Bolsonaro vai criar um superministério da Economia para Paulo Guedes

Bolsonaro vai criar um superministério da Economia para Paulo Guedes


Presidente eleito atacou a “Folha de São Paulo” em entrevista na Globo: “Por si só, esse jornal já acabou”


O governo de Jair Bolsonaro, eleito no passado domingo presidente do Brasil, vai mesmo ter um superministério da Economia, que engloba as pastas das Finanças, Planeamento, Indústria e Comércio Externo, e que será dirigida pelo responsável do seu plano económico de governo, Paulo Guedes.

Guedes e Onyx Lorenzoni, escolhido para ministro da Casa Civil e coordenador da equipa de transição, reuniram-se ontem para acertar pormenores do novo governo e confirmaram outra ideia que tinha sido assumida na campanha, a Agricultura e o Meio Ambiente vão fundir-se numa mesma pasta. A decisão parece retomar a primeira ideia defendida por Bolsonaro na campanha de querer reduzir o número de ministérios, dos atuais 29 para 15. Algo que, posteriormente, o agora presidente eleito admitiu que podia não se concretizar, caso deixasse sem fusão estes dois ministérios.

Questionado sobre a pressão do setor industrial para que o Comércio Externo se mantivesse autónomo, Guedes respondeu: “Nós vamos salvar a indústria brasileira apesar dos industriais.

 

Liberdade de imprensa

Entretanto o jornal “Folha de São Paulo” percebeu que vai ter a vida difícil durante o mandato de Jair Bolsonaro, que começa em janeiro do próximo ano. Em entrevista ao principal telejornal da Globo, o presidente eleito garantiu ser “totalmente favorável à liberdade de imprensa”, ao mesmo tempo que mostrava o azedume por aquilo que ele acha ser a perseguição que lhe foi movida pelo jornal de São Paulo durante a pré-campanha e a campanha eleitoral. 

Bolsonaro negou que a sua vontade seja acabar com o órgão de comunicação social, mas não resistiu a acrescentar que “por si só, esse jornal já acabou. Não tem prestigio. Quase todas as fake news que se propagaram contra mim vieram da ‘Folha de S. Paulo’”.

Bolsonaro referiu-se especificamente ao caso de Walderice Santos da Conceição, uma funcionária “fantasma” do então deputado federal, que surgia na folha de pagamentos do seu gabinete, mas que não exercia qualquer serviço na Câmara de Deputados. O presidente eleito defendeu-se, garantindo que a funcionária estava de férias quando a jornalista passou por lá, algo que o diário nega, pois tentou encontrá-la em ocasiões diferentes e nunca conseguiu. No Congresso, porque na rua, na loja de Açaí que tem junto à casa de férias do deputado em Mambucaba, foi fácil encontrá-la todas as vezes e a própria confirmou que estava sempre ali à atender na loja.

Walderlice demitiu-se, entretanto, e Bolsonaro não se conforma. “No que depender de mim, na propaganda oficial do governo, imprensa que se comportar dessa maneira, mentindo descaradamente, não terá apoio do governo federal”, garantiu o presidente eleito.

Uma promessa que lista a outras como combater o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, que, diz o presidente, desrespeitam a lei e com quem, por isso, é impossível dialogar. Quanto à lei de posse de armas, a expectativa é alterar a lei ainda este ano, antes da tomada de posse a um de janeiro, para que a idade legal mínima seja 21 e não 25 anos, como atualmente. “Há um estado de guerra. A efetiva necessidade está comprovada pela violência. Arma de fogo garante a liberdade de uma pessoa”, garantiu.

Também na segunda-feira, Bolsonaro assumiu que vai trabalhar na aprovação de pelo menos parte da reforma da previdência, proposta iniciada pelo presidente Michel Temer e que Bolsonaro, durante a campanha, tinha dito que não teria futuro.   

 

Justiça

Durante a entrevista, Bolsonaro não deixou passar em branco a vontade de nomear Sérgio Moro, juiz responsável pelo processo da Operação Lava Jato, como ministro da Justiça, ou para integrar o Supremo Tribunal Federal. A conversa entre os dois deverá acontecer em breve, embora o presidente eleito não tenha especificado datas. Sublinhou que Moro é uma pessoa “de extrema importância num governo como o nosso”, além de salientar que “a corrupção tem de ser banida, ninguém suporta conviver mais com essa prática tão nefasta”.

No entanto, o juiz, que é a figura mais destacada na investigação de anticorrupção do Brasil, não se manifesta sobre o convite. Quando questionado sobre se já foi procurado pelos emissários do presidente, o juiz respondeu à “Folha de S. Paulo” que “não tem comentário”.