Daniela queria surpreender os bombeiros de Baltar. “Nunca a esqueceremos”

Daniela queria surpreender os bombeiros de Baltar. “Nunca a esqueceremos”


Funeral da enfermeira de 34 anos que perdeu a vida no acidente de sábado com um helicóptero do INEM realiza-se hoje. Daniela Silva morreu a poucos quilómetros da terra da família, numa tarde que iria ser de convívio com amigos e colegas dos bombeiros. DIAP do Porto abriu inquérito


O funeral da enfermeira Daniela Silva, do INEM, realiza-se esta manhã após ter estado toda a noite em câmara ardente no quartel dos Bombeiros Voluntários de Baltar (Paredes), onde era voluntária há 20 anos e onde esperava ter passado no serão de sábado. O helicóptero do INEM despenhou-se a poucos quilómetros dali, na serra de Santa Justa.

No funeral comparecerão, entre outras individualidades, o Presidente da República, assim como o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, segundo está previsto, mas as maiores manifestações de pesar, que começaram no próprio dia da tragédia, voltaram a sentir-se ao final da tarde de ontem, com a chegada do corpo de Daniela Silva, bombeira voluntária em Baltar, sempre com muita gente anónima daquela vila e de outras localidades dos arredores do Porto a encher a capela. O velório foi alternando com entradas e saídas de amigos da vítima, dada a exiguidade do espaço. Ao lado dos familiares estiveram dezenas de elementos dos corpos ativo e de honra daquela corporação de bombeiros.

Daniela Alexandra Oliveira e Silva, de 34 anos, cresceu em Baltar e tinha residência na vila. Ia agora deixar temporariamente o voluntariado na corporação à qual estava ligada desde logo por laços familiares – o seu tio-avô, Fernando Silva, é comandante honorário, enquanto o pai, José Silva, faz parte do corpo de honra. A irmã, Diana Silva, de 27 anos, igualmente enfermeira de profissão, é também voluntária na corporação, assim como o seu namorado, Pedro Silva.

Surpresa afinal trágica Por razões profissionais, Daniela Silva iria suspender o voluntariado onde militava desde os 14 anos de idade, pelo que no sábado à noite todos na corporação de Baltar queriam a sua presença. Como estava agora ao serviço da emergência médica em Macedo de Cavaleiros, no distrito de Bragança, a jovem com mágoa comunicou que não poderia estar no convício natalício.

Ao princípio da tarde de sábado, Daniela teve que se deslocar no helicóptero do INEM, com o médico Luís Veja, veículo tripulado pelo piloto João Lima e pelo copiloto Luís Rosindo, a fim de transportar uma idosa com problemas de ordem cardíaca ao Hospital de Santo António, no Porto, ficando livre a meio da tarde. Ao saber que a aeronave teria de ser reabastecida no Heliporto dos Bombeiros Voluntários de Baltar para o regresso a Trás-os-Montes, percebeu que afinal poderia passar pela festa. Teria oportunidade de surpreender os colegas bombeiros, convivendo com eles pelo menos durante o tempo de reabastecimento do helicóptero ao serviço do INEM, até porque também tinha diversos familiares na festa.

Mas a surpresa acabou por ser trágica. Quando durante a festa se soube da queda do helicóptero a caminho de Macedo de Cavaleiros, colegas e famílias começaram logo a temer que o acidente pudesse ter vitimado Daniela, porque sabiam que estaria a trabalhar no fim da semana. À partida não seria sábado, mas a jovem tinha aceitado trocar o turno com uma colega. A festa terminou assim que se confirmou o pior.

Ao i, o comandante da corporação dos Bombeiros Voluntários de Baltar, Delfim Cruz, lembrou “as qualidades humanas e profissionais” de Daniela. “Nunca a esqueceremos, esteve 20 anos a trabalhar connosco e estávamos à espera dela na nossa Festa de Natal quando a tragédia aconteceu, fomos todos apanhados de surpresa, ficamos consternados, foi indescritível aquilo que se viveu e ainda vive aqui com toda a situação”.

 DIAP do Porto investiga A Procuradoria Geral da República confirmou ontem ao i a instauração de um inquérito para apurar as circunstâncias que rodearam a ocorrência. As investigações são dirigidas pelo Ministério Público do DIAP do Porto, adiantou fonte oficial da PGR. As diligências juntam-se ao inquérito pedido pelo MAI e à investigação do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários, que prevê apresentar ainda esta semana uma primeira avaliação do acidente. Para já, o GPIAFF revelou que tudo indica que a queda da aeronave aconteceu na sequência da colisão com uma antena emissora existente na zona. Segundo i apurou, foram encontrados destroços do aparelho ao longo de 800 metros, um embate muito violento. Dois dos ocupantes foram cuspidos. Uma das vítimas foi encontrada a 80 metros do helicóptero. Com M.F.R.