Ultima Thule. O arrepio de um encontro a 6 mil milhões de quilómetros da Terra

Ultima Thule. O arrepio de um encontro a 6 mil milhões de quilómetros da Terra


Imagens mais detalhadas do objeto celeste mais distante alguma vez sobrevoado por uma sonda enviada da Terra serão divulgadas nos próximos dias. Ontem o que parece um pino pixelizado fez história


Depois de dez horas em suspenso, a New Horizons ligou para casa e foi confirmada a primeira grande notícia do ano para a ciência: a sonda conseguiu recolher com sucesso dados do objeto celeste mais distante alguma vez sobrevoado pelo Homem, no caso por intermédio da “exploradora” da NASA lançada para o Espaço em 2006 e que há três anos encantou o mundo com fotografias que mostravam a geologia a formar uma espécie de coração em Plutão. 

Desta vez, o alvo – já numa região conhecida como Cinturão de Kuiper a 6,5 mil milhões de quilómetros da Terra, mas ainda no sistema solar – era o objeto 2014 MU69, batizado de Ultima Thule. As imagens foram capturadas passava meia hora da entrada do Novo Ano nos Estados Unidos e mostram uma configuração em forma de pino. Para já chegou uma fotografia pixelizada, ainda assim melhor do que o ponto que nos últimos meses tinha sido observado pela sonda. 

Estima-se que o objeto tenha um diâmetro de 30 quilómetros e foi descoberto em 2014 através do Telescópio Espacial Hubble. O nome remete para o facto de estar no limite do conhecido. Com a rapidez que é possível partilhar com o mundo uma imagem recolhida a 6 mil milhões de quilómetros da Terra, quase parece já ali.

Alan Stern, investigador principal da missão New Horizons, falou das expectativas em torno da observação. “O objeto está num estado de congelamento tão profundo que está perfeitamente preservado desde sua formação original. Tudo o que vamos aprender sobre o Ultima – desde sua composição à sua geologia, até como foi originalmente formado, se tem satélites, uma atmosfera e esse tipo de coisas – vai ensinar-nos sobre as condições originais de formação de objetos em nosso sistema”, disse. 

Ao todo, a New Horizons terá recolhido 900 imagens e são esperadas fotografias com maior resolução nos próximos dias. Uma das incógnitas é ainda perceber que tipo de objeto ou sistema será. Uma possibilidade é serem dois objetos a orbitar muito próximos um do outro. Nesta região encontram-se várias formações, mundos gelados que serão remanescentes dos primórdios da formação do sistema solar. 

A sonda passou a 3500 quilómetros do Ultima Thule, três vezes mais perto do que esteve de Plutão, e segue agora viagem pelo cinturão de Kuiper, onde deverá continuar operacional até 2021. Para já, fica o feito histórico a inaugurar 2019. “Tal como planeado, a New Horizons fez hoje a exploração mais distante da história a um outro mundo”, disse Stern. “A New Horizons ocupa um lugar nos nossos corações como uma pequena e intrépida exploradora, bem como uma grande fotógrafa”, brincou Ralph Semmel, diretor do Laboratório de Física Aplicada Johns Hopkins. “Este sobrevoo marca uma estreia para todos os nós – o laboratório, a NASA, a nação e o mundo – e é um grande feito para a ousada equipa de cientistas e engenheiros que nos trouxe até aqui”, concluiu.