Portugal e Angola /Angola e Portugal


A aldeia global exige hoje a quem está na esfera políticaa capacidade de ver para além dos seus dias


Depois da badalada visita de António Costa a Angola, aguardava-se com natural expectativa a visita de João Lourenço a Portugal. E, em primeiro lugar, devo confessar que me agradou a forma como o presidente angolano se apresentou no nosso território e a forma como também aos portugueses se dirigiu.

É sabido que Portugal e Angola têm nos últimos anos andado de costas voltadas e, como sempre acontece, as culpas nestes episódios não existem de um só lado da barricada. Porém, é hora de serem dadas as mãos com efetividade daí advindo futuros e produtivos retornos para todos.

Sou dos que considera que Portugal, Angola e todos os restantes países da lusofonia têm, por culpa própria, negligenciado ao longo dos tempos uma importância que pela sua dimensão seria real e das mais fortes no mundo moderno. Digo isto sem qualquer saudosismo pelo passado histórico. Digo isto sem o menor laivo de hipotética autoridade que Portugal pela História ainda pudesse sentir dever exercer sobre os territórios em questão. Digo-o isso sim, por considerar que as populações de todos estes territórios, se tivessem no seu comando líderes empenhados numa colaboração efetiva e verdadeira, conseguiriam dessa forma estar na cena internacional de uma maneira que considero só equiparável às grandes potências mundiais.

Claro que me dirão que existem ainda hoje fortes assimetrias entre os territórios em causa. Claro que existem. Outros dir-me-ão que certas lembranças do passado deixaram marcas ainda não ultrapassáveis. Eu respondo que de facto existem. Mas é hora, de uma vez por todas, se dar um passo em frente. Um passo seguro e profícuo na melhoria das condições de vida das populações. É difícil? Será com certeza. Mas não é impossível.

A aldeia global exige hoje a quem está na esfera política a capacidade de ver para além dos seus dias e, é por não se verificar esta capacidade que está tudo tão cansado dos mesmos paradigmas, dos mesmos problemas e das mesmas soluções. Ou melhor, da falta delas. Confesso enquanto português que, sincera e genuinamente tenho muito apreço por todos os países que falam a língua de Camões. Não quer dizer que não tenha pelos outros, mas tenho mais por estes. Dessa forma, termino repetindo o que já antes reiterei. Haja coragem de transformar este apaziguamento entre Portugal em Anglo em mais do que simples protocolo. Não a qualquer preço. Não a qualquer custo. Mas que os governantes se unam nessa demanda, pois dessa forma deixarão a todos uma herança em tudo muito maior do que aquela que todos quantos antes de nós cá andaram nos deixaram.

 

Escreve à sexta-feira