Indonésia. Tsunami apanhou tudo e todos de surpresa

Indonésia. Tsunami apanhou tudo e todos de surpresa


O tsunami apanhou a população de surpresa. Pelo menos 222 pessoas morreram e mais de 800 ficaram feridas. A causa do tsunami terá sido um desabamento num vulcão em erupção


Uma banda de rock local, Seventeen, estava a meio de uma música quando uma onda gigante arrastou a tenda onde o espetáculo decorria. Um músico da banda morreu e outros quatro estão desaparecidos. O público, esse tentou fugir por onde podia, com muitos ouvintes a serem também arrastados. Não receberam nenhum alerta.  

É uma imagem que espelha a surpresa com que os indonésios e as autoridades daquele país se viram confrontados às 21:30 (14h30 em Portugal) de sábado nas zonas costeiras do Estreito de Sunda, nomeadamente nas ilhas de Java e Samatra. Pelo menos 222 pessoas perderam a vida e outras 843 ficaram feridas – várias dezenas de pessoas estão desaparecidas. As autoridades indonésias já alertaram que o número de vitimas mortais deverá subir nos próximos dias com o decorrer das operações de busca e salvamento. Não se registaram quaisquer vítimas portuguesas até ao momento (ver texto ao lado). 

“O tsunami atingiu várias zonas do Estreito de Sunda, incluindo as praias da província de Pandeglang e a sul de Lampung”, explicou a agência de metereologia, climatérica e geofísica indonésia em comunicado. 

Os relatos de quem conseguiu sobreviver começaram a surgir nas redes sociais. Um deles foi o do fotógrafo norueguês Øystein Lund Andersen, que estava a passar férias com a família numa das zonas afetadas: “Tive de correr quando a onda passou a praia e chegou a 15-20 metros dentro da costa”, contou. “A onda seguinte entrou no hotel onde estava hospedado e derrubou carros na estrada atrás. Consegui deslocar a minha família para terreno elevado por caminhos de floresta e aldeias, onde os locais tomaram conta de nós”. 

O cenário das zonas afetadas está repleto de destroços vários,  estradas bloqueadas, carros virados do avesso, postes de eletricidade e árvores caídas e inundações. Segundo as autoridades indonésias, 556 casas, nove hotéis e 60 lojas ficaram destruídas, a que se somam 350 barcos danificados. Devastação que tem levantado dificuldades às equipas de emergência que tentam chegar às zonas afetadas. “Equipamento pesado está a ser destacado para ajudar na deslocação [das populações]”, garantiram as autoridades locais em comunicado. Ontem, um novo alerta foi emitido, vindo-se a saber que era falso. Suspeita-se de avaria técnica. Mas receia-se que novos tsunamis atinjam o país. 

Vítima de tsunamis A Indonésia é comummente palco de terramotos e tsunamis por estar localizada no “Anel de Fogo” do Pacífico, obrigando as autoridades a terem um sistema de alerta para esses fenómenos. Mas desta vez não correu tudo bem, com as autoridades a não terem alertado as populações para a ameaça de tsunami por este ter sido o resultado da entrada em erupção do vulcão Anak Krakatau, um dos 127 vulcões criados na sequência da erupção de um super vulcão, o Krakatoa, em 1883, e que matou mais de 36 mil pessoas, e não de um terramoto. 

“A instabilidade do declive de um vulcão ativo pode dar origem a um deslizamento que movimento uma grande quantidade de água, criando um tsunami local cujas ondas podem ser muito fortes. É como atirar um saco de areia para uma banheira cheia de água”, explicou Ben van der Pluijm, geólogo e professor na Universidade de Michigan, EUA, ao “Guardian”. Para a força do tsunami terá, acrescentou a Agência de Desastre indonésia, contribuído uma maré anormalmente alta por causa da lua cheia. 

Há meses que o Anak Krakatau está ativo, mas na passada sexta-feira entrou em erupção por dois minutos e 12 segundos. As autoridades emitiram avisos para que ninguém se aproximasse da cratera num diâmetro de dois quilómetros, mas a possibilidade de um tsunami nunca surgiu nos cálculos. A movimentação da maré foi detetada pelas autoridades, mas por não se ter registado nenhuma terramoto decidiram não emitir qualquer alerta. Ontem, o porta-voz da agência de desastre indonésia, Sutopo Purwo Nugroho, pediu publicamente desculpas ao povo indonésio e o presidente indonésio, Joko Widodo, lamentou as vítimas. 

“As boias de alerta de tsunami estão posicionadas para alertar para tsunamis criados por terramotos nos limites subaquáticos das placas tectónicas”, disse David Rothery, professor da Open University, à AFP. “Mesmo que existisse uma boia ao lado do Anak Krakatau, estaria tão perto das zonas costeiras afetadas que o tempo de alerta seria mínimo dado a elevada velocidade a que as ondas do tsunami avançaram”. 

Em setembro deste ano, 832 pessoas perderam a vida na sequência de um terramoto seguido de tsunami que atingiu a cidade de Palu, na ilha de Sulawesi. No entanto, o maior desastre a flagelar o país aconteceu há precisamente 14 anos atrás, a 25 de dezembro de 2004, quando um terramoto de 9,3 na escala de Richter produziu um tsunami que atingiu 12 países, matando 220 mil pessoas, das quais 168 mil só na Indonésia.