Em junho, a administração Trump anunciou que tinha criado um campo provisório num local do deserto do Texas para albergar provisoriamente 360 crianças migrantes. O campo de detenção de Tornillo, construído com tendas de campanha, deveria ter existido apenas por 30 dias, mas não só não foi encerrado como a sua dimensão cresceu exponencialmente e, tudo indica, irá continuar.
No princípio desta semana, diz a Associated Press, que visitou o lugar, estavam detidos no campo 2349 jovens adolescentes entre os 13 e os 17 anos, rapazes e raparigas, sobretudo da América Central, que dormem em beliches montados nas tendas de campanha. O campo fica no deserto do Texas, não muito longe da fronteira com o México.
O campo provisório parece ter-se tornado permanente, tendo em conta que 1300 dos adolescentes atualmente detidos no campo chegaram desde o final de outubro. Com o mesmo corte de cabelo e t-shirts e calças distribuídas pelo governo, os adolescentes circulam entre as tendas em fila indiana, guardados por funcionários à frente e atrás.
O campo de Tornillo é, neste momento, a segunda maior prisão dos Estados Unidos, superada apenas por uma das 204 prisões federais do país em número de detidos.
Os custos de manutenção de Tornillo também parecem ter disparado, conjuntamente com o aumento da população de detidos, superando já em 50% o valor inicialmente anunciado pelo governo federal dos EUA. A AP fala num custo que pode chegar a 430 milhões de dólares. Isto mesmo quando as autoridades fecham os olhos ao facto de a organização que gere o campo não cumprir com as exigências mínimas da legislação federal para este tipo de instalações. Segundo a lei, este tipo de albergues para jovens requer que tenha um clínico especializado em saúde mental por cada 12 adolescentes, mas funcionários do campo disseram que em Tornillo existe apenas um por cada 50 detidos.
Apesar de o governo anunciar que irá encerrar o campo até ao final do ano, a tarefa é quase impossível porque não existem 2300 vagas em outras instalações para transferir os adolescentes. Os planos para encerrar o campo já foram adiadas três vezes desde o verão. E a AP garante que teve acesso a um contrato que deixa em aberto a possibilidade de manter a funcionar as instalações até 2020.
Os adolescentes de Tornillo não foram separados das famílias no verão passado (mesmo que alguns deles tenham sido detidos nessa altura), mas acabaram neste canto do deserto do Texas porque o endurecimento da política fronteiriça dos EUA resultou num recorde de menores migrantes detidos – neste momento há mais de 14 mil em centros de detenção, a maioria provenientes da América Central, chegados aos EUA com a esperança de se juntarem às suas famílias.
“As poucas vezes que me deixavam telefonar à minha mãe, dizia-lhe que qualquer dia me libertavam, mas, na verdade, aquilo que sentia é que ia ficar ali o resto da minha vida”, diz à AP um jovem hondurenho de 17 anos que esteve no campo desde o princípio do ano e foi recentemente libertado.
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EUA têm mais de 2300 menores detidos num campo no deserto
Conjunto de tendas destinava-se a albergar provisoriamente crianças migrantes, mas alargou-se e pode vir a custar 430 milhões de dólares