Quem nunca andou à procura de um determinado artigo que viu um influenciador usar numa fotografia publicada nas redes sociais? Os looks e #oodt (outfits of the day) são uma das áreas que podem gerar mais negócio quer às marcas quer aos influenciadores. E a Spot – uma aplicação que permite identificar objetos nas imagens redirecionando-os imediatamente para a loja virtual – vai trazer uma nova dinâmica às vendas online.
“Vai ser possível, a partir de uma fotografia normalíssima de um look, por exemplo, de uma Cristina Ferreira, encontrar-se a saia, as calças ou a camisola que está a vestir”, explica Tiago Froufe, CEO da Luvin, a empresa que representa o mercado português junto da Spot.
A aplicação, que funciona de forma independente das redes sociais, torna as imagens e vídeos interativos. Ao colocar um ponto (spot, em inglês) numa determinada parte da imagem, é possível agregar uma ligação à loja virtual.
“Com esta realidade, nós precisamos de criar conteúdos que sejam diferenciadores, interativos e estimulem o clique para os consumidores irem aos sites, já que os banners não funcionam como deviam”, acrescenta o responsável.
O serviço da Spot abrange muito mais do que a indústria da moda. Pode ser usado em parceria com cadeias de supermercados, com marcas de automóveis ou até mesmo com instituições públicas. Por exemplo, numa página de receitas, a aplicação pode juntar todos os ingredientes necessários à confeção e adicioná-los a um carrinho, bastando ao cliente alguns cliques até que as compras sejam entregues em casa.
“Existe também uma outra particularidade da Spot, que é a possibilidade de a aplicação ser ligada à frente de uma televisão e, através de tecnologia de reconhecimento, e à medida que o programa ou série está a dar, a aplicação vai reconhecendo cada uma das peças que o ator veste, o local de filmagem ou o carro que está a passar e que eles querem promover, enviando uma notificação, por exemplo, a dizer ‘experimente, marque já o test drive’”, acrescenta Tiago Froufe. O sistema tem vindo a ser implementado em Portugal, com principal foco na vertente televisiva. “Estamos a fazer algumas abordagens a canais e às produtoras, já a pensar neste software para televisão”, explica o CEO, acrescentando que a aplicação tem apresentado “dados muito bons noutros países onde já foi implementada”.
A ligação entre o comércio tradicional e as vendas online constitui cada vez mais um desafio para as empresas. “Agora, o consumidor está à procura de uma experiência ‘omnichallenge’”, reconhece Bruno Gavino, CEO da Code Design, uma empresa especializada em e-commerce. Enquanto os smartphones permitem já uma experiência digital em loja – com o consumidor a poder pesquisar quer as características de um determinado produto, quer os preços praticados noutras lojas -, a passagem para o digital não é nem gratuita nem natural. “As pessoas têm a ideia de que ir para o online é mais simples do que na realidade é”, alerta Gavino. “Quem está num retalho tradicional e queira passar para o online tem de pensar que o conceito ‘loja online’ foi intencional. A loja online tem de ter uma renda, tem de ter pessoas responsáveis pela loja, tem de ter pessoas que lá trabalham, tem de ter pessoas no backoffice, tem de ter pessoas no armazém. Não serão as mesmas pessoas que teria numa loja tradicional, mas tem de ter uma estrutura que suporta aquela operação online.”
Quando uma empresa inicia a sua experiência e-commerce, os horários fixos para a loja aberta – por exemplo, das 10h00 às 19h00 – terminam e as compras passam a ser feitas a qualquer hora, até mesmo às duas da manhã, numa noite de insónia. “A experiência que tenho às 2h00 tem de ser tão boa como a experiência que tenho na loja”, afirma o CEO da Code Design, reforçando que “agora a operação não para, as campanhas nunca se desligam, a segmentação está sempre lá, e isso transforma o negócio.”
Enquanto o consumidor procura uma experiência mais completa, o e-commerce traz também ao vendedor um conjunto de informações sobre os seus clientes. “No dia em que as empresas deixarem de tratar o digital como mais um canal, o digital tem uma capacidade de entrega de dados, de informação, de um conhecimento profundo do consumidor que até hoje nunca existiu”, explica Bruno Gavino, acrescentando que muitas empresas acabam por precisar de ajuda para a gestão da venda online.
Da procura à venda direta Uma das “rendas” que Bruno Gavino identifica no e-commerce é o investimento em publicidade necessário para que o consumidor chegue até à página da empresa e acabe a converter a sua visita numa compra. E um dos principais canais é o Google. O motor de busca permite a compra de AdWords (palavras de anúncio), em que sempre que haja uma pesquisa por aquela palavra, o anúncio aparece em destaque. “A grande vantagem, na perspetiva da marca, é que as pessoas, quando iniciam uma pesquisa, já estão com predisposição para receber informação sobre aquele contexto”, explica Gavino.
O motor de busca disponibiliza sete lugares para conteúdos patrocinados – os quatro primeiros resultados e os três últimos da página – através de um sistema de leilão que “permite que empresas muito pequenas surjam a par com empresas muito grandes”, o que, para o responsável, é “o fator disruptivo do Google”. O pagamento da publicidade é feito por clique ou por pesquisa, o que significa que “não há necessidade de grandes investimentos” porque, “se não houver pesquisa, não há sequer despesa”. Este modelo contrasta com os tradicionais outdoors, em que a empresa tinha de fazer um avultado investimento inicial para conseguir publicitar o seu negócio.
“As pessoas não têm ideia de quão avassaladores são os números das pesquisas e qual é a dimensão desse mundo, porque não o vemos e não conseguimos contar as lojas que existem”, explica o CEO da Code Design, acrescentando que “para determinadas keywords, há centenas de milhares de pesquisas feitas a cada minuto.”
No entanto, Sérgio Gonçalves, CEO da Live Content, considera que este mecanismo de divulgação “está quase fora da área da publicidade”. “Quando as pessoas nos procuram – nomeadamente, fazem uma pesquisa no Google e a empresa paga pelo resultado -, isso não tem bem a ver com a publicidade. É mais venda direta, porque a pessoa está à procura”, explica. “A esmagadora maioria das pessoas, das marcas e dos nossos clientes precisam de publicidade, no sentido de irmos atrás das pessoas.” Acrescenta ainda que os consumidores não costumam sair da sua zona de conforto, por exemplo, o feed das redes sociais.
Além disso, “tudo o que se faz online é possível medir”, lembra Bruno Gavino, o que significa que, se uma campanha publicitária não está a resultar, é possível, a qualquer momento, retirá-la e substituí-la sem que isso implique um grande custo para a empresa. “Nós podemos lançar um anúncio, ver que não funciona, anular em uma ou duas horas, mudar para outro, e para outro, as vezes que forem necessárias até atingirmos os nossos objetivos. Isso é algo que não é possível nos meios tradicionais.”