Marcelo Rebelo de Sousa falou ontem em “naturais diferenças”, em “direitos humanos” e na “legítima ambição” das pessoas “à liberdade, à igualdade, à dignidade”, no meio de um discurso de boas–vindas ao presidente chinês, que ontem iniciou uma visita oficial de dois dias a Portugal, a primeira de um chefe de Estado da China desde 2010.
Num discurso assente nas relações históricas entre os dois povos e numa cooperação que se pretende “sustentada e duradoura no futuro”, o Presidente da República sublinhou que 2019 será o ano “da China em Portugal e de Portugal na China”, porque se assinalam não só os 40 anos do estabelecimento de relações diplomáticas, mas também os 20 anos da transição de Macau para a soberania de Pequim.
Nesse balanço, Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou para soltar a novidade de que em abril do próximo ano visitará oficialmente a China, onde assistirá ao segundo Fórum Uma Faixa e Uma Rota, que reunirá os chefes de Estado e de governo dos países que aderiram a esta iniciativa chinesa de cooperação internacional. O chefe de Estado garantiu “a presença portuguesa na iniciativa Uma Faixa e Uma Rota, no próximo ano, através do Presidente da República Portuguesa, correspondendo a convite acabado de formular por vossa excelência e já aceite”, disse.
“Trabalharemos em conjunto para a valorização do papel do direito internacional, das organizações internacionais, a começar nas Nações Unidas”, disse Marcelo, numa “parceria que desejamos continuar a construir, com diálogo político regular e contínuo”. Diálogo esse que Marcelo deseja que venha “defender o multilateralismo, os direitos humanos, a resolução pacífica dos conflitos” e que apoie “o livre-comércio e as pontes de entendimento entre Estados e povos”, bem como esteja atento “ao ambiente e às alterações climáticas”.
“O mundo de hoje exige que os povos e os Estados superem as naturais diferenças de história, de cultura, de visão da sociedade, e criem condições para mais paz, mais segurança, mais justiça, para que mais se respeite a legítima ambição das pessoas, em todo o mundo, à liberdade, à igualdade, à dignidade”, disse o Presidente da República.
Salientando que a primeira visita de Xi Jinping a Portugal “pode fazer História”, Marcelo terminou a afirmar que “é nosso dever garantir que essa história contribuirá mesmo para a felicidade dos nossos dois povos”.
Xin Jinping foi ouvindo e esboçando, aqui e ali, uns sorrisos, falando depois sobre a reunião alargada que manteve com o seu homólogo, antes da declaração conjunta dos dois chefes de Estado. Na primeira vez em que falou aos jornalistas nesta visita, que começou com a tradicional deposição de uma coroa de flores no túmulo de Camões, Xi citou os dois países como “amigos e parceiros”, sublinhou que “a relação sino-portuguesa está a entrar no seu melhor período histórico” e referiu-se a Portugal como “membro importante da União Europeia” que pode ajudar à “promoção e aprofundamento” da “parceria estratégica global entre a China e a UE”.
Xi Jinping, que terminou a sua declaração a citar um provérbio português sobre amizades – “vinho, azeite e amigo, quanto mais antigo, melhor” –, explicou que os dois países vão “gerir a relação do ponto de vista estratégico e de longo prazo” através de “um intercâmbio de alto nível e intercâmbio entre departamentos governamentais, assembleias e partidos políticos”.
“Portugal tem uma posição geográfica e é um ponto de ligação da Rota da Seda marítima e terrestre. A nossa cooperação no âmbito de Uma Faixa e Uma Rota tem as suas vantagens naturais e vamos fortalecê-las de forma plena, neste quadro, para abrir novas áreas para a nossa cooperação e benefícios recíprocos”, acrescentou o presidente chinês.
O porto de Sines poderá passar a ser o “elo de ligação” entre a Rota da Seda marítima e a Rota da Seda ferroviária, “uma possibilidade que traz vantagens para Portugal, para a China e para a UE”, como referiu o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, na sua recente entrevista ao “Sol”.