O frio não vai dar tréguas nos próximos dias e as urgências dos hospitais portugueses já estão a dar sinais de colapso. Basta entrar, por exemplo, no serviço de urgência do Hospital de São José, em Lisboa, para perceber que o método adotado não funciona. O problema agrava-se durante a vaga de frio, mas durante o ano o cenário não melhora substancialmente. Nas urgências do São José existem apenas cinco gabinetes para medicina interna, ou seja, para cinco médicos poderem atender cinco doentes de cada vez. No entanto, quem vai a esta urgência pode ver que há cerca de seis médicos a atender os seus doentes em pé, mesmo no meio do corredor. À hora de fecho desta edição, estavam 28 pessoas na urgência, com um tempo de espera de duas horas de 38 minutos para quem tinha a pulseira “urgente”. Se os médicos apenas atendessem nos respetivos gabinetes, o tempo de espera seria, naturalmente, muito maior. Noutros hospitais do país, o cenário é mais grave, já que o Hospital de Loures ultrapassou as quatro horas de espera entre as 20h e as 21h de sábado. Já ontem à noite, no Hospital de S. João, no Porto, o tempo de espera da pulseira “urgente” era de quatro horas e 20 minutos e no Hospital Santa Maria, em Lisboa, os casos considerados muito urgentes eram 15 e tinham um tempo de espera de uma hora e 20 minutos.
Mas esta é só uma parte do problema e, tal como acontece todos os anos, durante os meses mais frios há um pico de procura nos hospitais. Para Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, o grande problema é a organização do serviço de urgência. Nos últimos dias, de norte a sul do país, os serviços de urgência registaram tempos de espera superiores ao habitual e alguns registaram mesmo sobrelotação do espaço. Por exemplo, a urgência do Hospital do Barreiro, teve o dobro dos doentes em observação – cerca de 60 – quando a sua capacidade é de 28 doentes.
“O governo está a basear a solução nas empresas de prestação de serviços, ao invés de contratar médicos para os serviços, ao invés de desenvolver equipas dedicadas às urgências, ao invés de permitir aos médicos de medicina interna, cirurgia e pediatria que durante um período do ano possam fazer apenas urgência”, diz ao i Jorge Roque da Cunha. A contratação através de empresas externas, leva aos hospitais médicos “que estão desenquadrados das equipas”, “é o pior dos mundos”, acrescenta o secretário-geral do Sindicato dos Médicos. Há apenas um hospital em Portugal onde existe uma equipa que faz só urgência durante um determinado período do ano: a parceria público-privada do Hospital de Cascais.
“A grande percentagem de médicos com mais de 55 anos que continuam a fazer urgências” é uma realidade que não pode ser colocada de parte. “Os quadros do Sistema Nacional de Saúde estão envelhecidos”, refere Jorge Roque da Cunha.
Outro dos problemas que intensifica o mau funcionamento das urgências é a contratação de médicos do ano comum, médicos que não escolheram qualquer especialidade e com pouca experiência. “Não sendo pessoas diferenciadas, naturalmente dificulta o problema”, diz. Estas situações são comuns nos hospitais de Elvas, de Portalegre e na Administração Regional de Saúde do Algarve.
o lado de quem vai à urgência As urgências dos hospitais portugueses estão longe da perfeição. No entanto, é preciso conhecer os métodos de ajuda na área da saúde que estão ao dispor da população. A verdade é que mais de metade dos casos que aparecem nas urgências podiam ser resolvidos através da linha Saúde 24. “A maior parte das pessoas vai diretamente ao hospital, mesmo sabendo que estão lá horas e horas à espera”, e acrescenta que a “esmagadora maioria poderia ser resolvida pela Saúde 24”.
Nos próximos dias, além de ser importante ficar em casa para evitar o frio, em caso de sintomas de gripe, “a primeira atitude é controlar a febre, se as coisas se agravarem, ligar para o serviço Saúde 24 e, só depois, ir ao centro de saúde ou ao hospital”, diz Jorge Roque da Cunha.
A prevenção passa também pela vacinação. No ano passado, em outubro, foram distribuídas de forma gratuita de 1,4 milhões de doses de vacinas para pessoas com mais de 65 anos. Em números, o período crítico de frio do último inverno registou 220 casos confirmados de vírus de gripe e a proporção de vacinados contra a gripe sazonal foi de 14% dos doentes, “menos de metade do observado na época anterior”. lê-se no relatório da Direção-Geral da Saúde. Ainda segundo o relatório, mais de metade dos doentes tinha idade igual ou superior a 65 anos de idade e destes, apenas 13 estavam vacinados contra a gripe sazonal. No total, os números do inverno passado registaram 47 mortes.
Para este ano, os centros de saúde da região de Lisboa e Vale do Tejo já ativaram os seus planos de contingência: foi alargado o período de atendimento aos doentes e as equipas hospitalares foram também reforçadas.