Macron, “o cobarde”


O atual presidente de França revelou-se um homem fraco, no polo oposto do que é ser um estadista. E não tem a mínima noção do que é o país que governa


Citando o próprio, disse um dia Charles de Gaulle: “Toda a minha vida senti em mim uma certa perceção de França.” Pois bem, julgo que o atual presidente, Emmanuel Macron, não só não tem o mesmo sentimento como, de resto, não deve ter absolutamente nenhum outro. Revelou-se um homem fraco, no polo oposto do que é ser um estadista. Conheço bem França, é um país muito característico no que toca à sua governação. Sempre foi. Se analisarmos a sua história, talvez tenha sido dos poucos territórios em que, efetivamente, as grandes revoltas que fizeram cair regimes e levantar outros tiveram uma real origem popular. O francês gosta de estar na vanguarda do poder mundial. Uma vez lá, é capaz de idolatrar os seus líderes, como fez na sua época com Napoleão ou mesmo com Luís xiv. Porém, quando sente que lhe estão a ir ao bolso em demasia, revolta-se e, com o mesmo fervor com que respeita os seus líderes, assim os depõe. Os tempos são outros, já não se corta a cabeça a reis. Mas esta semana fiquei convencido de que Macron, contrastando com De Gaulle, não tem a mínima perceção do que é o país que governa. A manifestação e, não tenho medo de arriscar dizer, a revolta dos coletes amarelos é por si só, para quem conhece Paris, algo difícil de imaginar. Ver a cidade iluminista e o Arco do Triunfo, símbolo da grandeza gaulesa, nas mais profundas trevas é algo que muitos de nós, se não víssemos, não acreditávamos. Um verdadeiro clima de guerra civil nos tempos modernos. Ora, em primeiro lugar, parecem legítimos os gritos de revolta dos manifestantes, pois França, tal como noutros tempos, e como outros países da Europa estão a fazer, continua diariamente a explorar os seus cidadãos com aumentos de impostos brutais. Creio que, neste domínio, aquilo que começou como uma tomada de posição contra o aumento dos combustíveis se transformou rapidamente num protesto a toda a fiscalidade francesa, que é absurda. Mas aqui chegado e, deixando a política interna para os franceses, há algo que igualmente impressiona pela negativa. E isso, sim, podemos comentar. A desfaçatez com que o presidente Macron encarou a situação, estando-se verdadeiramente marimbando para o que se passava em Paris, preferindo continuar o seu périplo já nem sei bem por onde. Como é possível um líder de um qualquer território mergulhado neste tipo de problemas não regressar imediatamente a casa e dar ele próprio a cara pela resolução do conflito em curso? Como é possível, perante o sucedido, realizar-se uma reunião de urgência no Eliseu e o seu principal inquilino não estar ao lado do governo e ao lado da própria França? Não encontro outra explicação senão a da falta de caráter, demonstrativa do medo, do desdém e da cobardia de alguém que se revelou inapto para as funções que representa. Um verdadeiro líder não foge! É minha convicção que Macron, como outros chefes de Estado do seu país, vai agora ser trucidado pelo povo. Exigir-lhe-ão certamente a demissão. Faria bem o próprio em antecipar-se, ter um breve laivo de honradez, assumir a vergonha da sua atitude e, por si só, demitir-se.

 

Escreve à sexta-feira