A capacidade inovadora, criativa e empreendedora dos portugueses, na minha opinião, de uma forma geral, resulta do nosso ADN, da cultura organizacional e histórica acumulada, fortemente consolidada através do conhecimento e experiência ao longo dos tempos, realidade esta bastante visível na nossa atividade coletiva relacionada com o mar.
Em diversos momentos, quer no presente quer no passado, Portugal destaca-se sempre pela sua capacidade de relacionamento com outros povos e culturas, de inovar e criar, de empreender soluções novas e arrojadas, evidenciando sempre a relação que tem com o mar, sendo este um fator diferenciador. Por isso dizemos que a política pública do mar é um “desígnio nacional”.
A escolha dos organizadores da Web Summit para continuar a fixar a sua realização nos próximos anos em Portugal/Lisboa ilustra as ótimas condições que oferecemos em infraestruturas, equipamentos, recursos humanos, turismo, o pujante e excelente ecossistema empreendedor, unidades de ensino e centros de I&D que certamente contribuem para conquistarmos a organização de eventos como este em Portugal.
Uma das grandes vantagens da realização da Web Summit em Lisboa é oferecer a oportunidade de expormos, numa grande montra internacional de investidores e empresas, as nossas capacidades e potencialidades, pelo que o empenhamento do governo da República, autarquias e entidades públicas e ou privadas é de louvar para que o seu sucesso seja alcançando.
Competindo ao governo negociar as condições e contrapartidas pelos apoios oferecidos à organização, este deveria ter procurado intentar que alguns dos temas da Web Summit focassem assuntos de áreas económicas nas quais o país pretende e assenta o seu desenvolvimento estratégico.
Ora, como sabemos do programa do governo, a economia do mar é um dos objetivos estratégicos. O mar é um desígnio nacional assumido que há muito tempo começou ou recomeçou a sua afirmação, sendo um dos exemplos o tema da Expo 98.
Assim, era expetável que a economia do mar fosse uma das “Web Summit’s 24 tracks” do evento.
Apesar de estar previsto dedicar uma ao surf, que consiste essencialmente na organização de um evento lúdico na Ericeira, a ausência de uma “Web Summit’s track” e de workshops subordinados à temática da economia do mar é uma enorme lacuna e um desaproveitamento estratégico para a valorização desta política pública.
Relativamente a esta matéria, o governo em geral deveria ter tido uma abordagem mais afirmativa e determinada com o organizador do evento, pois seria importante para ajudar nos esforços que a ministra do Mar, as diversas estruturas da administração pública, entidades, empreendedores, empresas públicas e privadas têm desenvolvido para pôr em prática a política pública do mar em Portugal.
Afirmar que o mar português é um desígnio determina que os esforços comuns devem ser concentrados e determinados, não sendo aceitável esquecê-lo. Apesar de tudo, e uma vez que está em Lisboa, saudamos a Web Summit 2018.
Gestor e analista de políticas públicas
Escreve quinzenalmente à sexta-feira