Francisco Álvares Botelho, funcionário da Fazenda Pública, dá o primeiro passo ao convocar, em março de 1840, a primeira reunião do Plano do Montepio Literário, na Academia de Belas Artes, mas nessa altura não sabia que estava prestes a criar aquela que viria a ser a maior associação mutualista portuguesa. A Álvares Botelho, o funcionário público considerado o fundador do Montepio, juntaram-se, na altura, 269 participantes. Quatro anos depois, a iniciativa ganhou um novo fôlego ao adotar uma nova designação – Montepio Geral – e com a abertura a novos associados que não apenas funcionários do Estado.
Assente nos valores da liberdade, igualdade, responsabilidade e solidariedade, as grandes preocupações do mutualismo do Montepio centraram–se na proteção e no futuro dos associados, num tempo em que a segurança social ainda não tinha dado os primeiros passos.
A verdade é que a instituição foi crescendo e conta agora com mais de 630 mil associados. Estes apresentam-se como acionistas e clientes do banco e, no final do ano, têm direito a receber dividendos consoante os resultados da associação.
Ao longo dos anos, a instituição foi apostando na oferta seguradora – através da Lusitânia – e em produtos diversificados de poupança que foram conquistando os clientes portugueses. Mas ao contrário da oferta tradicional da banca, nos produtos mutualistas a poupança é rentabilizada desde que o associado mantenha o vínculo associativo, durante o período de tempo em que a subscrição esteja ativa – tudo isto pensando nas poupanças a longo prazo, variando a média entre os 15 e os 20 anos.
Por isso mesmo, os produtos apresentam um custo para quem não quer pensar a longo prazo. Isto significa que resgatar a poupança mais cedo traduzir–se-á em penalização e até na perda de rendimento.
Além disso, para subscrever uma modalidade mutualista do Montepio tem de se tornar associado e, para tal, assegurar o pagamento de uma joia inicial e da quota mensal associativa. O montante da sua poupança e a quota da modalidade podem ser fixados à partida, concretizando-se em poupanças regulares programadas, ou serem entregues de modo não programado.
Benefícios
Por ser associado e por pagar uma quota mensal – um euro para associados até 2015 e dois euros a partir daí –, o mutualista tem acesso a uma série de vantagens, nomeadamente no que diz respeito à isenção de comissões mensais, assim como a vários descontos nos mais variados serviços, desde saúde a lazer, entre outros. É o caso de hotéis, restaurantes. serviços óticos, centros de estudo, entre muitos outros exemplos, mediante a apresentação do cartão de associado, ou seja, funciona na mesma modalidade do famoso Cartão Jovem. Daí ser disponibilizado ao cliente um livro de descontos. Estes também estão disponíveis no site da associação.
Mais recente é a aposta do Plano Montepio Saúde, que consiste num conjunto de benefícios orientados em exclusivo para os associados e destinados ao acesso a cuidados de saúde diferenciados, em condições de preços convencionados e mais vantajosos, prestados por médicos, clínicas e hospitais de referência que integram esta rede. “Tem o objetivo de proporcionar a excelência médica privada aos nossos associados, a custo reduzido, tornou-se uma realidade gratificante. Mais de seis mil utilizações mensais do Cartão Montepio Saúde, num valor superior a 3,4 milhões de euros de descontos para os associados, refletem uma estratégia certeira de benefícios e a confiança de respondermos às suas necessidades como associado”, garante a entidade.
Outra novidade diz respeito ao projeto Montepio U Live – Residências para Estudantes, que nasceu em 2016 com o objetivo de proporcionar aos estudantes alojamento de qualidade no centro das grandes cidades a um preço acessível. Serão cerca de 200 quartos disponíveis em zonas nobres de Lisboa, Porto e Évora, com um preço médio inferior a 400 euros e onde é oferecido um desconto de 10% no valor da mensalidade aos associados..
Além disso, por a Associação Mutualista Montepio ser a única dona do banco, acaba por fazer uma “venda cruzada” entre as duas instituições e o banco financia-se com produtos da associação mutualista. É frequente um cliente ter um spread mais baixo no crédito à habitação se for associado.
Mas a isto há que juntar outra diferença. A oferta de poupança disponibilizada pela associação mutualista está regulada pelo Ministério do Trabalho e da Segurança Social, pelo que não beneficia do Fundo de Garantia de Depósitos, que assegura até 100 mil euros por depositante – uma questão que, durante os últimos anos, tem gerado grande preocupação junto dos associados devido à instabilidade vivida na associação, dona a 100% do Montepio.
O i sabe que há clientes que querem fechar as suas aplicações, mas as penalizações que estão a ser cobradas são demasiado elevadas e, por isso mesmo, acabam por desistir e manter os produtos financeiros. Há casos em que as penalizações chegam a atingir os 10% do montante que está aplicado e há produtos em que os clientes são obrigados a devolver os benefícios fiscais no caso de terem tido essa vantagem em anos anteriores.
A aposta numa remuneração superior em alternativa aos depósitos a prazo foi a regra seguida pelo banco, nos últimos anos, na oferta dos mais variados produtos mutualistas, e nem sempre os clientes estavam a par dessas diferenças, sendo agora confrontados com esses riscos e penalizações quando têm a intenção de mudar as suas poupanças de banco.
A reserva do banco é que poderá indemnizar os clientes em caso de falência. “Estas soluções mutualistas são muito semelhantes a um seguro de capitalização. Até têm a mesma fiscalidade, mas a autoridade que as regula é um ministério, portanto, o próprio governo”, chegou a alertar o economista António Ribeiro, da Deco.