Uma luta desigual


Estará a luta pelos direitos das mulheres em Portugal terminada? Claro que não. No entanto, preocupa-me a profissionalização do feminismo


Não tenho jeitinho nenhum para escrever sobre cinema. Aliás, não sou nem nunca fui um verdadeiro cinéfilo. Gosto de ir ao cinema, o que é algo bastante distinto de perceber de cinema, e gosto principalmente de filmes que nos fazem acordar no dia a seguinte a pensar sobre a sua temática. Foi precisamente isso que me aconteceu hoje.

Não quero ser spoiler, embora o trailer de “On the Basis of Sex” seja por si próprio um resumo daquilo que o espetador vai realmente ver no cinema. O filme resume a vida de Ruth Bader Ginsburg, advogada defensora dos direitos das mulheres e a primeira mulher a ser nomeada, em 1993, para a Suprema Corte americana. 

O filme está bem feito, mas a vida desta jurista é tão interessante, a vários níveis, que o mais chato documentário sobre a mesma pareceria tão entusiasmante como o melhor dos thrillers de Hollywood.

Mais do que uma história de superação pelo trabalho (algo tão malvisto pela esquerda nacional), fala-nos de uma verdadeira história de combate político, académico e social numa América a dois ritmos: o ritmo das ruas, onde se liberalizavam os costumes, e o ritmo do Congresso e dos tribunais, ainda presos a um passado conservador e ignóbil. Qualquer semelhança com a atualidade será mera coincidência.

Também eu – tal como a personagem principal do filme – estudei Direito e, felizmente, quando o fiz já existiam muito mais estudantes mulheres do que homens. Tal como já existiam muitas professoras mulheres. Das minhas colegas da época, duas neste momento são deputadas, muitas têm carreiras firmadas no privado e muitas outras também têm sucesso no setor público. 

A grande questão que me coloco agora, enquanto liberal de direita, é a seguinte: estará a luta pelos direitos das mulheres em Portugal terminada? Claro que não. Continua a existir discriminação em vários aspetos da sociedade, nomeadamente a nível laboral e salarial. No entanto, há um fenómeno que me preocupa: a profissionalização do feminismo. Mulheres que se querem afirmar na sociedade não pelo seu valor profissional (como fez Ruth Bader Ginsburg), mas antes pelo simples facto de serem feministas.

A igualdade entre homens e mulheres conquista-se sempre que há mais um exemplo de uma mulher que consegue ser excelente profissional, boa mãe (se assim o desejar) e tudo o resto que lhe apetecer. Eu, felizmente, conheço vários casos assim e tenho a sorte de estar rodeado de exemplos deste género na minha família, a começar pela minha própria mulher e pela minha mãe, e a acabar na minha sogra. São estes exemplos do dia-a-dia e são estas provas de vida que fazem crescer a luta pela igualdade entre géneros. Estes exemplos valem por mil comícios e milhões de manifestações.

 

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Uma luta desigual


Estará a luta pelos direitos das mulheres em Portugal terminada? Claro que não. No entanto, preocupa-me a profissionalização do feminismo


Não tenho jeitinho nenhum para escrever sobre cinema. Aliás, não sou nem nunca fui um verdadeiro cinéfilo. Gosto de ir ao cinema, o que é algo bastante distinto de perceber de cinema, e gosto principalmente de filmes que nos fazem acordar no dia a seguinte a pensar sobre a sua temática. Foi precisamente isso que me aconteceu hoje.

Não quero ser spoiler, embora o trailer de “On the Basis of Sex” seja por si próprio um resumo daquilo que o espetador vai realmente ver no cinema. O filme resume a vida de Ruth Bader Ginsburg, advogada defensora dos direitos das mulheres e a primeira mulher a ser nomeada, em 1993, para a Suprema Corte americana. 

O filme está bem feito, mas a vida desta jurista é tão interessante, a vários níveis, que o mais chato documentário sobre a mesma pareceria tão entusiasmante como o melhor dos thrillers de Hollywood.

Mais do que uma história de superação pelo trabalho (algo tão malvisto pela esquerda nacional), fala-nos de uma verdadeira história de combate político, académico e social numa América a dois ritmos: o ritmo das ruas, onde se liberalizavam os costumes, e o ritmo do Congresso e dos tribunais, ainda presos a um passado conservador e ignóbil. Qualquer semelhança com a atualidade será mera coincidência.

Também eu – tal como a personagem principal do filme – estudei Direito e, felizmente, quando o fiz já existiam muito mais estudantes mulheres do que homens. Tal como já existiam muitas professoras mulheres. Das minhas colegas da época, duas neste momento são deputadas, muitas têm carreiras firmadas no privado e muitas outras também têm sucesso no setor público. 

A grande questão que me coloco agora, enquanto liberal de direita, é a seguinte: estará a luta pelos direitos das mulheres em Portugal terminada? Claro que não. Continua a existir discriminação em vários aspetos da sociedade, nomeadamente a nível laboral e salarial. No entanto, há um fenómeno que me preocupa: a profissionalização do feminismo. Mulheres que se querem afirmar na sociedade não pelo seu valor profissional (como fez Ruth Bader Ginsburg), mas antes pelo simples facto de serem feministas.

A igualdade entre homens e mulheres conquista-se sempre que há mais um exemplo de uma mulher que consegue ser excelente profissional, boa mãe (se assim o desejar) e tudo o resto que lhe apetecer. Eu, felizmente, conheço vários casos assim e tenho a sorte de estar rodeado de exemplos deste género na minha família, a começar pela minha própria mulher e pela minha mãe, e a acabar na minha sogra. São estes exemplos do dia-a-dia e são estas provas de vida que fazem crescer a luta pela igualdade entre géneros. Estes exemplos valem por mil comícios e milhões de manifestações.

 

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