Uma confederação de estúpidos


O mistério de Tancos adensa-se, um memorando de cada vez, num retomar das melhores tradições da literatura de cordel


Bafejados pela sorte, encontrámos uma linda colecção de memorandos, abandonada em cima de uma cadeira num café lisboeta. Sorte nossa e do leitor, a quem nada escondemos.

1. SITREP Lisbon Station to Langley: “Roubo de armas do exército português constitui a primeira etapa de uma manobra orquestrada pela Federação Russa, através do GRU, para descredibilizar a NATO e as forças armadas dos Aliados. Depois dos roubos em Tancos, os agentes portugueses, comandados pelo célebre ‘Fechaduras’ (possivelmente, o mesmo perigoso operacional referenciado em França como ‘Clabots’), preparam- -se para roubar um submarino alemão do tipo 212 que aportará em breve ao cais do Portinho da Costa. Nosso informador garante que operação visa transportar submarino para a albufeira do Alqueva, chamar a comunicação social e mostrar assim a inutilidade das forças armadas dos Aliados. Operação teria o nome de código ‘Cavalo de Tróia’ e visa reforçar a posição de Putin antes da reunião com Trump a 11 de Novembro em Paris, celebrando o centenário do armistício. Recomendamos o maior cuidado na distribuição presente SITREP, não vá POTUS lembrar-se de apoiar operação russa como prova da ‘obsolete NATO’.”

2. SMS do cabo Martins da GNR de Alpiarça para o sargento Gomes da mesma Força na Chamusca: “Só para não pagarem o conduto à gente é que foram buscar o pessoal de Loulé. O que gastaram em gasolina dava para 15 grades de minis! E a gente fazia um trabalhinho limpinho e não esta porcaria, que só envergonha.”

3. Mail de Francisco para Catarina: “Está em curso uma tentativa de golpe de direita para provocar um levantamento dos militares com o objectivo de derrubar o governo da geringonça. É preciso denunciar os agentes provocadores. Ministro deve anunciar de imediato e com efeitos retroactivos a recomposição das carreiras de todos os militares e agentes militarizados. A Mariana que fale com o Centeno e que lhe explique que agora já não se pode pagar aos professores da Fenprof. Há guerras com megafones e guerras com balas. Ele há-de perceber.”

4. Post-it do assessor de imprensa para PM: “Estratégia de comunicação: o PM não sabia. O PM não sabe. O PM não saberá. E o PR não lhe disse nada.”

5. Memo dos SIS para o SIED: “A imprensa portuguesa não escreve nada de jeito. Vocês que têm gente a ler a imprensa estrangeira não nos querem dizer o que por lá se escreve sobre Tancos? Para evitar enganos, não se vá dar o caso de a grafia variar noutras línguas, vai o pedido soletrado: T-A-N-C-O-S.”

6. Memorando da Polícia Judiciária Militar para o chefe de gabinete do ministro da Defesa, edição revista: “Assinar e datar na linha tracejada, indicando número do cartão de cidadão e data de validade, antecedido da expressão lido e compreendido.”

7. Cartão do prof. Marcelo para o Presidente Marcelo: “Nuninho, tu não conheces o memorando, memorandos há muitos, há que colocar aí uns comentadores televisivos a referir o acompanhamento do assunto pelos serviços de informações, segredo de Estado e tal, tu tem mão nisto, não há necessidade de criar um Tancosgate!”

 

Escreve à sexta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990