Tecnologia. Depois do Pokémon Go! chega o jogo para caçar figuras bíblicas

Tecnologia. Depois do Pokémon Go! chega o jogo para caçar figuras bíblicas


Follow JC Go! é uma aplicação criada para “levar a fé a pessoas de todas as idades” e serve também como preparação para a Jornada Mundial da Juventude de 2019


Já se imaginou a apanhar personagens bíblicas ou até mesmo santos no meio da rua? Esse cenário já é uma realidade e vai ao encontro da febre do Pokemon Go!, um dos passatempos preferidos de muitos jovens em 2016 e que ainda hoje se sente, embora em menor escala. 

A aplicação criada pela empresa Niantic em que o objetivo passava por apanhar, lutar e treinar figuras chegou a todo o mundo e a receita continua a aumentar. Os números falam por si: a faturação da empresa cresceu em outubro 67% face a igual mês do ano passado, ocupando o sétimo lugar no top dos jogos nas lojas de iOS e android. 

Mas agora o desafio é outro e passa por procurar personagens bíblicas, santos, beatos e pessoas virtuais através do jogo Follow JC Go! (Seguir Jesus Cristo), um jogo para “levar a fé a pessoas de todas as idades”, como se pode ler na descrição da aplicação.

“A importância desta fórmula passa por tornar aliciante a forma de transmissão do Evangelho”, explicou ao i o padre Filipe Diniz, do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil.

A aplicação foi desenvolvida pela Fundación Ramón Pané, um grupo evangélico católico americano, e contou com a estreia por parte do Papa Francisco, em outubro. “O Papa não é uma pessoa muito tecnológica, mas está maravilhado, entendeu a ideia e o que estávamos a fazer: combinar a tecnologia com a evangelização”, contou Ricardo Grzona, diretor executivo da Fundación Ramón Pané, ao site católico Crux Now.

Para fazer parte deste mundo e calçar virtualmente as sandálias só é preciso inscrever-se e criar uma personagem. Aqui pode mesmo colocar-se uma fotografia da pessoa, o sítio onde mora e uma breve apresentação, para que outros crentes a possam conhecer. 

Depois é altura de dar a volta ao mundo, ou à rua, e descobrir figuras relacionadas com a   Católica através da câmara do telemóvel. E, como se trata de um jogo, apanhá-los não é assim tão fácil. 

O jogador precisa de demonstrar que conhece bem a figura que quer caçar para merecer que esta faça parte da sua e-team (equipas de evangelização), através de uma pergunta. 

O diretor executivo da fundação exemplificou ainda o desafio com uma pergunta de Moisés caso este fosse encontrado por um utilizador: “Fui eu quem disse: ‘Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?’ Se eles acertarem, a personagem junta-se à sua e-team.”

O objetivo é que se consigam cumprir mais facilmente os desafios individuais e coletivos propostos durante o jogo. “É interessante porque ajuda ao conhecimento da   e, por sua vez, este espírito de criar equipas de jovens e amigos”, explicou o padre.

“Nunca a   teve um projeto como este. É a aplicação católica com a tecnologia mais avançada que existe”, disse o argentino Ricardo Grzona.

O mapa semelhante ao da cidade onde o utilizador reside terá outdoors que, em vez de anúncios, contam com vídeos curtos de explicações bíblicas, e sempre que o jogador passar por uma   ou hospital, na vida real, é convidado a rezar ou a fazer doações para a Fundação Ramón Pané. 

O sucesso no jogo traduz-se em pão, água e denários, a moeda do jogo, baseada numa das moedas romanas antigas, que podem ser adquiridas através de doações para caridade, ver publicidade ou procurar dinheiro no mapa. No entanto, o jogador também tem de cuidar de si, tanto da parte física como da parte espiritual, associadas à nutrição, hidratação e oração. 

Os utilizadores podem ainda falar pelo chat e criar missões sociais que outros participantes possam completar. 

“Esta aplicação tem o sentido de permitir que jovens conheçam outros jovens cristãos pelo mundo e de dar a conhecer os seus países”, até porque o padre acredita que, “hoje, os jovens precisam precisam da comunicação e da relação, de se dar a conhecer e de conhecer outras pessoas.”

O desenvolvimento da aplicação acontece desde agosto de 2016. Quarenta e três designers, teólogos, especialistas na Bíblia, historiadores da igreja e engenheiros dedicaram cerca de 32 mil horas a produzir o jogo. Este foi financiado por patrocinadores e investidores privados e apresentado em Roma como ferramenta de preparação para a próxima Jornada Mundial da Juventude, que acontece no Panamá entre 22 e 27 de janeiro. 

“Esta aplicação não é propriamente oficial, é uma como tantas outras, esta com uma vertente mais de igreja que tem como principal intuito a evangelização”, explicou o padre Filipe Diniz.

O jogo está disponível para todos os sistemas operativos e é gratuito. No entanto, caso o utilizador queira comprar algum produto adicional, terá de pagar entre 0,99 e 7,46 euros. 

“Em género de brincadeira, os jovens com quem trabalho descarregaram a aplicação e disseram-me que a acharam muito interessante”, contou o padre. “Há a vertente da curiosidade, que é extremamente interessante porque, se falarmos de um jovem que nem tenha muita ligação à igreja, acredito vivamente que por um amigo lhe mostrar e comparar com o Pokemón Go!, isso lhe desperte algum interesse por estes temas.”

Embora todos já possam descarregar a aplicação, o i falou ainda com alguns padres portugueses que afirmaram não ter conhecimento do novo jogo ou saber muito pouco sobre este assunto. 

A igreja e a Inovação “Seria uma negligência por parte da igreja não tentar encontrar os jovens na tecnologia, nos lugares que visitam e nos gostos que têm”, disse Miriam Diez Bosch, diretora do Blanquerna Observatory on Media, Religion and Culture da Universidade Ramon Llull, de Barcelona, ao Notícias do Vaticano.

“Tudo, hoje, linguagem e relações entre os jovens passam por smartphones”, disse Grzona. “Queríamos estar aí e propor-lhes um jogo educacional que é religioso e interativo e com o qual eles pudessem formar equipas de evangelização.”

Segundo um estudo do mesmo observatório, apenas 4% dos jovens partilham conteúdos católicos e os temas que mais procuram são entretenimento, mundo do espetáculo e marcas de consumo. 

Uma ideia também partilhada por D. Paul Tighe, secretário do Conselho Pontifício da Cultura, durante a Web Summit, em Lisboa. “[A Igreja Católica] tem de estar presente nesta comunicação, não primeiramente para evangelizar, mas para tomar parte num diálogo”, disse, defendendo as ferramentas digitais como forma de “deixar sementes”, de evangelização. 

Já o padre Filipe Diniz disse também ao i que é importante a igreja procurar estes novos “métodos para estar dentro do mundo” e “apelar à curiosidade” dos jovens.