O Bloco, o PCP e até alguns dirigentes do PS gritavam há uns anos contra o FMI, contra a intervenção externa e contra uma maioria de direita que dizia querer “ir além da troika”. Vivíamos dias quentes nas ruas – com manifestações, greves e até com comentadores de direita que pressionados pela opinião pública mudavam subitamente de lado político.
Ontem, o governo anunciou que ia pagar antecipadamente o empréstimo ao FMI. É uma atitude que é de louvar. Não o digo em tom jocoso ou irónico, acredito mesmo que é importante um país ser cumpridor. No entanto, acho interessante – passados estes anos todos, que os partidos de esquerda, empurrados pelo bom clima económico internacional, se tenham transformado nos “bons alunos” da Comissão Europeia e estejam sempre tão preocupados com o défice e as metas orçamentais.
Acontece que a economia não continuará sempre a crescer a nível mundial. É tudo uma questão de ciclos e, mais cedo ou mais tarde, acabará por acontecer outra crise internacional que nos deixará novamente vulneráveis. Porque os nossos problemas estruturais mantêm-se exactamente os mesmos: desequilíbrio da balança comercial, falta de competitividade das empresas, legislação laboral retrógrada, excesso de gastos do Estado com a função pública, carga fiscal estupidamente alta para as empresas e famílias, resistência à mudança por parte dos sindicatos e corrupção. Enquanto não resolvermos os problemas basilares da sociedade portuguesa, não conseguiremos ser um país verdadeiramente desenvolvido e com qualidade de vida.
É a obrigação de um governo que lidera o país num bom clima económico internacional, fazer as reformas que são necessárias para que nunca mais voltemos ao descalabro financeiro que aconteceu após a governação de José Sócrates – onde figuraram, aliás, vários actuais ministros, entre eles o próprio António Costa. Nesse aspecto, estes 4 anos de Geringonça foram 4 anos perdidos.
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