A 3 de Novembro de 2020 os americanos elegem o próximo Presidente. Trump corre o risco de ser apeado da Casa Branca no entretanto, fruto da investigação de Mueller em relação às muitas ligações perigosas durante a campanha presidencial de 2016, ligações que liquidaram já vários colaboradores próximos, alguns membros do seu Governo e estão a começar a chamuscar a família presidencial. Não há muitas dúvidas quanto à probabilidade de Trump vir a ser acusado. Menos provável será a aprovação de um impeachment, o que o dependeria dos votos dos republicanos no Congresso. Mas há um número crescente de vozes que no establishment republicano consideram Trump um perigo para o futuro do partido. A dimensão do perigo dependerá em grande medida da qualidade da candidatura do adversário. No dia de hoje a ameaça democrata é pouco credível, na medida em que as candidaturas presidenciais estão ocupadas pelos personagens vicentinos Todo o Mundo e Ninguém.
Estando a bola no campo democrata, é legítima a pergunta: como é que funciona o mecanismo de escolha de um candidato presidencial nos EUA? A corrida para as eleições de 2020 já começou em 2018, com o anúncio, a 31 de Dezembro, por parte da Senadora pelo Massachussets, Elisabeth Warren, da constituição de um comité exploratório. Esta figura costumeira e pouco regulamentada permite recolher fundos para uma futura campanha para disputar as primárias do partido Democrata. Neste anúncio estão presentes três características das eleições americanas que as tornam muito diferentes das europeias: o procedimento eleitoral é menos densamente regulado pela lei, a angariação de recursos financeiros para a campanha é fundamental (sem dinheiro, desde logo para publicidade paga, não há campanha, mesmo que as sondagens sejam promissoras) e a escolha do candidato presidencial é cometida aos eleitores que se tenham registado como simpatizantes do partido (ainda que no caso do partido Democrata a par dos eleitores existam “super-delegados”, o equivalente às inerências nos partidos europeus e que na convenção para escolha do candidato presidencial podem atenuar, como aconteceu em 2016 em benefício de Hillary Clinton, o voto popular).
O candidato natural e mais próximo do centro eleitoral seria o ex-vice Presidente, Joe Biden. Mais à esquerda surgiria Bernie Sanders, ficando Warren no centro esquerdo do espectro Democrata. Em 2020 terão, respectivamente, 78, 79 e 71 anos. Trump terá então 74 anos e 17% da população terá mais de 65 anos, o que abre boas possibilidades a candidatos menos maduros.
A juventude pode ser emparelhada no ticket presidencial, com o candidato a vice-Presidente, ficando implícita a não recandidatura do futuro Presidente eleito ou até mesmo uma renúncia ao cargo durante o primeiro mandato, o que permitiria a subida à presidência do respectivo vice. Dentro dos tickets mais promissores nas sondagens surge a possibilidade Biden/Michelle Obama (descontada a inexperiência política em cargos eleitos, o que no caso de Trump foi visto como uma vantagem competitiva). Dependendo do desenrolar das primárias, a mais que provável candidatura de Beto O’Rourke poderá dar lugar ao primeiro ou a o segundo lugar num futuro ticket presidencial. Beto, membro da Câmara dos Representantes pelo Texas, é um “jovem” nascido em 1972 e que nas recentes eleições intercalares perdeu a corrida para o Senado contra o incumbente Ted Cruz por menos de 2,5% dos votos.
Como explica a campanha de Elisabet Warren: “If you don’t have a seat at the table you are probably on the menu.”
Escreve à sexta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990