o desporto, a vida quotidiana e o comentário de escândalo têm progressivamente ocupado um espaço muito significativo”.
O fim de programas como a Quadratura do Círculo, diz Costa Pinto ao i, pode ter impacto na participação e no interesse dos cidadãos pela política. Isto, porque, como sublinha, o “destaque mediático” dos políticos é essencial para que consigam fazer passar a mensagem. “É uma maneira de chegarem às pessoas. Os cidadãos olham para quem é mediático nos media. E a saliência mediática também é importante para a participação das pessoas nas eleições”, justifica.
Audiências baixam As audiências não foram apontadas como a razão para o fim do programa, mas a verdade é que nos últimos três anos houve uma quebra. Segundo dados da GfK, a média de telespectadores do programa em 2017 foi de 72 100. Em 2018, baixou para 52 600. E, em 2019, quando ainda só foram transmitidos dois episódios, as audiências voltaram a descer para uma média de 44 400 telespectadores.
Desde 2004, o programa é transmitido na SIC Notícias, com a moderação do jornalista Carlos Andrade e os comentários de José Pacheco Pereira, Lobo Xavier e Jorge Coelho. Mas o formato já passou por muitas alterações.
O programa teve origem na TSF, no final dos anos 80, quando se chamava “Flashback” e era transmitido ao domingo. Na altura, era moderado por Emídio Rangel e contava com a participação de José Magalhães, Pacheco Pereira e Vasco Pulido Valente. Depois, Pulido Valente saiu e foi substituído por Miguel Sousa Tavares e, mais tarde, por Nogueira de Brito.
Já a meio dos anos 90, e ainda com o nome “Flashback”, o programa passou a ser transmitido também na televisão, na SIC. E, em 2003, deixou de ser emitido pela TSF, ficando no ar apenas no canal televisivo.
Um ano depois, em janeiro de 2004, o formato de debate político mudou para a grelha da SIC Notícias, com o nome “Quadratura do Círculo”, levando Carlos Andrade para a moderação. Nessa altura, Lobo Xavier entrou para o lugar de Nogueira de Brito.
As alterações não ficaram por aí. O socialista José Magalhães foi substituído por Jorge Coelho e este, em 2008, deu lugar a António Costa. Com eleição de Costa para líder do PS, Jorge Coelho regressou ao programa.
No caso de António Costa, o politólogo Costa Pinto afirma que a Quadratura do Círculo serviu como rampa de lançamento. “Em Portugal, as televisões são – mais do que noutros países – não apenas locais de debate político entre comentadores e representantes dos partidos, mas plataformas de lançamento de políticos. Muitas vezes a participação de políticos ou de candidatos a políticos nestes programas serve para rampa de lançamento para congressos partidários, para eleições internas nos partidos ou para outros lugares de destaque”, explica.