Os medicamentos inovadores – todos aqueles que prolongam a vida dos pacientes ou introduzem melhorias à sua qualidade de vida e reduzem o encargo associado à doença na realização de tarefas do dia-a-dia – evitaram “mais de 110 mil mortes em Portugal desde 1990” e “contribuíram para o aumento de até 10 anos da esperança de vida”. Esta é uma das conclusões do estudo “O Impacto do Medicamento em Portugal”, ao qual o i teve acesso, e que será apresentado hoje no congresso “Compromisso com as Pessoas. Mais e Melhor Vida” no Centro de Congressos de Lisboa. Elaborado para a Apifarma – entidade que representa cerca de 120 empresas do setor farmacêutico – com a colaboração de consultores da McKinsey & Company, o estudo avalia os “impactos humanos e sociais” relativos a oito doenças: VIH/SIDA, Esquizofrenia, Artrite Reumatoide (AR), Diabetes, Cancro do Pulmão (NSC), Insuficiência Cardíaca Crónica (ICC), Cancro Colorretal (CCR) e Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), que representam “15% do peso total de doença em Portugal”. Porquê estas? Porque 20% da população é afetada por uma ou mais doenças deste grupo e, além disso, são exemplos em que os medicamentos foram “transformadores”, uma vez que mudaram o curso da doença, ajudaram a “controlar ou diminuir fortemente os efeitos” ou, apesar de terem sido “significativos”, persistem necessidades que não conseguem satisfazer.
Mais anos de vida saudável
Segundo o mesmo estudo, os medicamentos acrescentaram dois milhões de anos de vida saudável em Portugal desde 1990 – 180 mil, só em 2016. Os anos de vida saudável acrescentados nesse ano equivalem a 5-7 mil milhões de euros por ano, um valor que ultrapassa o gasto total em medicamentos, avaliado em 3,8 mil milhões de euros. Além disso, a inovação farmacológica trouxe, na prática, uma vida melhor para os doentes: as evidências apontam para uma redução de sintomas e efeitos secundários, bem como para tomas menores e menos frequentes – vantagens que resultam em tempo de qualidade para o doente.
Mas o estudo mostra também o significado que essa inovação teve no caso específico de cada uma das doenças contempladas. No caso do VIH, a introdução de terapia antirretroviral, a partir de 1996, permitiu transformar “uma doença fatal numa doença crónica e controlável”, poupando até 22 mil vidas. A par disso, a esperança média de vida de pessoas diagnosticadas com VIH/Sida tem vindo a aumentar, e hoje, segundo as projeções, equivale quase à esperança média de vida de uma pessoa saudável – o relatório assinala que a diferença existente em relação à restante população está perto de 0%. Quanto ao cancro colorretal, apesar da prevalência continuar a aumentar, o número de mortes não acompanha essa tendência, graças à introdução, em 1990, da quimioterapia como terapia adjuvante, a par da introdução, em 2006, de inibidores de angiogénese. O cancro no pulmão, por sua vez, tem vindo a registar taxas de sobrevivência mais elevadas, sendo a quimioterapia, a par de outras terapias, a principal responsável. Se no período de 2000-2004 a taxa de sobrevivência não passava de 10,6%, no período de 2010-2014 a taxa de sobrevivência estava fixada em 15,7%.
Em doenças que não têm risco de morte associado, o estudo mostra como a inovação ao nível dos terapias tem possibilitado uma melhor qualidade de vida. Graças ao desenvolvimento dos antipsicóticos, um doente esquizofrénico, hoje, não precisa de estar internado. No caso dos doentes diagnosticados com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica, os agonistasbeta2 de ação curta tiraram-nos das camas de hospital e deram-lhes independência, garantindo cerca de 20 anos sem complicações. Na diabetes, a criação de melhores opções de tratamento garantiu que uma maior percentagem de doentes realizam o tratamento. No caso da artrite reumatoide, se o diagnóstico significava perda gradual de mobilidade e dor e inflamação dificilmente controláveis, os fármacos hoje existentes garantem um controlo muito superior da doença; como o estudo avança, “entre 2009 e 2015, a quota de doentes com a doença controlada em Portugal aumentou de 34% para 46%”. A inovação farmacológica tem permitido aos doentes, também, evitarem a reforma antecipada – um cenário que se verificava cerca de três anos após o surgimento da doença, de acordo com os dados do estudo.
impacto económico Os medicamentos inovadores trazem melhorias também ao bolso dos portugueses. O estudo destaca em particular como a qualidade de vida que advém dos fármacos permite aos doentes manterem-se ativos, o que se traduz num aumento de rendimento anual estimado em 240 milhões de euros – o que corresponde a mais de mil euros por mês a cada doente.
No que diz respeito a gastos com a saúde – referentes a consultas e hospitalizações, por exemplo -, os medicamentos inovadores, no conjunto das oito doenças analisadas, garantem uma redução de custos em cerca de 560 milhões de euros todos os anos.
Por fim, o impacto económico da indústria farmacêutica é igualmente positivo: representa 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB), acrescentando 4,3 mil milhões de euros ao PIB português.